CRIMES FINANCEIROS

Operação Difusão Vermelha: Golpistas que dessem mais prejuízos a investidores eram premiados

Investigações conduzidas pela 9ª Delegacia do Distrito Federal constataram que fraudadores eram inspirados em personagem de Leonardo Di Caprio no filme "O lobo de Wall Street". Nas festas dos criminosos, havia ostentação de riqueza e distribuição de bônus

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 07/03/2023 07:44 / atualizado em 07/03/2023 19:31
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

 Lisboa, Portugal — As investigações de golpes financeiros em brasileiros a partir de empresas fantasmas criadas em Portugal constataram que havia premiações para aqueles que cometiam as maiores fraudes, ou seja, davam os maiores prejuízos às vítimas. E todo o esquema era baseado na veneração ao personagem Jordan Belfort, de O lobo de Wall Street, interpretado por Leonardo Di Caprio.

“Em festas da empresa, havia premiações aos melhores ‘vendedores’ e grande ostentação de riqueza. Nos grupos de WhatsApp da empresa, os ‘gerentes’ incentivavam os ‘vendedores’ a ver o filme e eram, sistematicamente, induzidos ao mesmo comportamento. O lema na empresa era: ‘Pensem em vocês e em suas famílias, esqueçam as vítimas’”, relatou o delegado Erick Sallum, da 9ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal, responsável pela Operação Difusão Vermelha, que desbaratou o esquema.

Ao longo das investigações, o líder da organização criminosa — preso no aeroporto de Frankfurt, Alemanha — chegou a ser interrogado pela autoridade policial. Ele contratou advogados no Brasil, mas exigiu ser ouvido em sua língua materna (theca). Alertado de que o depoimento seria em inglês, fingiu não entender nada, fazendo-se de desentendido. Mas a investigação já tinha obtido diversos vídeos em que ele falando inglês fluente.

“Tudo isso comprovou a sua má-fé e seu absoluto desrespeito às autoridades brasileiras. Mesmo após saber que estava sendo investigado, manteve sua operação criminosa e ainda expandiu sua atividade, abrindo outros três escritórios e contando com mais de 150 brasileiros contratados”, detalhou o delegado, lembrando que a PCDF recorreu ao mesmo expediente usado pelos criminosos para conseguir as provas das fraudes contra investidores lesados em mais de R$ 16 milhões.

Segundo Sallum, com o intuito de enganar as vítimas brasileiras, os criminosos usavam aplicativos que mascaravam os números internacionais — as ligações partiam, sobretudo, de Portugal. “Eles sabiam que ligar de números internacionais para assediar brasileiros teria baixa eficácia. Ao simular número com o DDD 61, conseguiam que as vítimas atendessem à primeira ligação e, assim, fossem hipnotizadas pelas falsas promessas de rentabilidade”, disse.

Recorrendo à mesma tática, policiais da PCDF usaram igual aplicativo para simular números portugueses. “Isso fazia com que os funcionários da empresa atendessem às ligações da PCDF, oportunidade em que eram intimados a prestar esclarecimentos via videoconferência. Sem terem como alegar que não sabiam da intimação, eram forçados a comparecer e prestar esclarecimentos. A partir destas informações, a PCDF montou o quebra-cabeça”, detalhou.

Na operação desta terça-feira (7/3), foram expedidos seis mandados de prisão. Com a ajuda da Interpol, foram detidos quatro pessoas em Lisboa e o líder do grupo, na Alemanha. Outro bandido está foragido. Estima-se que milhares de brasileiros tenham sido lesados a partir da estrutura fraudulenta montada a partir de Portugal.

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