Com objetivo de formar atores e atrizes para um espetáculo sobre os desafios da população LGBTQIAP+ do Sol Nascente, o Projeto Felicidade vai oferecer uma série de oficinas de teatro gratuitas. Serão sete meses de formação teatral, de 21 de março a 28 de setembro, no espaço do Coletivo Cultural e Social da região.
A verdade nua e crua
Produzida pela Casa dos 4 e apoiada pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), a iniciativa tem o objetivo de formar atores e atrizes para um grande espetáculo sobre os desafios de gênero em uma área carente.
O dramaturgo e diretor Alexandre Ribondi conta que pretende mostrar para todas as classes econômicas, sociais e de gênero como é viver à margem da sociedade. "E, claro, com uma narrativa contada pela experiência das próprias pessoas que a vivenciam. A verdade nua e crua, como sempre falamos", explica.
Para Ribondi, o Sol Nascente é uma das regiões menos privilegiadas do DF, com carências múltiplas, não apenas financeira, educacional e de moradia. "Eles também têm escassez de arte, diversão e prazer de viver. Por isso, é tão importante criar um foco de teatro lá", conclui Ribondi.
Em outubro, ao final do curso, haverá apresentações de espetáculos teatrais em cinco cidades do DF, como em Ceilândia. A dramaturgia será construída de forma colaborativa, com depoimentos reais. A ideia do projeto é emocionar o público ao retratar assuntos como aceitação, julgamento, autoestima e empoderamento.
Ex-aluno conta experiência
A primeira edição do projeto, que aconteceu em 2017, na Cidade Estrutural, contou com oito participantes e resultou na apresentação de histórias sobre o cenário LGBTQIAP+. "O processo de diálogo, pesquisa e vivência em grupo foi longo e delicado, mas culminou em uma produção emocionante e impactante", recorda o diretor Alexandre Ribondi.
Josias Silva, de 29 anos, participou da primeira edição como aluno e, agora, na segunda, vai ajudar como assistente de direção. Ele relembra o medo que tinha na primeira edição. "Vir da periferia pra falar num palco abertamente sobre todas as nuances que envolvem minha vida pessoal como gay periférico, e em um primeiro contato com um diretor, me causou espanto. Mas estava ao lado de amigos, e que, assim como eu, tínhamos o sonho de fazer arte levantando debates que nos diziam respeito e por isso fui com medo mesmo", rememora.
Durante as oficinas, ele sentiu que o processo começou bem e conseguiu superar as expectativas. Ele considera um período terapêutico, pois revelou pela primeira vez, durante a montagem, questões dolorosas que envolvia a sexualidade dele e que não havia conseguido abri-las nem mesmo para familiares.
"Ao final, subi ao palco para contar tudo com uma dramaturgia que amarrava todas as nossas histórias foi libertador. Nunca mais fui o mesmo, e até hoje não tenho palavras para agradecer por tudo que o diretor, e agora amigo, Alexandre Ribondi me proporcionou", emociona-se.
De lá pra cá, Josias não abandonou o teatro, adquiriu experiência e reconhece que se sente confiante para repetir tudo estando do outro lado do processo. "Estou ajudando outros dos meus, corpos LGBTQIAP+ periféricos, a ecoarem suas vozes também. Estou ansioso e com um orgulho enorme por continuar fazendo parte do processo provando que dá certo e que nos transforma", finaliza o assistente de direção.
Inscrições
As inscrições podem ser feitas até 18 de março no site do projeto. As aulas vão incluir preparação física, com exercícios de dança, além de formação de atores por meio de jogos cênicos.
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