Seja na militância contra a desigualdade de gênero, na defesa dos animais ou do meio ambiente, a luta das mulheres é longa e praticada em diversas áreas. Com pautas sociais relevantes, as atuantes representam empoderamento, inspiração, atitude e força para outras mulheres e para a sociedade. No Distrito Federal, elas se mostram incansáveis ao falar sobre a busca de um mundo melhor tanto no presente quanto para as próximas gerações. Reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Internacional da Mulher é celebrado em 8 de março.
Socióloga, Clara Wardi, 27 anos, é feminista e ativa na luta pelos direitos de igualdades das mulheres. Natural do interior do estado do Rio de Janeiro, a assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea) conta que o anseio por atuar na luta pela igualdade de gênero veio da criação. “As relações de gênero eram muito hierarquizadas e, a partir dessas experiências dentro da família e da escola, eu comecei a perceber e ser muito atingida pelas questões da desigualdade”, comenta.
A ativista conta que ao ingressar na faculdade, os olhos dela se abriram para um novo mundo. “Me deparei com a questão do feminismo que ia muito além das queimas dos sutiãs nas fogueiras como contavam para a gente”, pontua Clara. Então, ela começou a se aproximar dos movimentos sociais e entendeu que era uma luta mais ampla e integrativa de outras frentes, como a luta pela igualdade racial, pela igualdade de classes, pela lgbtfobia e pelo trabalho digno. “A luta feminista é coletiva e histórica. Não dá para reduzir a trajetórias individuais”, destaca.
Clara ressalta que a atuação dos movimentos é pela transformação do mundo. “Mobilizar as pessoas para saírem em defesa é uma responsabilidade de cada um que se interessa pela justiça de gênero”, frisa. A socióloga avalia que o 8 de março é um dia histórico na luta pelos direitos das mulheres. “É um momento para que o debate público assuma essa frente. Isso é muito importante para a gente se alinhar na luta para além dos nossos mundos individuais”, enfatiza.
Para a socióloga, a sociedade brasileira naturaliza a violência contra a mulher e conquistas como a Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio foram um avanço social. “Um futuro em que a gente tenha salários e condições de trabalho mais igualitários entre gêneros e raças e que o Estado seja mais ativo no combate das desigualdades. Só tratando que a gente vai conseguir combatê-los”, deseja. Clara pontua, em nome do coletivo, que é muito difícil viver em uma sociedade em que as pessoas não entendem que o machismo faz parte da construção de vida, das relações de poder e das decisões.
Assim como Clara, a cientista política Letícia Medeiros, 33, também é militante pela igualdade de gênero, em especial nas relações políticas. Em 2018, ela e uma amiga fundaram a ONG Elas no Poder, que atua para ampliar a participação de mulheres na política e fortalecer a permanência delas nesses espaços. “ Acredito que só teremos um país verdadeiramente democrático, quando tivermos no mínimo 50% dos cargos eletivos preenchidos pelos diversos perfis de mulheres. Precisamos de pessoas mais diversas sentadas à mesa, com direito a voz e voto, discutindo os problemas sociais e construindo políticas públicas para o país”, destaca.
Nascida em Brasília, Letícia se mudou para São Paulo há 2 anos. Para ela, o problema da baixa representatividade de mulheres na política é um problema social complexo, com raízes históricas, culturais e institucionais. “Sem dúvida, um dos grandes desafios que vivenciei, e ainda vivencio, é o de ocupar um lugar como profissional que atua com planejamento e estratégia de campanha eleitoral. É um mercado bastante dominado pelos homens”, pontua a ativista.
Segundo ela, nos cinco anos de existência da ONG, dois programas de formação foram importantes: a Im.pulsa, para auxiliar as mulheres a superarem desafios políticos e produzir campanhas eleitorais vencedoras, e o Elas na Escola, um projeto de formação para meninas negras da rede pública de ensino do DF. Letícia destaca que, para o futuro dela e de todas as mulheres, o que ela mais deseja é segurança em todos os lugares. “Acho que de todas as mazelas que a desigualdade de gênero nos impõe, a sensação de impotência frente à violência contra a mulher é uma das mais cruéis, pois todas nós vivemos sob o medo constante de entrar para alguma estatística”, comenta.
Atitude
Idealizadora e criadora do projeto Acalento, Lucimar Aparecida Pereira, 49, resgata animais de rua para tratá-los e colocá-los para adoção. Desde pequena, os pais da assistente administrativa deixavam ela e o irmão criarem bichinhos em casa, desde galinhas, tartarugas e marrecos até cães e gatos. “Esse amor pelos animais vem de berço”, comenta. Junto com a equipe de voluntários, ela destaca que as duas maiores bandeiras do projeto são a castração, como o controle populacional e de zoonoses, abandono e maus tratos, e as feiras de adoção. “Cada resgate que fazemos é uma caixinha de surpresas”, pontua.
Moradora da Ceilândia, a ativista em prol dos animais destaca que incentiva as pessoas a adotarem e a terem um olhar de compaixão para a adoção. “Elas também podem resgatar um pet abandonado de rua e ser aquele socorro que ele tanto precisa. A sociedade civil tem que atuar e tem que participar, porque se cada pessoa fizer a sua parte, nós teríamos menos animais nas ruas e abandonados à mercê de maus tratos, frio e fome”, ressalta Lucimar. “A maioria das pessoas só sabe sentir pena e dó, mas isso não resolve o problema. Ele precisa de alguém que faça isso por ele. A gente bate muito nessa tecla de atitude”, exclama.
Lucimar conta que a maior realização que tem é quando resgata um bichinho, ele está bem, vai para a feira de adoção e é bem adotado. “Desejo que mais pessoas se descubram dentro do voluntariado e sintam-se tocadas. Basta ter atitude para mudar a vida de uma pessoa ou animal que cruza o caminho. Fazer a diferença na sociedade”, destaca. No entanto, a ativista ressalta que nem tudo são flores para as mulheres que têm desafios diários e passam por preconceitos pelo fato de ser mulher. “Alguns acham que devíamos estar em casa só cuidando dos filhos e do lar, pegamos bichos de rua e acham que não temos ocupação. Escutamos muito isso, mas compete nós estarmos firmes e seguras do nosso papel dentro da sociedade”, enfatiza.
Realização
Apaixonada pelo meio ambiente, a professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), Izabel Zaneti, 69, mobiliza os alunos com os projetos de sustentabilidade. A relação dela com a natureza estreitou laços quando, em 1992, a acadêmica iniciou um mestrado na área e acompanhou a Conferência Rio 92. “Me chamou muita atenção sobre o que eu poderia fazer”, recorda. “A natureza e o meu trabalho são uma coisa só. Eu faço parte da natureza e pertenço a ela”, pontua.
Izabel apresenta aos alunos um novo olhar para o meio ambiente, pautado pelo respeito, cuidado e pelas questões de educação resgate das pessoas para trazê-las para a natureza e para que elas saibam que fazem parte. “Quando se tem esse sentimento de pertencimento, vai sustentar também, vai cuidar”, avalia a professora. “Desde os anos 90, eu penso que como educadora é possível tocar e sensibilizar as pessoas para que possam atuar em prol do meio ambiente, que sejam defensores”, comenta.
Natural de Porto Alegre, Izabel foi aprovada aos 57 anos no concurso da UnB. A acadêmica se diz realizada por romper com o cerco de dentro da família e ser a primeira a sair para estudar e ir além da cultura machista. Nascida na década de 50, ela destaca que pela época era para ser dona do lar. “Ninguém entendia essa minha relação e essa minha busca, porque eu queria ter uma formação, o meu trabalho e o meu dinheiro. Isso foi um grande desafio das mulheres e eu consegui me realizar”, comemora.
Focada e determinada, a defensora do meio ambiente conta que passou por situações de assédio moral por ser mulher e por estar buscando um espaço profissional. “Vejo que ainda é um grande desafio para muitas mulheres com tanto assédio moral, assédio sexual e violência. Nós precisamos estar fortes e unidas para vencer”, pontua. Para o futuro, ela deseja que as mulheres sejam luz. “A natureza brilha e somos mulheres para brilhar, não para sermos assediadas, espancadas. Que a gente tenha a força da natureza dentro de nós para lutarmos”, conclui.