feminicídio

A educação é o caminho para mudar a forma de enxergar a mulher

Evento do Correio vai debater ações para o enfrentamento de crimes contra mulheres. Duas mortes ocorridas ontem reforçam a importância de se discutir políticas para conter o elevado número de casos registrados este ano

Arthur de Souza
postado em 03/03/2023 05:54 / atualizado em 03/03/2023 05:55
 (crédito: Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

Em meio à disparada do número de feminicídios no Distrito Federal em 2023, o Correio vai promover um evento para falar especificamente sobre os motivos desse crime bárbaro e quais devem ser as formas de enfrentamento. Até agora, oito mulheres foram mortas neste ano. O número representa quase a metade de todos os casos de 2022 — quando 18 casos foram registrados na capital do país. 

Os casos de feminicídios mais recentes ocorreram nesta quinta-feira (2/3). Em Taguatinga Norte, Letícia Barbosa Mariano, 25 anos, foi espancada até a morte pelo namorado, Guilherme Nascimento Pereira, de acordo com as investigações da Polícia Civil (PCDF). No Riacho Fundo 2, Rayane Ferreira de Jesus Lima, 18, foi assassinada pelo companheiro, Jobervan Júnio Lopes Lima, dentro de casa. 


 

O evento será realizado em 7 de março, das 14h às 18h, e tem como tema "Combate ao feminicídio: uma responsabilidade de todos". Confirmaram presença a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que vão participar da abertura; a ministra do Superior Tribunal Militar (STM) Maria Elizabeth Rocha; e a juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Rejane Jungbluth Suxberger.

Outra personalidade confirmada, a presidente da Comissão de Enfrentamento à Violência Doméstica contra a Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), Cristina Tubino, afirma que 2023 tem sido um ano excepcional em relação aos casos de feminicídios. "Em termos de números de mortes de mulheres, tivemos oito consumadas e tantas outras tentadas que nem aparecem nas estatísticas", destaca. 

A advogada acredita que esse número alarmante de ocorrências em apenas 60 dias sejam reflexo de algumas políticas adotadas nos últimos anos, como a flexibilização do uso de armas, além de um aspecto em comum nas ocorrências: a existência de uma relação íntima de afeto entre vítima e autor. "Talvez, a forma enviesada de pensar e de ver o relacionamento, por parte do homem, esteja causando a morte de tantas mulheres", observa Cristina. 

Entrevista

Cristina Tubino,

presidente da Comissão de Enfrentamento à Violência Doméstica contra a Mulher da OAB/DF

 

Que peso tem a falta de políticas públicas de promoção da igualdade de gênero e de prevenção e combate a este crime sobre as mortes dessas mulheres?

A gente tem que pensar que, antes de tudo, esse tipo de crime é decorrente de uma questão de relação de poder. Em muitas situações, os homens consideram as mulheres como suas propriedades e não sujeitos de direito. Então, essa forma de ver a mulher e a relação precisam ser mudadas desde o momento da educação, trazendo medidas de prevenção para as escolas, por exemplo.

Qual é a importância de eventos como o Correio Debate, que vai tratar justamente desse tema na próxima semana?

São eventos importantíssimos, pois coloca várias pessoas que atuam na área, com visões diferentes, vindas do Legislativo, do Judiciário e do Executivo. São iniciativas assim que fazem com que a gente possa trazer novas ideias e olhares para esse problema que é tão complexo e que está em uma escalada, pintando um futuro muito ruim para as mulheres.

Qual é o caminho para que a gente possa criar cidadãos conscientes de que mulheres são seres de direitos e devem ser respeitadas e não assassinadas quando dizem "não" para qualquer que seja a vontade masculina?

O caminho é mudar a forma de ver a mulher, por meio da educação. Quando chega no Judiciário e temos que noticiar um feminicídio, a gente está na ponta do problema. O nosso grande objetivo é evitar a violência, pois, caso contrário, nos tornaremos "enxugadores de gelo" profissionais, sempre punindo quem cometeu esse tipo de crime. O que temos que fazer é conscientizar para prevenir, e isso a gente faz desde os primeiros anos de vida da criança, mostrando que meninos e meninas têm os mesmos direitos, além de mudar um pouco essa ideia dos papéis sociais que temos e do que é trazido, historicamente, para as futuras gerações.

Se essas medidas fossem adotadas ao longo deste ano, em quanto tempo teríamos menos mulheres sendo assassinadas no contexto de gênero?

É difícil estipular um prazo preciso, tendo em vista que é um problema muito complexo e com diversas variáveis. O mais importante a se pensar é que, quanto mais cedo implementarmos as mudanças, mais cedo os resultados virão. Essas soluções podem ser: alterações legislativas; medidas, campanhas e providências; ou a mudança na educação, como foi citado na última resposta.

Colaborou Adriana Bernardes

 

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