A alta nos casos de crianças hospitalizadas por doenças respiratórias foi tema do CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — desta terça-feira (21/3). A secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Florêncio, afirmou que o cenário na capital é uma temporada agressiva de infecções do vírus sincicial respiratório (VSR).
Para lidar com isso, a pasta está reforçando o número de pediatras disponíveis na rede pública. Lucilene também comentou sobre o mutirão de cirurgias eletivas, que pretende reduzir a fila de espera em 60%.
Há uma questão em relação a pediatria. Estamos vivendo um surto de vírus que atinge as crianças? O que está acontecendo?
Temos o vírus sincicial respiratório (VSR). Ele tem uma circulação anual no mundo inteiro. Este ano, chegou para nós no final de novembro. O vírus veio com mais agressividade para as nossas crianças, principalmente aquelas com menos de 2 anos. Por que essa agressividade? Primeiramente, porque nós ficamos com nossas crianças dois anos em isolamento. Elas estavam recolhidas em casa. Também não podemos deixar de salientar a cobertura vacinal. Nós precisamos aumentá-la nas doenças imunopreveníveis, porque se nós tivéssemos crianças expostas a outras com o calendário vacinal completo, esse vírus seria menos agressivo.
Quais são os sintomas? O que está sendo feito para lidar com isso?
É uma doença com sintomas gripais e que muito rapidamente provoca dificuldade para respirar. Primeiramente, precisamos fazer o reforço da mão de obra. É sabido que no Brasil inteiro nós temos uma escassez de mão de obra em pediatria. Hoje, na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, temos 510 pediatras nos níveis de atenção secundária e hospitalar. Na atenção primária, nós temos os médicos de família que compõem as nossas 616 equipes de estratégia. Dessas, 582 têm em sua composição médicos de família. Isso é uma porta de entrada para as nossas crianças. Só depois vamos para a atenção secundária, onde ficam os nossos pediatras especialistas. Hoje (ontem), pela manhã, nós fizemos um redirecionamento. Conversei com esse último grupo para que nós priorizássemos a pediatria geral nesses ambulatórios. Quando nós vamos para a atenção hospitalar, temos os hospitais da rede que têm pediatria, com exceção do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), o Hospital São Vicente de Paulo e o Hospital do Gama. Esses hospitais não têm emergências em pediatria. Porém, nós fazemos uma redistribuição na rede. Abrimos 10 leitos de UTI pediátrica no Hospital da Criança (HCB), por meio de um credenciamento de leitos, feito por intermédio de um aditivo no contrato; cinco leitos de pediatria da UTI do Hospital Regional de Taguatinga (HRT); cinco leitos pediátricos no Hospital de Base; aumentamos o número de leitos da pediatria e enfermaria no Hospital Materno Infantil (Hmib). O HCB fica com alta complexidade e o Hmib fica, com a baixa e com a pediatria geral. Hoje, o Hmib tem 71 pediatras. A UPA de São Sebastião começou a atender pediatria. Isso foi um aditivo que também fizemos no contrato do Instituto de Gestão Estratégica do DF (Iges-DF). Habitualmente, temos 60% de demanda programada e 40% espontânea. Pedi que ficasse 50% de demanda espontânea e 50% programada, e que todos os diretores de atenção primária das sete regiões de saúde priorizassem os atendimentos das crianças nessas unidades básicas.
Qual é o cuidado que os pais precisam tomar com esse vírus circulando ?
Nossa orientação, primeiramente, é que as crianças estejam com o calendário vacinal completo. Então, procurem uma das nossas 124 salas de vacina. Temos todas as ofertas dos imunopreveníveis e imunobiológicos. Fomos ao Zoológico de Brasília, fomos ao Eixão, vamos às escolas, vamos aos shoppings, feiras, etc. Nós temos a vacinação itinerante, que é o carro da vacina, não só na região oeste, na Ceilândia, mas em todo o DF. Se a criança estiver sintomática, gripada, com febre e houver possibilidade de não levar para o convívio com outras crianças, quer seja em parquinho, na escola, na creche, deixe-a em casa, para que ela não esteja circulando ainda mais o vírus. Além disso, é preciso se hidratar bastante, alimentar-se bem, e o responsável precisa ficar atento se houver maior gravidade. Procure nossos pronto-socorros e vá às unidades básicas de saúde próximas a sua casa. A UPA de São Sebastião, por exemplo, atende a pediatria. O ideal é que esteja vigilante para que não haja o aumento da gravidade e chegue em um momento crítico.
Em decorrência da pandemia, houve uma alta na demanda por cirurgias eletivas na rede pública de saúde. Como está essa fila? O que o GDF está fazendo para atender as pessoas que estão esperando?
O enfrentamento da fila de cirurgias eletivas é uma pauta do DF e nacional. Nós temos, hoje, no Distrito Federal, 32 mil pessoas aguardando na fila por algum tipo de cirurgia eletiva, nas várias especialidades. Essa demanda sempre (foi alta) e a pandemia fez com que ela crescesse ainda mais. Estamos fazendo algumas ações para enfrentar essa situação. Houve um aporte de R$ 24 milhões por parte da Câmara Legislativa (do DF) para a realização das cirurgias. Também temos um projeto do Ministério da Saúde, para o enfrentamento das filas de consultas e exames. O Distrito Federal será contemplado com R$ 9 milhões. O que nós estamos fazendo? Primeiro, estamos reforçando a rede. Chamamos 1.235 servidores, candidatos que foram aprovados num concurso em setembro. No geral, 68% tomaram posse. Tivemos administradores, contadores, 22 especialidades médicas, farmacêuticos, odontólogos, etc. Dos 436 médicos que nós chamamos, apenas 50% tomaram posse. Vamos chamar hoje (ontem) mais 220 médicos. O processo já está pronto. Queremos até sexta-feira estar com eles de vacância.
"Habitualmente, temos 60% de demanda programada e 40% espontânea. Pedi que ficasse 50% de demanda espontânea e 50% programada, e que todos os diretores de atenção primária das sete regiões de saúde priorizassem os atendimentos das crianças nessas unidades básicas"
Pode falar mais sobre o mutirão para a realização das cirurgias eletivas?
Nesse rol de convocações, chamamos agora mais 60 pediatras, no intuito de aumentar a força de trabalho para o enfrentamento dessa situação.
Também há um deficit de anestesistas, certo?
A anestesiologia é um caso bastante delicado. Não há como acelerarmos e fazermos mais cirurgias, se não temos anestesiologistas. A minha condução em relação a isso foi, primeiro, o contrato temporário, pois tivemos uma adesão muito pequena (dos profissionais chamados). Depois de um concurso. No concurso, nós tivemos 124 anestesiologistas aprovados. Desses, apenas 38 tomaram posse, mas eu já tive notícia que cinco não querem mais permanecer. Nós temos feito o acolhimento, o pedido, a colaboração, a orientação dos gestores, para que façam a composição das escalas para que eles (os profissionais de saúde) se interessem por nós. Porém, já conversei com o governador (Ibaneis Rocha), tenho conversado com a Casa Civil e hoje (ontem), pela manhã, também tratei com o Ministério Público que nós precisamos caminhar pela cooperativa da anestesiologia. Nós precisamos ter uma outra forma de contratação de anestesistas, uma vez que nós temos uma mão de obra escassa e não tem como fazermos esse enfrentamento sem um contrato direto com uma cooperativa. Vamos, de maneira transparente, trabalhar com produtividade, seguindo o modelo que é realizado em outros estados da Federação e também em outros equipamentos de saúde suplementar do Distrito Federal.
Os pacientes também estão fazendo cirurgias eletivas em hospitais particulares. É um convênio da Secretaria de Saúde com os hospitais?
É um credenciamento. Essa experiência foi pioneira, onde foi destinado um recurso para que nós realizássemos 3.233 cirurgias (de cirurgia geral às hérnias, a ginecologia, as colecistectomias), porque eram as maiores demandas dos pronto-socorros. Agora, nós teremos um edital que vamos tratar com o Conselho de Saúde do Distrito Federal (CSDF), que é o balizador das políticas públicas. Temos que fazer toda uma exposição de motivos. Fiz essa exposição no Ministério Público, vamos para uma sustentação oral e uma exposição de motivos no Conselho de Saúde para que possamos fazer esse enfrentamento. Obviamente, cabe a nós também reforçar internamente a rede, aumentando o número de salas cirúrgicas e fazendo a contratação da cooperativa. Neste edital teremos cirurgias em ortopedia, proctologia, urologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, oftalmologia, etc. Fizemos o estudo técnico preliminar e o projeto básico está pronto. Vamos para a construção do edital, pesquisa de preço no mercado, para construir uma tabela, fazer a exposição no conselho, para que possamos começar a nossa busca. O que determina o nosso governador é que haja uma redução de 60% da fila que nós temos hoje.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira