Jornal Correio Braziliense

Democracia sob ataque

CPI da Câmara Legislativa se reúne com ministro Alexandre de Moraes

Os membros da comissão da CLDF que investiga os atos antidemocráticos se encontram com o ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes, às 10h, para pedir acesso a documentos relacionados aos episódios de 8 de janeiro

Em mais um passo nas investigações, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) se reúne nesta quarta-feira (29/3), às 10h, com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

O presidente da Comissão, deputado distrital Chico Vigilante (PT) adianta que a CPI enfrenta algumas dificuldades com as pessoas que estão sob investigação do STF, que não estaria compartilhando com os membros da comissão a documentação que tem. "Estamos indo ao ministro Alexandre de Moraes para dizer, pessoalmente, a responsabilidade que temos com essa CPI, além do porquê de entendemos que é importante o compartilhamento das investigações feitas pelo Supremo até agora, respeitando os processos sigilosos", destaca.

"Como relator dos inquéritos que investigam atos golpistas, Alexandre de Moraes é uma figura importante para a CPI, e a colaboração do STF é essencial para avançarmos de maneira eficaz com os trabalhos", completa.

O Correio apurou que, dos sete membros titulares, dois pediram para serem substituídos pelos suplentes no encontro, que será no TSE. O deputado Robério Negreiros (PSD) e a deputada Jaqueline Silva (sem partido) serão representados pelos distritais Martins Machado (Republicanos) e Paula Belmonte (Cidadania), respectivamente.

Alinhamento

Relator da CPI, o deputado Hermeto (MDB) informa que outros temas em pauta na reunião com Moraes serão a convocação do ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, preso desde que desembarcou no Brasil, em 14 de janeiro, e de oficiais do Exército, para depor em plenário, além devisitas aos detidos em razão dos atos de vandalismo."Na prática, o ministro e a CPI buscam responsabilizar os envolvidos nos atos. Essa visita é para tratarmos de assuntos em comum", frisa.

Questionado sobre o que a comissão deve apresentar ao ministro, em relação aos depoimentos ouvidos na CLDF, o relator diz que a CPI não pode ser injusta com ninguém. "Passaremos as impressões que temos tido, entre elas, a de que a PMDF tem sua culpa, mas essa responsabilidade deve ser dividida com uma série de erros, incluindo a manutenção do acampamento em frente ao QG do Exército e a a interferência de oficiais, evitando a retirada dos manifestantes e também impedindo a polícia de efetuar prisões em 8 de janeiro", antecipa Hermeto.

O deputado Fábio Félix (PSol) comenta sobre a importância do encontro. "Isso é para que possamos gerar mais fluidez na relação da CPI com o Supremo", aponta o parlamentar. É urgente apurar se autoridades públicas participaram de um plano golpista contra a democracia. Esperamos, também, que a conversa com o ministro viabilize o acesso a documentos importantes para que a CPI possa cumprir seu papel", observa Félix.

Oitivas

A sexta reunião ordinária da CPI, marcada para esta quinta-feira (30/4), vai ouvir o tenente-coronel da PMDF Jorge Henrique da Silva Pinto, que teria alertado a respeito dos atos antes de 8 de janeiro. O oficial da PMDF estava em um grupo de WhatsApp denominado "Difusão", que servia para o repasse de notícias sobre manifestações na capital federal.

O calendário de oitivas da CPI para abril também está definido  (veja calendário abaixo). Os primeiros a falar, no dia 4, serão os empresários do ramo varejista-atacadista no DF Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio de Mesquita, que teriam sido responsáveis pela contratação de um trio elétrico para os atos de 8 de janeiro. 

A comissão aprovou ainda requerimento para convocar o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI); o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto; e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Marco Edson Gonçalves Dias.

Depoimentos marcados para abril

4/4Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio de Mesquita, empresários que teriam contratado um trio elétrico para os atos de 8 de janeiro;

13/4Coronel Cíntia Queiroz de Castro (PMDF), subsecretária de Operações Integradas da SSP-DF, que declarou à Polícia Federal que a PM não fez o “devido planejamento”;

20/4Tenente-coronel Paulo José (PMDF), que, em 8 de janeiro, estava no lugar do então comandante do Departamento Operacional (DOP) da PM, coronel Jorge Eduardo Naime; e coronel Fábio Augusto Vieira (PMDF), comandante-geral da corporação no dia dos atos;

27/4Alan Diego dos Santos e George Washington de Oliveira Souza, envolvidos na tentativa de explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro.