Um dos meios de transporte mais usados na capital do país, o metrô recebe, em média, 160 mil pessoas todos os dias. Com tanta gente em diversos momentos, não é incomum que alguns objetos sejam esquecidos, principalmente nos horários de maior circulação pelas estações. Mas o que acontece com aquele documento importante ou o objeto estimado depois que se perde em um vagão?
Para lidar com tantas ocorrências de itens deixados pelos terminais do Distrito Federal, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) possui um atendimento para ajudar os passageiros a encontrarem o que deixaram pelos vagões e estações. As ocorrências são numerosas. Somente nos primeiros dois meses deste ano foram registrados 1.259 objetos e documentos no sistema. Por ano, são catalogados por volta de cinco mil objetos no Posto Central de Objetos Achados e Perdidos (PCOAP), que funciona na Estação Galeria dos Estados, desde 1.998.
A coleta é feita nas próprias estações onde são encontrados. Demora cerca de uma semana para que todo o processo seja feito até que o item encontrado seja enviado ao posto. Com isso, o depósito de 50m² fica abarrotado dos mais variados objetos. Mas, se são altos os registros de coisas esquecidas, também é elevado o índice de devolução, que é de aproximadamente 70%.
De alicates a violões
Os objetos encontrados são variados. Segundo o Metrô-DF, há todo tipo. Os itens mais comuns são cartões bancários e carteiras de identidade, armazenados em dezenas de pastas de documentos. "Mas há itens inusitados, como carrinhos de bebê, dentaduras, muletas, cadeiras de rodas, bicicletas e muitos outros", explica o órgão, em nota, ao Correio.
A reportagem esteve no local e constatou que é possível encontrar de tudo mesmo. Em uma visita rápida ao Achados e Perdidos, é possível visualizar a diversidade de itens. Nas primeiras estantes, é possível esbarrar com caixas lotadas de chaves dos mais variados tipos, formatos e tamanhos, assim como cadeados e chaveiros. Andando mais um pouco, chegamos ao depósito principal. Nas prateleiras deles, encontra-se sempre algo surpreendente.
Na entrada, está disposta uma grande quantidade de objetos. Você pode encontrar socos ingleses, ferramentas, luvas de boxe e até mesmo um violão. Andando mais um pouco, podemos ver muitas malas, algumas de tamanho considerável, esquecidas pelos usuários em diversos locais.
Mas o que chamou a atenção da reportagem foi uma coleção de dentaduras. Elas ficam ali, esperando serem encontradas. Alguns passageiros juram que são donos de algumas delas, mas, sem a descrição do objeto e a data da perda, não há muito a fazer.
Há um painel que guarda cédulas diversas em relação a tempo e nacionalidade. Lá, é possível encontrar as famosas e antigas notas de um real. Também é possível ver uma nota de dois Cedi ganês, ou ainda dez rands sul-africanos.
Sem documento
A dona de casa Goslingela Maia, 58 anos, passou por uma grande dor de cabeça depois que perdeu a identidade em uma das estações, na volta para casa, há cerca de dois anos. "Voltei para buscá-la na mesma hora, mas nem sinal dela. Deu uma baita confusão, porque tive que tirar outra", disse a moradora de Ceilândia.
Aí começaram os problemas. Para emitir outro documento, foram 55 dias na espera. "Me mandaram para a 15ª DP (Ceilândia Centro) e, de lá, para a Samambaia. Tirei com muito custo e precisava do documento porque estava fazendo um tratamento hospitalar", lembrou. Desde então, ela redobra o cuidado na hora de usar o metrô. "Presto mais atenção ao que estou carregando. Até a sombrinha fica sempre na bolsa", disse Goslingela.
Perda inestimável
Usuária assídua do sistema metroviário da capital, a professora aposentada Neuma da Silva, 75, já perdeu muitos objetos significativos. São tantos, que ela mal consegue se lembrar de todos. "Já perdi guarda-chuvas, bolsas, casacos, etc. Acho que é por conta da correria. Fico com pressa de sair logo. Quando me dou conta, vejo que esqueci algo importante", explicou.
Para a moradora de Taguatinga, o pertence perdido que mais sentiu foi um celular. Ela conta que guardava boa parte da vida no aparelho e que a perda foi inestimável. "Me desesperei. Tinha todas as minhas coisas lá anotadinhas. Guardava fotos de pessoas queridas, meus compromissos estavam marcados, tinha contatos importantes... Queria chorar", relembrou.
Anotações pessoais
A comunicadora Keyla Reis, 39, não esquece nada no metrô há algum tempo, mas um objeto perdido em 2012 ficou marcado na memória dela. A moradora de Ceilândia fazia um curso de revisão textual e guardava todas as anotações em um caderno. Até que um dia, ao deixar o vagão, teve uma péssima surpresa. "Foi a penúltima aula. Aquele caderno para mim era tudo. Coloquei no banco ao lado e, na hora de descer, esqueci", lembrou.
Mesmo fazendo todo tipo de contato para reaver o objeto, ela não teve sucesso e, ainda depois de 11 anos, Keyla lembra do transtorno que passou. "Foi horrível, porque era a minha vida e tudo que tinha aprendido. Acabou que não usei nenhum recurso para gravar as aulas. Me senti muito triste e até hoje não superei", relata.
Garrafa com nome
A jovem Ábia Larissa, 22, também não teve muita sorte no metrô. No momento em que a nossa equipe de reportagem apurava esta matéria, ela estava no Posto de Objetos Achados e Perdidos, à procura de uma garrafinha d'água esquecida há cerca de duas semanas. E não era qualquer uma: ela havia ganhado da mãe no aniversário de 21 anos. "Tem meu nome nela. Fui muito cuidadosa para não perder. Vim aqui e não a encontrei", lamentou.
Ainda que tenha perdido a garrafa, Ábia relata que não consegue prometer que vai tomar mais cuidado, já que ela perde objetos com frequência no transporte público. "Não sei o que acontece comigo que perco as coisas, principalmente no metrô. Talvez tenha que comprar uma mochila com mais bolsos para guardar os objetos e não andar com um monte de coisas na mão", brincou a estudante.
*Estagiário sob supervisão de Patrick Selvatti
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- Caso suspeite que perdeu algo em alguma estação, procure qualquer funcionário da Companhia para obter informações
- Caso encontre o material perdido, pode retirá-lo no próprio local
- Se não encontrar o item, após 7 dias, pode procurar o atendimento na Estação Galeria ou pesquisar no site
- Os itens encontrados ficam sob a posse do Metrô-DF por até 180 dias. Depois disso, se estiverem em boas condições, são doados para instituições conveniadas ao Governo do Distrito Federal (GDF)
Posto Central de Objetos Achados e Perdidos
Funcionamento: Segunda a sexta-feira. Das 7h30 às 11h e de 12h às 16h30
Local: Estação Galeria do Metrô-DF
Mais informações: (61) 3353-7337