Os representantes do ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) Fernando de Sousa Oliveira enviaram, à Câmara Legislativa (CLDF), um memorial com informações e conversas pelo WhatsApp do ex-número 2 da pasta, nos momentos que antecederam os atos extremistas de 8 de janeiro.
O documento mostra que Fernando só soube que o então secretário Anderson Torres viajaria para os Estados Unidos em 5 de janeiro. Ele também apresentou mensagens trocadas em um grupo relatando que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) empregaria um efetivo de 600 policiais.
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Os advogados de Fernando, que também é delegado federal, citam no documento enviado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos que ele não era secretário titular da pasta no dia 8, destinando, assim, a responsabilidade da falta de comando da SSP a Anderson Torres. "Note-se que nos dias 7 e 8 de janeiro o peticionante se reporta constantemente ao ex-secretário Anderson Torres, por meio de mensagens e áudios, sobre o andamento da operação, o que demostra que, apesar de estar em viagem, o mesmo estava no comando da secretaria", diz trecho do memorial.
No documento, os representantes do delegado reforçam que Fernando foi incluído em dois grupos de WhatsApp após assumir a função de secretário-executivo: "Perímetros de segurança" e "Difusão, que participavam integrantes da segurança, como Anderson Torres; o então comandante-geral da PMDF, Fábio Augusto Vieira; oficiais e praças da PMDF; delegados e agentes da PCDF; policiais legislativos e judiciais; e agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em troca de mensagens em um desses grupos, integrantes da PMDF repassaram dados relatando tranquilidade na Esplanada no dia 8.
"A informação que tenho é que está tranquilo até agora", diz o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, ex-comandante do 1º Comando de Policiamento Regional (1º CPR), às 3h01. "Temos um bom efetivo na Esplanada desde às 7h e vai aumentando no decorrer da manhã e do dia", reiterou o oficial, já na manhã do dia 8. Vídeos e fotos de monitoramento por meio de câmeras de segurança também foram anexadas pelos oficiais da PM. Em um deles, às 12h53, a Esplanada estava ocupada por bolsonaristas, mas em uma quantidade bem menor.
Já em uma troca de mensagens pelo privado com a subsecretária de Operações Integradas, coronel Cintia Queiroz, Fernando cobra relatório da "última parcial" para ele enviar ao governador, na noite de 7 de janeiro. Às 5h49, de 8 de janeiro, a oficial encaminha uma mensagem informando a chegada de 87 ônibus com manifestantes, além do número das placas. Pouco depois, a coronel detalha a Fernando que haverá um grande efetivo. "A PMDF empregará um efetivo de 600 policiais militares, temos ainda o efetivo do DETRAN, CBMDF, DER, DFLEGAL", relata.
No diálogo com a coronel Cintia, ela detalha que a tendência é que o acampamento de bolsonaristas aumente, "com a anuência do Exército". "Doutor, o efetivo a ser empregado pela PMDF está maior que o costumamos empregar", sinalizou. De acordo com Fernando, essas mensagens eram repassadas ao governador Ibaneis Rocha (MDB) por meio de relatórios que ele encaminhava em áudios.
Após o boletim enviado ao governador, ainda na manhã do dia 8, novas mensagens sobre o monitoramento da Esplanada foram reproduzidas no grupo. No memorial, mostra que integrantes da segurança pública relatam que a situação era tranquila na parte da manhã, e que haveria uma caminhada pacífica de manifestantes para a Esplanada por volta das 13h de 8 de janeiro e, mesmo com manifestantes no gramado central, a situação era tranquila. Essa manifestação, segundo a defesa do delegado federal, era "previsto no planejamento" do Protocolo de Ações Integradas (PAI).
Pouco contingente na Esplanada
"Em termos práticos, as mensagens, fotos e vídeos apontavam para uma baixa movimentação de pessoas na Esplanada, com um grupo alocado próximo à Praça das Bandeiras, sendo que o contingente maior de pessoas estava descendo o eixo monumental acompanhado pela PMDF", alegam os representantes do ex-secretário-executivo.
Essas mensagens teriam embasado o polêmico áudio enviado a Ibaneis sobre a situação da Esplanada, às 13h23. "Saliente-se que o rompimento das barreiras de contenção do Congresso Nacional, se deu por volta das 14h50, ou seja, 1h30 após o envio do áudio ao governador, o que afasta eventual narrativa de conivência ou omissão quanto à conduta do peticionante (Fernando)", afirmam os advogados. "O que se percebe claramente, por meio das imagens, é um erro de execução no planejamento tático operacional da PMDF com um subdimensionamento de efetivo e tropas especializadas no teatro operacional, aliado a uma aparente passividade de alguns policiais, que não exerceram suas funções de conter e reestabelecer a ordem", garantiram os advogados.
Após esse episódio, a defesa do ex-secretário não anexou informações sobre o diálogo durante e após os atos golpistas. "O memorial disponibilizado pelo Fernando servirá como suporte na oitiva da coronel Cíntia. Ele tem muito a explicar sobre o dia 8. Aquela primeira barreira de contenção não tinha nem 20 policiais. Dá para deduzir, então, que não havia 600 policiais na segurança do 8 de janeiro", disse Chico Vigilante (PT).
"Ele (o memorial) vai ser importante para o relatório final. Fica claro que o secretário Anderson Torres tratou com descaso o dia 8. Ele queria coordenar de lá dos Estados Unidos e, com o memorial, também dá para apurar definitivamente sobre a omissão (de Torres)", completou o presidente da CPI. O Correio também procurou a PMDF sobre qual foi o quantitativo disponibilizado pela corporação, mas não teve resposta.
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