Uma pesquisa do ObservaDF, feita por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), apontou que cada vez mais as mulheres do Distrito Federal têm tido menos filhos — e cada vez mais tarde. De acordo com o levantamento, enquanto no ano de 2000 foram registrados 47,9 mil nascimentos, em 2022, a estimativa é que tenham sido 37,6 mil nascimentos. Só entre 2017 e o ano passado, a redução foi de 15,6% na quantidade de crianças nascendo.
Além disso, os dados revelam uma redução de mulheres sendo mães jovens e um aumento nas taxas de fecundidade entre mulheres mais velhas. A gravidez na adolescência teve uma redução de 64% entre 2000 e 2021. O mesmo movimento ocorreu nas faixas etárias de 20 e 24 anos (52,3%) e 25 e 29 anos (39,1%). Já entre mulheres com 35 a 39 anos, aconteceu o contrário, houve um aumento de 27,4% na taxa de fecundidade. Entre as com idade entre 40 e 44 anos, o aumento foi de 53,4% e entre as com mais de 45 anos, 70%.
“Muitas vezes, a maternidade traz dificuldades e limitações para a construção de uma carreira profissional sólida e reconhecida. Por outro lado, a desigual distribuição do trabalho doméstico e o cuidado com os filhos é um aspecto que contribui para que as mulheres decidam por nenhum ou poucos filhos”, destaca Ana Maria Nogales Vasconcelos, professora da UnB e pesquisadora do ObservaDF.
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É exatamente essa maior responsabilidade que as mulheres carregam na maternidade, um dos fatores que têm influenciado a queda na fecundidade. “Como ainda temos uma desigualdade na distribuição dos afazeres domésticos, grande parte da responsabilidade e do cuidado com os filhos é atribuída às mulheres. As mulheres perdem posições de chefia ou desistem de suas carreiras profissionais para a dedicação aos cuidados de filhos. Esta questão, que se relaciona com o tema da equidade de gênero, é muito importante a ser debatida por toda a sociedade”, explica a pesquisadora.
Para este ano, a pesquisa projeta que poderá ter um aumento dos nascimentos. Segundo Ana Maria, isso pode acontecer devido a muitas pessoas terem adiado a maternidade no período da pandemia. “No entanto, as tendências das taxas de fecundidade são muito claras: nas idades mais jovens, a fecundidade tem apresentado queda persistente, enquanto nas idades mais avançadas, vemos um aumento dos níveis de fecundidade”, explica.
Para a pesquisadora, essa diminuição na fecundidade trará um importante impacto futuro: o envelhecimento da população. “É urgente que a sociedade e o Estado coloquem na agenda política as transformações societárias e os desafios decorrentes de uma população com enormes desigualdades, com baixíssimas taxas de fecundidade e envelhecida”, afirma.
Pressão para ter filhos
A pesquisa ouviu oito mulheres que contaram histórias e decisões em relação à maternidade. Nos relatos, algo é comum entre elas: a pressão para que tenham filhos. “Se você planeja, é interessante também uma rede de apoio, porque as pessoas induzem você a ter filhos, né? E aí, como que fica a questão da rotina durante e após o nascimento da criança? (...) a minha sogra, ela sempre perguntou isso desde o início (quando terá filho?), mas será que ela iria em um pré-natal comigo?”, questiona uma das entrevistadas.
Segundo a pesquisadora Ana Maria Nogales, essa ainda é uma realidade na vida das mulheres. “Essa pressão é maior entre as mulheres casadas. Algumas mulheres relataram que a pressão vem da família, dos pais e sogros, que cobram a vinda de netos”, destaca.
Desigualdade
Os dados ainda mostram que a decisão de não ter filhos e o adiamento da maternidade é maior sobretudo entre mulheres com maior renda. De acordo com a Pnad 2021, no DF, nas RAs de alta renda, 82% das mulheres entre 30 e 34 e 63% entre 35 e 39 anos não têm filhos. Nas áreas mais pobres do Distrito Federal, a maternidade faz parte da vida de mais de 40% das mulheres entre 25 e 29 anos. Enquanto que entre as com renda alta, são só 8,8% com filhos.
Mudança na lei da laqueadura
Na semana passada, começou a valer a nova lei que facilita a laqueadura e vasectomia. Agora, por exemplo, não será mais exigido autorização do parceiro para fazer o procedimento e mulheres e a idade mínima passa a ser 21 anos.
Segundo a professora Ana Maria Nogales Vasconcelos, a mudança na legislação não deve impactar as taxas de natalidade. “As mulheres já estão tendo poucos filhos e mais tardiamente. Por outro lado, necessitamos de um fortalecimento na educação sexual e de saúde reprodutiva nas escolas para meninas e meninos para evitar a gravidez na adolescência. A laqueadura não previne a gravidez precoce. Geralmente a laqueadura é realizada em mulheres que já têm o seu número desejado de filhos, pois significa esterilização”, explica.
Apesar disso, a especialista destaca que a lei é um avanço para as mulheres. “Essa lei significa para as mulheres uma autonomia. Elas poderão decidir sobre os seus próprios corpos. Não necessitarão de autorização de parceiros para decidir sobre a opção de não ter filhos. Em termos de direitos, isso é um avanço.”
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