Atos Antidemocráticos/

CPI mira generais sobre atos golpistas e por terem permitido acampamento

Ex-secretário Júlio Danilo afirma que o Exército barrou a entrada de policiais na área do QG, às vésperas de 1° de janeiro. Delegado federal reforçou que SSP não sabia de ataques ao edifício-sede da PF

Pablo Giovanni
postado em 24/03/2023 06:00
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

O ex-secretário da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) Júlio Danilo depôs, ontem, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos. Sem advogado, o delegado da Polícia Federal e ex-chefe da SSP respondeu a todos os questionamentos dos distritais e lembrou que, por decisão do próprio Exército, não ocorreu a desmobilização do acampamento de bolsonaristas, que ocorreria em uma operação conjunta com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e de agentes do Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), dois dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Aos parlamentares, Júlio esclareceu que a pasta preparou um plano de segurança para a diplomação de Lula, em 12 de dezembro, nos arredores e em localidades próximas ao plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, disse que atos golpistas daquela noite, onde manifestantes tentaram invadir o prédio da PF após a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, 42, não era esperados. "Houve manifestações a favor do presidente (Lula). Me recordo nesse dia que também ocorreu em frente ao Palácio do Alvorada. Isso foi durante o fim da tarde", disse.

"No final do dia, houve uma convulsão no centro de Brasília. Me ligaram comunicando a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, 42. Nós não tínhamos conhecimento da prisão, porque foi feita pela PF. Acabou gerando vários protestos à frente do edifício-sede. Logo em seguida, me ligaram também da secretaria dizendo que havia um início de confusão lá. Eu chamei o comandante-geral da PM, coronel Fábio Augusto, e o questionei se já havia sido acionado reforço para a área. Ele prontamente me disse que sim", esclareceu.

O ex-chefe da SSP disse, então, que a primeira missão dada aos policiais militares foi a retomada da ordem, principalmente com os ânimos exaltados dos manifestantes, que protestavam contra a prisão do indígena. Na ocasião, ninguém foi preso. "A primeira missão era restituir a ordem pública, conter a questão do ateamento de fogo, da destruição. As equipes chegaram e começaram a realizar. Sobre prisões, quando se tem distúrbios civis, se coloca equipes específicas para que possam realizar a prisão, mesmo porque se você está recebendo pedrada, realizar a prisão de alguém, por meio de um ou dois policiais, coloca em risco eles (militares). Esse público (manifestantes) foi dispersado e a polícia continuou atuando", detalhou.

Sobre o acampamento, o delegado federal ressaltou que a área do Quartel-General, no Setor Militar Urbano (SMU), é de competência do Exército. No entanto, estavam planejadas operações, com anuência da força militar, para acabar com o acampamento. Em uma das situações, em 29 de dezembro — há poucos dias da posse do presidente Lula —, um atrito entre o Exército e a PMDF e DF Legal desfez a operação. "O acampamento começou após o fim das eleições. Nós tratávamos essa manifestação, no início, como comum. Depois, quando as pessoas começaram a se estabelecer, por diversas vezes, tratamos com o Comando Militar do Planalto a necessidade de desmobilização do acampamento", declarou.

"Quando colocamos aquele aparato, o DF Legal já estava a postos para fazer, de forma pacífica, a desmontagem daquelas barracas como já conversado. No entanto, foi solicitado que não era para avançar na operação. E, que dali, o Exército, por meios próprios, iria providenciar o desmonte do acampamento", disse. O caso, à época, foi revelado pela reportagem do Correio.

O ex-secretário também revelou que Anderson Torres, preso desde 14 de janeiro no 4° Batalhão da PMDF, no Guará, o perguntou se ele teria interesse em permanecer na pasta. Júlio esclareceu aos membros da comissão que recusou o pedido. 

Generais

Sem Anderson Torres, os distritais miram na oitiva de generais do Exército. Antes do depoimento de Júlio Danilo, os parlamentares decidiram aprovar os documentos, que tratam de convidar os generais Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto e do chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Marco Edson Gonçalves Dias. Na semana passada, foi aprovado o requerimento do general e ex-ministro Augusto Heleno.

"O depoimento do Júlio foi esclarecedor e demonstra que ainda teve participação do governo Bolsonaro. O depoimento também traz irresponsabilidades do Comando Militar do Planalto, que não permitiu que o acampamento fosse desativado. E após isso ocorreu o 12 de dezembro e o 8 de janeiro", disse. "Estamos verificando com a Procuradoria-Geral da CLDF para a gente convocar os generais. Não tememos nada. Queremos a verdade. Se der para convocar juridicamente, eles serão. É uma questão jurídica. Não vamos fazer uma CPI faz de conta", disse.

O relator da comissão Hermeto (MDB) afirmou que já tem uma linha de investigação formada. Para ele, cada depoimento fortalece a tese de que houve um apagão, principalmente de quem é responsável pela elaboração do planejamento. "Os policiais que foram trabalhar no dia 8 foram levados para o abatedouro. Se lá dentro, algum ou outro policial estava tirando foto, selfie, vamos individualizar as condutas deles. A PMDF foi vítima", disse.

"O Exército contribuiu diretamente para o que está acontecendo. No momento em que um general não deixa desmobilizar o acampamento e chega a sugerir um confronto do Exército com uma outra força: seria um massacre. A cada dia que passa, tenho a certeza de que aquele acampamento tinha pessoas de bem, mas tinha bandidos planejando tudo. O Exército proibiu. Precisamos ouvir os generais para entender por que eles impediam o trabalho das forças do Governo do Distrito Federal", esclareceu.

O próximo depoente será o tenente-coronel da PMDF Jorge Henrique da Silva Pinto, transferido para a próxima quinta-feira. A data estava à espera da sinalização de Anderson Torres para depor. Ele participava de um grupo de WhatsApp chamado "Difusão", criado para o repasse de notícias. Ele deve ser alvo de questionamentos sobre alertas que enviou no grupo.

 

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  •  23/03/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Ex-secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo, na CPI dos Atos Antidemocráticos.
    23/03/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Ex-secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo, na CPI dos Atos Antidemocráticos. Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
  • Chico Vigilante (PT) preside a comissão na CLDF
    Chico Vigilante (PT) preside a comissão na CLDF Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
  •  23/03/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Ex-secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo, na CPI dos Atos Antidemocráticos. Na foto, o Deputado Distrital Chico Vigilante.
    23/03/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Ex-secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo, na CPI dos Atos Antidemocráticos. Na foto, o Deputado Distrital Chico Vigilante. Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
  •  23/03/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Ex-secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo, na CPI dos Atos Antidemocráticos. Na foto, o Deputado Distrital Hermeto.
    23/03/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Ex-secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo, na CPI dos Atos Antidemocráticos. Na foto, o Deputado Distrital Hermeto. Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
  •  Parlamentares aprovaram o convite a comandantes do Exército
    Parlamentares aprovaram o convite a comandantes do Exército Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
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