CPI dos Atos Antidemocráticos

Defesa de número 2 de Torres: baixa movimentação explica ação na Esplanada

À Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), advogados de defesa de Fernando de Sousa Oliveira apresentaram um memorial alegando que "boletins" enviados ao governador Ibaneis eram repassados por meio de informações vindas da PMDF que não via risco por parte dos supostos manifestantes

Pablo Giovanni
postado em 07/03/2023 05:50 / atualizado em 07/03/2023 05:51
 (crédito:  Rinaldo Morelli/CLDF)
(crédito: Rinaldo Morelli/CLDF)

Os representantes do ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) Fernando de Sousa Oliveira enviaram, à Câmara Legislativa (CLDF), um memorial com informações e conversas pelo WhatsApp do ex-número 2 da pasta, nos momentos que antecederam os atos extremistas de 8 de janeiro.

O documento mostra que Fernando só soube que o então secretário Anderson Torres viajaria para os Estados Unidos em 5 de janeiro. Ele também apresentou mensagens trocadas em um grupo relatando que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) empregaria um efetivo de 600 policiais.

Os advogados de Fernando, que também é delegado federal, citam no documento enviado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos que ele não era secretário titular da pasta no dia 8, destinando, assim, a responsabilidade da falta de comando da SSP a Anderson Torres. "Note-se que nos dias 7 e 8 de janeiro o peticionante se reporta constantemente ao ex-secretário Anderson Torres, por meio de mensagens e áudios, sobre o andamento da operação, o que demostra que, apesar de estar em viagem, o mesmo estava no comando da secretaria", diz trecho do memorial.

No documento, os representantes do delegado reforçam que Fernando foi incluído em dois grupos de WhatsApp após assumir a função de secretário-executivo: "Perímetros de segurança" e "Difusão, que participavam integrantes da segurança, como Anderson Torres; o então comandante-geral da PMDF, Fábio Augusto Vieira; oficiais e praças da PMDF; delegados e agentes da PCDF; policiais legislativos e judiciais; e agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em troca de mensagens em um desses grupos, integrantes da PMDF repassaram dados relatando tranquilidade na Esplanada no dia 8.

"A informação que tenho é que está tranquilo até agora", diz o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, ex-comandante do 1º Comando de Policiamento Regional (1º CPR), às 3h01. "Temos um bom efetivo na Esplanada desde às 7h e vai aumentando no decorrer da manhã e do dia", reiterou o oficial, já na manhã do dia 8. Vídeos e fotos de monitoramento por meio de câmeras de segurança também foram anexadas pelos oficiais da PM. Em um deles, às 12h53, a Esplanada estava ocupada por bolsonaristas, mas em uma quantidade bem menor.

Já em uma troca de mensagens pelo privado com a subsecretária de Operações Integradas, coronel Cintia Queiroz, Fernando cobra relatório da "última parcial" para ele enviar ao governador, na noite de 7 de janeiro. Às 5h49, de 8 de janeiro, a oficial encaminha uma mensagem informando a chegada de 87 ônibus com manifestantes, além do número das placas. Pouco depois, a coronel detalha a Fernando que haverá um grande efetivo. "A PMDF empregará um efetivo de 600 policiais militares, temos ainda o efetivo do DETRAN, CBMDF, DER, DFLEGAL", relata.

No diálogo com a coronel Cintia, ela detalha que a tendência é que o acampamento de bolsonaristas aumente, "com a anuência do Exército". "Doutor, o efetivo a ser empregado pela PMDF está maior que o costumamos empregar", sinalizou. De acordo com Fernando, essas mensagens eram repassadas ao governador Ibaneis Rocha (MDB) por meio de relatórios que ele encaminhava em áudios.

Após o boletim enviado ao governador, ainda na manhã do dia 8, novas mensagens sobre o monitoramento da Esplanada foram reproduzidas no grupo. No memorial, mostra que integrantes da segurança pública relatam que a situação era tranquila na parte da manhã, e que haveria uma caminhada pacífica de manifestantes para a Esplanada por volta das 13h de 8 de janeiro e, mesmo com manifestantes no gramado central, a situação era tranquila. Essa manifestação, segundo a defesa do delegado federal, era "previsto no planejamento" do Protocolo de Ações Integradas (PAI).

Pouco contingente na Esplanada

"Em termos práticos, as mensagens, fotos e vídeos apontavam para uma baixa movimentação de pessoas na Esplanada, com um grupo alocado próximo à Praça das Bandeiras, sendo que o contingente maior de pessoas estava descendo o eixo monumental acompanhado pela PMDF", alegam os representantes do ex-secretário-executivo.

Essas mensagens teriam embasado o polêmico áudio enviado a Ibaneis sobre a situação da Esplanada, às 13h23. "Saliente-se que o rompimento das barreiras de contenção do Congresso Nacional, se deu por volta das 14h50, ou seja, 1h30 após o envio do áudio ao governador, o que afasta eventual narrativa de conivência ou omissão quanto à conduta do peticionante (Fernando)", afirmam os advogados. "O que se percebe claramente, por meio das imagens, é um erro de execução no planejamento tático operacional da PMDF com um subdimensionamento de efetivo e tropas especializadas no teatro operacional, aliado a uma aparente passividade de alguns policiais, que não exerceram suas funções de conter e reestabelecer a ordem", garantiram os advogados.

Após esse episódio, a defesa do ex-secretário não anexou informações sobre o diálogo durante e após os atos golpistas. "O memorial disponibilizado pelo Fernando servirá como suporte na oitiva da coronel Cíntia. Ele tem muito a explicar sobre o dia 8. Aquela primeira barreira de contenção não tinha nem 20 policiais. Dá para deduzir, então, que não havia 600 policiais na segurança do 8 de janeiro", disse Chico Vigilante (PT).

"Ele (o memorial) vai ser importante para o relatório final. Fica claro que o secretário Anderson Torres tratou com descaso o dia 8. Ele queria coordenar de lá dos Estados Unidos e, com o memorial, também dá para apurar definitivamente sobre a omissão (de Torres)", completou o presidente da CPI. O Correio também procurou a PMDF sobre qual foi o quantitativo disponibilizado pela corporação, mas não teve resposta. 

 

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Próximos depoimentos

Dia 9: ex-secretário Anderson Torres e ex-subsecretária Marília Ferreira Alencar

Dia 16: coronéis Jorge Eduardo Naime e Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues

Dia 23: ex-secretário Júlio Danilo e o tenente-coronel Jorge Henrique da Silva Pinto

Dia 30: ex-comandante e coronel Fábio Augusto Vieira

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