Aos 53 anos, o ciclista Abraão Azevedo venceu neste domingo (26/3), pela sétima vez, a prova mais dura do mountain bike mundial, a Absa Cape Epic — competição qualificada como épica, com justiça. Ao lado de seu companheiro de ultramaratonas há mais de uma década, o holandês campeão olímpico de 1996 Bart Brentjens, Abraão liderou, na categoria grand masters, de ponta a ponta, os 648 quilômetros de prova, passando por montanhas, vales, rios, pontes e pedras na região vinícola próxima à Cidade do Cabo, na África do Sul.
Ao longo de oito dias, ambos fizeram força para subir 15,5 mil metros e tiveram que ter cuidado e técnica para descer trechos inclinados e perigosos. Acidentes, exaustão física e problemas mecânicos tiraram da prova 480 dos 1.500 atletas inscritos. Até mesmo o número 1 do ranking mundial do mountain bike olímpico (XCO), o espanhol David Valero Serrano, de 34 anos, desistiu no sábado logo cedo, após rodar os primeiros cinco quilômetros de prova e notar que seu corpo não tinha mais condições de seguir.
A decisão parece ter sido acertada, porque a etapa de sábado foi a mais dura de todas, segundo contou Abraão ao Correio. "Largamos com chuva, e no alto da montanha estava muito frio. Comecei a perder o controle da bicicleta por causa da baixa temperatura e a perder a sensibilidade nos dedos. Tinha também muita lama grudando no pneu e era muito difícil pedalar. Na hora de descer, fazia muito frio e começou a faltar freio numa descida muito cavada. Eu só queria terminar, só queria chegar ao final", disse, aliviado, o ciclista, já de volta à sua tenda no acampamento móvel onde se recuperavam os atletas entre uma etapa e outra.
Bart Brentjens contou que tinha tido febre na noite anterior e havia se alimentado mal. "Os primeiros 50 quilômetros foram ok, mas eu comecei a me sentir mal, e o Abraão me ajudou a chegar até a linha de chegada. Não foi nada fácil", revelou o holandês, em vídeo no Instagram.
Em sua nona participação na Absa Cape Epic, Abraão disse que não havia enfrentado condições climáticas tão adversas em edições anteriores. "Nunca tinha tido uma etapa tão cruel", avaliou o atleta, nascido em Formosa (GO), mas radicado em Brasília desde a adolescência. Na categoria grand masters — para atletas com mais de 50 anos — apenas 89 duplas completaram a prova, dentre as 136 que largaram — taxa de abandono de 35%.
As duplas campeãs nas demais categorias profissionais foram Matthew Beers e Christopher Blevins (UCI-masculino), Kim Le Court e Vera Looser (UCI-feminino), Karl Platt e Tomás Misser Vilaseca (masters-masculino), Jennie Stenerhag e Esther Suss (masters-feminino) e Rene Vallee e Alain Broglia (great grand masters-masculino). As duplas 100% brasileiras mais bem colocadas neste ano foram André Costa e Enrico Sampaio Júlio (72º lugar geral), Thiago Machado e Felipe Pereira Coelho (80º), e Guilherme Hoffman e Luiz Eduardo Vieira (100º), todos mais jovens que Abraão e Brentjens, que chegaram em 44º lugar na classificação geral.
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