Saúde /

Histórias dos primeiros vacinados contra a covid-19

Entre voluntários e pioneiros da vacinação contra o coronavírus, profissionais da saúde do DF relatam a emoção de serem imunizados nos primeiros grupos num momento tão crítico da pandemia. Só na capital do país, 11,8 mil pessoas perderam a vida

Arthur de Souza
postado em 15/03/2023 06:00
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

"Me sinto muito orgulhosa (por ter ajudado). Se eu puder, faço isso sempre que precisarem. Sei que foi a melhor decisão que tomei naquele momento." Esse é o sentimento da técnica de enfermagem Maria das Graças Meireles, 56 anos, uma das voluntárias do desenvolvimento da vacina contra a covid-19 no Distrito Federal. Conhecida como "Tia Graça", ela — que trabalhou na linha de frente do combate ao vírus no Hospital Universitário de Brasília (HUB) na época em que a pandemia estava no auge — lembra como era pesado o cotidiano.

A profissional de saúde ressalta o que viveu e o que viu seus pacientes passarem, enquanto sofriam por causa da doença — de acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), 11.849 pessoas perderam a vida para a covid-19, sendo três somente neste ano. "Tive contato com pacientes infectados em todos os meus plantões daquela época, durante muito tempo. Mesmo com todos os cuidados e EPIs disponíveis, peguei a doença três vezes", recorda Maria das Graças. "Na primeira e na última, não foi tão ruim, mas na segunda, quase fui entubada — cheguei a 80% de saturação e 39ºC de febre", afirma a voluntária, que, por isso, enaltece a vacina. "Tenho certeza de que ela tem uma grande contribuição para que a covid tenha diminuído tanto."

De acordo com a técnica de enfermagem, independentemente de ser contra a covid ou não, a vacina sempre é muito importante. "Mesmo com o coronavírus sendo uma doença mais grave, que conhecíamos pouco sobre ela e não sabíamos quais seriam as reações do seu imunizante, confiei na ciência e me ofereci para ser uma das voluntárias", pontua. "Não me arrependo da decisão, pois, se não fossem as doses que tomei, não estaria aqui, dando esse depoimento."

Sobre o dia que colocou o imunizante no braço, ela confessa que teve um pouco de medo. "Mas, quando estou nesse tipo de situação, consigo transformar esse sentimento em coragem e fé", lembra.

Confiança

O militar do Corpo de Bombeiros (CBMDF) Clécio Dourado, 47, foi convidado para participar do estudo da vacina da Jansen e, até hoje, se sente satisfeito com a decisão que tomou. "Levou mais de um ano e, durante o estudo, ia todos os meses ao centro de pesquisas fazer exames físicos e de sangue, além do PCR nasal para avaliar a contaminação", detalha. Ele lembra que foi um "estudo duplo cego", em que alguns tomaram a vacina e outros tomaram placebo, porém, ninguém sabia o que havia sido injetado. "Somente quando o estudo foi aberto descobri que havia tomado placebo", comenta.

Foi quando ofereceram ao militar do CBMDF a dose de vacina da Jansen. Ele lembra que, no dia em que foi aplicar o imunizante, em março de 2021, ficou tranquilo. "Sabia que havia cumprido meu papel e ajudado na pesquisa para achar uma vacina segura e confiável à população", ressalta o socorrista e condutor de ambulância. "Tive a coragem de me oferecer para um estudo que, até então, era desconhecido e carregado de incertezas. Mas alguém precisava fazer isso e, graças à Deus, deu tudo certo e podemos viver com um pouco mais de segurança hoje."

Esperança

A técnica de enfermagem Joelma de Souza, 39, ainda tem fresca na memória a sua participação no estudo inicial para a vacina da CoronaVac. Ela trabalhou na linha de frente contra a covid, quando a pandemia estava no auge. "Naquele momento, tive a esperança pelo retorno à vida cotidiana anterior ao distanciamento social causado pelo vírus", comenta. De acordo com Joelma, de lá para cá, sua vida mudou positivamente. "Minha rotina de trabalho, que estava em segundo plano por causa da covid, voltou ao normal, tendo em vista a drástica redução das internações pela doença, que antes tomava 100% da minha rotina."

Mesmo comemorando a recessão da pandemia, Joelma não deixa de lado a importância que a vacina teve e ainda tem para controlar de vez a doença. "Ela trouxe a redução significativa do número de óbitos relacionados ao vírus. Além disso, a imunidade adquirida por grande parte da população, após a introdução do imunizante, nos trouxe à liberação do uso da máscara", ressalta.

"Desejo que vacinem-se o quanto antes. Até porque essas pessoas contribuem para a circulação do vírus e de novas variantes", alerta.

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Confira os locais de vacinação contra a covid-19 no DF
    Confira os locais de vacinação contra a covid-19 no DF Foto: QR Code
  • Joelma enaltece a vacina contra a covid-19 e pede que todos tomem o imunizante
    Joelma enaltece a vacina contra a covid-19 e pede que todos tomem o imunizante Foto: Arquivo pessoal

Memória

A primeira pessoa do DF a se vacinar foi a enfermeira do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Lidia Rodrigues Dantas. No dia 19 de janeiro de 2021, às 10h, ela recebeu a dose de CoronaVac no braço. Na época, a profissional ficou bastante emocionada. “Ainda estou sem acreditar. Estou feliz por ter feito parte disso”, disse a enfermeira após tomar o imunizante. Além de Lidia Rodrigues, outros cinco profissionais de saúde do Hran também foram vacinados naquele dia.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE