Jornal Correio Braziliense

Crime

PCDF descarta novos envolvidos em atentado a bomba no Aeroporto de Brasília

Réu por planejar, com dois outros comparsas, a explosão de um caminhão-tanque nas proximidades do Aeroporto de Brasília, Wellington Macedo segue foragido. As ações dos investigadores se concentram em outros estados

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) mantém diligências para tentar encontrar o blogueiro Wellington Macedo de Souza, 47, o único foragido da tentativa frustrada de explodir o Aeroporto Internacional de Brasília na véspera do Natal. Segundo fontes da polícia, o terrorista não está no Distrito Federal e as ações se concentram em outros estados.

Wellington era monitorado por tornozeleira eletrônica desde outubro de 2021, quando foi preso um mês antes por participar de uma manifestação em apoio do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 7 de setembro. Com esse monitoramento, foi possível concluir que o blogueiro dirigiu o veículo até as proximidades do aeroporto para que o comparsa Alan Diego dos Santos Rodrigues, 32, colocasse o material explosivo no caminhão-tanque.

"Atualmente, não temos informações sobre o paradeiro do Wellington, que permanece foragido. O que estamos fazendo é trabalhando com o apoio de polícias de outros estados, assim como a Polícia Federal, para tentar alcançá-lo. Não há como revelar informações, pois pode comprometer o trabalho da polícia. Mas, seguimos o trabalho de encontrá-lo", disse, ao Correio, Leonardo de Castro Cardoso, diretor do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor).

Mesmo com a prisão de dois envolvidos no ato terrorista, George Washington de Oliveira Sousa, 54, e Alan Diego, as investigações à caça do blogueiro continuam. Os três são réus na Justiça, mas apenas Wellington segue foragido. Logo após posicionar o explosivo no caminhão, por volta das 3h15 daquele sábado, 24 de dezembro, todos planejaram fugas individuais.

Enquanto Alan e Wellington conseguiram escapar, George não obteve o mesmo sucesso, sendo preso, no dia 24, em um apartamento alugado no Sudoeste — apesar de ter iniciado os trâmites para fugir de Brasília. Nesse apartamento, a polícia encontrou um arsenal. Ele gastou mais de R$ 170 mil com a compra de armamentos e munição. Alan se entregou à polícia em sua cidade natal, em Comodoro, no Mato Grosso, em janeiro. Monitoramento de placas de veículo mostram que Wellington seguiu com o veículo da esposa, em direção a Mato Grosso do Sul.

O blogueiro, antes de ser denunciado e se tornado réu no processo que tramita na 8ª Vara Criminal de Brasília, trabalhou no então Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, como assessor da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, da ex-ministra e senadora Damares Alves (Republicanos). Entre os meses de fevereiro a outubro de 2019 — período que trabalhou no ministério, Wellington era responsável por despachar medidas que iam desde a destinação de verbas para custear viagens de serviço à contratação de uma empresa para transportar "bagagens para todas as regiões dentro do Brasil e transporte de veículo do tipo automóvel e motocicleta dentro do território nacional", como constava no site do ministério.

O ex-assessor acumulou, ao longo dos oito meses no Ministério da Mulher, cerca de R$ 82 mil em salários. Graças ao Portal da Transparência, o Correio constatou que Wellington também requereu e recebeu cinco parcelas do auxílio emergencial de R$ 600, em 2020. A reportagem não conseguiu contato com a defesa do blogueiro.

Reprodução/Redes sociais - Blogueiro Wellington Macedo de Souza, 47, é o único foragido da tentativa frustrada de explodir o Aeroporto de Brasília
Reprodução/Twitter - O eletricista Alan Diego foi transferido para a Papuda
PCDF/Divulgação - 25 de dezembro de 2022

Sem mais envolvidos

Um inquérito sigiloso foi aberto na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado, subordinada à Decor, da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), para identificar se haveria mais envolvidos no planejamento do atentado à bomba. No depoimento, George contou aos investigadores que veio a Brasília para participar dos protestos que ocorriam em frente ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU). Lá, em 22 e 23 de dezembro, ouviu planos ousados de manifestantes, que sugeriram dois lugares para explosão: no Aeroporto de Brasília e uma subestação de energia em Taguatinga.

"No dia 22/12/2022, vários manifestantes do acampamento conversaram comigo e sugeriram que explodissem uma bomba no estacionamento do Aeroporto de Brasília, durante a madrugada, e em seguida fizéssemos denúncia anônima sobre a presença de outras duas bombas no interior da área de embarque", detalha trecho do depoimento de George.

"E no dia seguinte (23/12/2022), uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia de Taguatinga, para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio", disse. "Eu fui ao local apontado pela mulher em Taguatinga, em uma Ford Ranger branca, de um dos manifestantes do acampamento, mas o plano não evoluiu, porque ela não apresentou o carro para levar a bomba até a transmissora de energia", acrescentou George.

A mulher citada no depoimento do terrorista desistiu da ideia e foi substituída por Alan, de acordo com George. Ao Correio, o diretor da Decor esclareceu que não foi possível avançar em novos nomes. "As investigações foram concluídas com George, Alan e Wellington mesmo. Apesar do inquérito (sigiloso), (a apuração) não evoluiu para novos envolvidos", esclareceu. Alan e George deverão ser ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em 27 de abril.