O Grupo Via Sacra realizou, neste domingo (26/3), o último encontro antes da encenação sobre a vida, a crucificação e a ressurreição de Jesus, no Morro da Capelinha, em Planaltina. A apresentação acontecerá no mesmo local do ensaio, na Sexta-Feira Santa, 7 de abril, com início previsto para às 14h30. Cerca de 1.400 pessoas estão envolvidas no projeto, que conta com atores, coordenadores, cenografia e figurantes. A expectativa de público varia de 70 a 150 mil pessoas.
Neste ano, a tradicional Via Sacra completa 50 anos de existência. O coordenador geral da apresentação, Preto Resende, 64 anos, está há quase 4 décadas participando da encenação que representa a vida e morte de Jesus. Nos ajustes finais da preparação, ele destaca que, nesta edição, a passagem bíblica tida como tema está presente no livro de Lucas 1:49 — "Porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo".
“Nós sempre tivemos um lema: realismo, emoção e fé. Mas, assim como nos outros anos, também fizemos a escolha de um texto da Bíblia. Para este, decidimos que fosse o de Lucas”, detalha. Depois de um hiato, em razão da pandemia de covid-19, a Via Sacra volta para o segundo ano consecutivo de encenação.
Preto Resende diz que a espera para colocar em prática tudo o que foi treinado nos ensaios está enorme. O ciclo de encontros entre todo o grupo encerrou-se neste domingo. Agora, haverá ensaios menores ao longo da semana que antecede a apresentação.
Principal personagem
Ele começou como apoiador da Via Sacra e trabalhou nos bastidores do evento. No entanto, há praticamente uma década, foi entregue a Marcelo Augusto Ramos, 35, interpretar Jesus de Nazaré na Via Sacra.
“É uma experiência que mudou totalmente a minha vida. É algo muito grandioso de ver e de participar”, relata. A rotina de ensaios, vivida arduamente durante 40 dias ininterruptos, tem sido difícil, mas é recompensadora. Entre os estudos e o transporte de Arniqueira — local em que reside — até Planaltina, é complicado. Mas, mesmo com os obstáculos, ele se diz muito feliz por estar mais uma vez protagonizando na peça.
Ator amador, ele é católico desde pequeno. Crismado, batizado e casado na igreja, tem uma vida completamente devota à religião. Na hora da atuação, principalmente no momento em que é flagelado, tudo é de verdade e “dói” bastante como o mesmo afirma. Antes, o chicote era usado em câmera lenta. Mas, desta vez, será mais real e impactante.
Para esta edição, Marcelo diz que o grupo está empenhado para mostrar o trabalho de suas vidas. “Esse ano vai ser especial, temos grandes atrações e muitas surpresas”, reitera. Aos que não assistiram ainda, o ator convida todos para uma grande experiência sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus.
Mergulho na fé
Maria, mãe de Jesus, também se faz presente como protagonista. Para representar esse importante papel, Milena Guimarães, 45, descreve a emoção que é poder participar de algo tão bonito quanto a Via Sacra. “É uma coisa inexplicável. Me faltam até palavras para falar sobre tanto sentimento. Encenar sobre a vida da mulher que mudou toda a história da humanidade não tem preço”, ressalta.
Desde a adolescência assistindo a história de Jesus ao vivo no Morro da Capelinha, Milena, por algum tempo, deixou de participar, mas volta, pelo quarto ano seguido, interpretando Maria.
Para garantir a qualidade na atuação, Milena revela que transitou, além do mergulho na própria espiritualidade, em estudos, séries e tudo que envolvesse a história de Maria, para continuar aprendendo ainda mais sobre a personagem. “Leio livros, estudo a Bíblia, mas a inspiração também parte da oração. Peço a Maria licença para representar um pouco do que ela foi”, finaliza.
Fiéis
No sol escaldante de meio-dia, os devotos marcaram presença para assistir ao último ensaio antes do espetáculo. A aposentada Maria Rodrigues, 58, mora no Arapoanga. Fã da Via Sacra desde quando era criança, comparecer ao evento nesta época do ano é uma tradição.
No entanto, em anos anteriores, complicações de saúde não lhe permitiram contemplar a apresentação. Uma dor no joelho ainda causa algumas preocupações. Mas, mesmo assim, não consegue deixar de acompanhar. “Quando eu era mais jovem, subia esse morro aqui todinho. Mas chegou a idade e as coisas foram mudando um pouco. Até grávida de três meses eu subi aqui. Paguei promessa e tudo”, relembra, em tom descontraído.
Ao lado dela, a técnica em nutrição Edinalva Lúcia Ribeiro, 61, nasceu em Planaltina e vive no berço da Via Sacra desde sempre. Quando jovem, subia o morro por meio de uma corda que ficava no local, no passado. Depois da pausa em razão da crise sanitária, essa é a primeira vez que retorna para o espetáculo.
“Acho tudo muito emocionante. No ensaio, chorei horrores. É algo que toca muito, no dia vai ser mais lindo ainda”, comenta. Na encenação, promete comparecer com toda a família. Edinalva se diz ansiosa, porque o espetáculo tem uma estrutura de alto nível, com fogos e um belo figurino. “Se Deus quiser, estarei aqui para ver”, completa.