Economia

Quaresma aumenta em 40% a venda de peixes no DF, apesar de alta nos preços

Período entre carnaval e Semana Santa intensifica a venda de produtos pescados. Nutricionistas recomendam o consumo da iguaria. Saiba como reconhecer a qualidade

Mila Ferreira
João Carlos Silva*
postado em 19/03/2023 06:00
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

De acordo com informações do anuário PeixeBR, o consumo de carne branca vem crescendo ano a ano. No ano passado, foram cultivadas mais de 860 mil toneladas de peixes, o que corresponde a 2,3% em relação à 2021, com 841 mil toneladas. Alimento que comumente substitui a carne vermelha durante a quaresma, a Associação Brasileira de Pescados (Abipesca) estima aumento de 12% no faturamento em relação ao mesmo período do ano passado. No Distrito Federal, a comercialização do pescado registrou aumento de 40% nesta época do ano, com previsão de duplicar na Semana Santa, segundo o Sindicato do Comércio Atacadista (Sindiatacadista-DF).

O presidente da entidade, Álvaro Júnior, ressalta que, neste período, o peixe mais procurado é a tilápia, que tem um custo de, em média, R$ 45 por quilo. Ele também calcula que, na mesma época em 2022, as vendas foram melhores que as do ano anterior. "

Os preços se mantiveram e houve um acréscimo de 10% no volume comercializado. A Semana Santa é o 'Natal' desse setor e sempre há aumento considerável das vendas", avalia. Ele comenta, ainda, que existe outro fator para o brasiliense colocar mais peixe no prato: o alto preço da carne vermelha. "A restrição alimentar em função da quaresma está se esvaindo. O aumento do consumo de peixe é mais uma substituição econômica do que religiosa", avalia. 

Álvaro Júnior também explica que não há um cálculo exato para estimar o aumento da venda. "A percepção do cenário econômico (dólar, período chuvoso e commodities) determina a expectativa", conclui. 

Hábito comum

Um ponto importante, entretanto, é pesquisar preços, que, no geral, estão um pouco salgados. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o Brasil registrou aumento de 3,88% no acumulado dos últimos 12 meses. Gerente de uma peixaria na Feira do Guará, Luís Mesquita também nota um aumento da procura pelo peixe durante o período religioso, especialmente na Semana Santa, quando a pescada amarela e o robalo são os mais vendidos em seu estabelecimento.

O peixeiro, que trabalha há oito anos no local, afirma que a diferença nos preços depende da quantidade do produto disponível para venda. "Quando o estoque diminui, a gente eleva o preço para não esgotar o estoque", revela. Luís também comemora que, apesar do aumento de preços da tilápia, por parte do fornecedor, foi possível manter a faixa de preço do ano anterior. "A gente manteve para não assustar os clientes", revela.

O aposentado Ademar dos Prazeres afirma não esperar o período da quaresma para inserir o peixe na dieta. "Não tenho esse negócio de comer só na Páscoa. Como bacalhau o ano todinho, se precisar", declara. Aos 76 anos, Ademar é um frequentador constante da peixaria de Luís Mesquita e, a cada 15 dias, vai até o local. O militar da reserva — que não é um grande adepto da carne vermelha — procura, quase sempre, por sardinha, iguaria que notou estar um pouco mais cara.

"O baiano cozinha em casa", brinca Rafaela Martins, 45, enquanto compra as peças para preparar sushi. Rafaela é moradora de Brasília há apenas dois anos e está habituada a comprar e preparar receitas tendo o peixe como elemento principal. A baiana notou a diferença nos preços em comparação à sua cidade natal. "Em Salvador, o peixe de água doce ou salgado é três vezes mais barato, talvez por ser uma cidade litorânea", analisa. No entanto, a estagiária da área de direito aprova a qualidade do produto na capital do país.

Assim como Ademar, Rafaela também abandonou o hábito de consumir carne vermelha, após adotar uma dieta focada em alimentos com base vegetal. Ela relata que come bovinos ou suínos somente quando sente a necessidade de seus nutrientes, para evitar possíveis problemas de saúde decorrentes da deficiência.

Boa pedida

Segundo o nutricionista Bruno Redondo, as carnes bovina e suína se diferenciam do peixe, principalmente pela digestibilidade. "É a capacidade que o nosso corpo tem de digerir os alimentos. A carne de peixe a gente consegue digerir com muito mais facilidade do que a carne de boi e a carne de porco", elucida. Com isso, a sensação de saciedade é menor ao comer peixe, explica o especialista. "A gente acabaria sentindo fome mais rápido. Por isso que, em algumas estratégias alimentares, é bom utilizar porco, frango ou carne de boi para ficar sem fome durante mais tempo", aconselha.

Colher os benefícios de adicionar a carne de peixe na dieta depende da rotina, de acordo com o nutricionista. Quem está habituado a práticas de exercícios em academias, tem menor proporção de proteínas no corpo. No entanto, o consumo de peixes permite maior número de refeições durante o dia, devido à baixa sensação de saciedade, segundo Bruno Redondo.

O profissional também atenta que, além do sabor, não há diferenças entre peixes de água doce ou salgada. No entanto, ele ressalta a importância da alimentação com peixes de águas profundas, como atum e salmão selvagem. "Eles são fontes de ômega 3, que é um anticoagulante e tem vários outros efeitos positivos, como o anti-inflamatório", detalha. Esse cuidado é necessário para evitar o excesso de grandes fontes de oleaginosas, assim como suplementos.

Redondo acrescenta que, para reconhecer um peixe de boa qualidade, é importante se atentar às escamas. "Se elas estão firmes quando expostas, indica que o peixe foi pescado recentemente", afirma. "Outro ponto importante são as guelras, que devem estar vermelhas e limpas", explica.

Colaborou Arthur de Souza

*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti

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  • pescado é um dos alimentos tradicionais nesta época
    pescado é um dos alimentos tradicionais nesta época Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Luis Mesquita afirma que conseguiu manter o preço da tilápia para os clientes
    Luis Mesquita afirma que conseguiu manter o preço da tilápia para os clientes Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • De acordo com o Sindiatacadista-DF, a Semana Santa é o "Natal" do setor peixeiro
    De acordo com o Sindiatacadista-DF, a Semana Santa é o "Natal" do setor peixeiro Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Gerente de uma peixaria na Feira do Guará, Luís Mesquita celebra alta na procura dos pescados que sempre ocorre nesta época do ano
    Gerente de uma peixaria na Feira do Guará, Luís Mesquita celebra alta na procura dos pescados que sempre ocorre nesta época do ano Foto: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • 23/03/2018. Crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A. Press. Brasil. Brasília - DF. Gastronomia. Simples Assim - Peixe. Prato de peixe à milanesa da Chef Daniela Goulart, no Cruzeiro.
    23/03/2018. Crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A. Press. Brasil. Brasília - DF. Gastronomia. Simples Assim - Peixe. Prato de peixe à milanesa da Chef Daniela Goulart, no Cruzeiro. Foto: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
  • 23/03/2018. Crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A. Press. Brasil. Brasília - DF. Gastronomia. Simples Assim - Peixe. Prato de papilote da Chef Daniela Goulart, no Cruzeiro.
    23/03/2018. Crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A. Press. Brasil. Brasília - DF. Gastronomia. Simples Assim - Peixe. Prato de papilote da Chef Daniela Goulart, no Cruzeiro. Foto: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
  • 06/03/2015. Crédito: Bruno Peres/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Prato Tilápia na cama de purê de maçã, com farofa de nozes e arroz do restaurante Peixe na Rede.
    06/03/2015. Crédito: Bruno Peres/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Prato Tilápia na cama de purê de maçã, com farofa de nozes e arroz do restaurante Peixe na Rede. Foto: Bruno Peres/CB/D.A Press
  • 05/02/2015. Crédito: Bruno Peres/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Prato Combinado de Sushi com entrada de Tataki de peixes, do Restaurante Nakombi.
    05/02/2015. Crédito: Bruno Peres/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Prato Combinado de Sushi com entrada de Tataki de peixes, do Restaurante Nakombi. Foto: Bruno Peres/CB/D.A Press
  • 06/11/2013. Crédito: Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Prato Muqueca de peixe do restaurante Nau, na Orla da Ponte JK.
    06/11/2013. Crédito: Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Prato Muqueca de peixe do restaurante Nau, na Orla da Ponte JK. Foto: Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press

Como reconhecer a qualidade?

Refrigeração: se o peixe for fresco, ele deve estar coberto com uma camada espessa de gelo. Se for comprar a carne no supermercado, a deixe por último;

Aparência: o peixe deve estar com olhos salientes e brilhantes, sem manchas brancas ao centro. Além disso, o olho do pescado deve ocupar toda a cavidade ocular. As brânquias devem ser da cor rosa a vermelha intensa, úmidas e brilhantes. Já as escamas precisam estar bem aderidas ao corpo, brilhantes e sem manchas;

Consistência: peça ao vendedor para tocar no peixe. Se a marca do dedo não desaparecer em pouco tempo, escolha outro mais fresco.

Fonte: Sindiatacadista-DF

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