O mês das mulheres é marcado como momento para lembrar de temas sobre o respeito e a defesa dos direitos do gênero. Com esse enfoque, o combate à pobreza menstrual, um dos problemas que atingem quem está em situação de vulnerabilidade social, é uma das ações que envolvem setores da sociedade.
Empresas, governo e entidades se unem para arrecadar absorventes e outros itens de higiene pessoal para atender mulheres. Um exemplo é o Grupo Aya, que, no começo da pandemia de covid-19, arrecadou cestas básicas e máscaras de proteção para famílias de Ceilândia, Samambaia e regiões do Entorno do DF. Com o passar do tempo, a integrante Tereza Nascimento, 57 anos, percebeu que precisava recolher produtos de higiene pessoal e limpeza para mulheres das periferias da capital. "Aproveitamos esse momento para reunir mulheres, ouvir os clamores e as dificuldades", conta.
Segundo Tereza, o grupo se divide em dois pontos para receber as doações: no Condomínio Privê, em Planaltina, e na Feira dos Goianos, em Taguatinga Norte. São aproximadamente 120 mulheres de 12 a 60 anos agraciadas pelas doações. "Em relação a absorventes, por exemplo, uma menina não ia à escola porque não tinha o produto para usar. Então, a gente acha um item barato, mas nem todo mundo consegue comprar, e deixa de fazer algumas coisas por falta desses itens de higiene. Trabalhamos o potencial e a autoestima da menina que precisa sair para a escola ou procurar uma ocupação, porque é uma questão de saúde pública", finaliza a ativista social do movimento negro.
Em outra linha de trabalho, o Sabin Diagnóstico e Saúde faz, há dois anos, uma campanha para arrecadar itens de higiene pessoal para dois grupos: mulheres imigrantes em vulnerabilidade econômico-social e mulheres em situação de privação de liberdade. Em ambos, a empresa procura organizações da sociedade civil ou organismos públicos, que fazem a doação. "A gente faz o transporte até a organização, que é responsável por fazer a distribuição", explica Gabriel Cardoso, gerente-executivo do Instituto Sabin.
O porta-voz da empresa lamenta casos em que mulheres usam papel higiênico, jornal, panos, roupas e até miolo de pão no lugar de absorventes. "Temos uma campanha que trabalha a dignidade menstrual, que é o direito básico de toda pessoa que menstrua, por meio do acesso a insumos adequados, e para que ela também tenha conhecimento sobre o funcionamento do próprio corpo e infraestrutura de água, além de espaço que garanta privacidade, segurança e higiene", conclui.
Para suavizar a difícil realidade das mulheres, entrou em vigor, em setembro de 2022, lei distrital que incluiu os absorventes femininos na cesta básica de alimentos. São distribuídas mais de 2,5 mil por mês. Segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus), além do absorvente, a cesta emergencial tem arroz, açúcar, feijão carioca, feijão preto, macarrão, farinha de mandioca, farinha de milho, polvilho doce, óleo de soja, carne bovina, sardinha, sal, café, leite e papel higiênico.
Atualmente, a Sejus recebe indicações de outras secretarias de locais que possam ser pontos de atendimento para as palestras. A proposta é expandir o atendimento do número de meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade participantes na Campanha Dignidade Feminina.
Outro braço desse apoio de entidades filantrópicas vem do Instituto Retomar, sem fins lucrativos, que vive de doações e trabalha em prol do direito de meninas e mulheres por meio de projetos sociais. A iniciativa oferece projetos de orientação jurídica, assistência psicológica, acompanhamento de vítimas de violência doméstica em audiência, ressignificação de lares e ações sociais.
O projeto vai arrecadar itens de cuidados com a saúde pessoal feminina até 31 de março. Até o momento, foram arrecadadas centenas de itens, entre absorventes descartáveis e itens de higiene pessoal.
Co-fundadora e sócia-diretora do instituto, Manon Garcia atua contra a pobreza menstrual desde agosto de 2021, quando lançou a primeira campanha. "A iniciativa veio após estudar a questão e ver o quão precária é a situação de meninas e mulheres que não têm condições", diz.
Elas fazem ações sociais no Lago Oeste, zona rural de Sobradinho, em parceria com o projeto local Capoeira Nativa, que dá aulas de capoeira para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade econômica. "Vamos destinar uma parte das arrecadações para essas meninas. A outra parte será destinada a mulheres que estão em situação de rua. Nosso objetivo é levar dignidade e informação para todas elas", complementa.
Governo
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) explica que o GDF, por meio de edital, adquiriu mais de 30 mil cestas básicas para atender casos urgentes de insegurança alimentar pela Sedes. A Secretaria de Saúde (SES) informa que está fazendo a estimativa do público elegível para a distribuição de absorventes e, quando for finalizada, será aberto processo de aquisição do produto.
Na avaliação da assistente social Andreia Simplicio, receber esses itens de higiene pessoal é um direito básico. Segundo ela, quando se fala em saúde sexual reprodutiva, falamos do pré, durante e do pós. "A própria pílula do dia seguinte no pós também se enquadra no cuidado e acesso essencial, como o anticoncepcional, e a profilaxia de pré e pós-exposição ao HIV", detalha.
Para a especialista, a dificuldade de acesso aos itens de higiene resulta em impactos negativos no âmbito familiar, em relação à reprodução, pois pode haver uma gravidez precoce e não intencional, o que ocorre com adolescentes. "Também há o impacto no serviço de saúde. Se não tem prevenção, tem que se tratar. Estamos falando de educação e saúde máxima, com uso correto da pílula do dia seguinte e do anticoncepcional. Tudo isso tem impacto na comunidade e no âmbito escolar", analisa a assistente social.
*Estagiários sob a supervisão de Ana Maria Campos
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