Mais da metade da população adulta do Distrito Federal está endividada. Em números absolutos, há 1,2 milhão de pessoas com o nome negativado no DF, com inadimplência de cerca de R$ 8,6 bilhões. Brasilienses relatam a luta diária para sair do vermelho, como o geógrafo David Dias de Araújo, 40 anos, que está trabalhando em dois empregos para quitar uma dívida resultante de um golpe que levou. Entre esta terça-feira (28/2) e sábado (4/3), moradores de Brasília e de regiões próximas terão a oportunidade de renegociar presencialmente suas dívidas no Feirão Serasa Limpa Nome, que acontecerá na Rodoviária do Plano Piloto. Economistas ouvidos pelo Correio apontam que a educação financeira é essencial para que a população não se afogue em dívidas.
No perfil dos devedores, 53,1% são do sexo masculino, e a maior parte (35,6%) tem entre 26 e 40 anos, seguido pelas pessoas com idade entre 41 e 60 anos (34,7% do total). David Dias faz parte desse grupo de inadimplentes. Ele tinha a vida financeira sempre controlada, mas viu sua estabilidade se desmoronar após problemas com contratos na reforma de sua casa. O geógrafo sofreu um golpe de R$ 20 mil de uma empresa de móveis planejados, e agora está sem os móveis e o dinheiro.
"Foi um baque, pois sempre fui muito bem planejado com todos os gastos da obra, agora tenho de me virar para resolver o problema", ressalta. O morador da Asa Sul teve que fazer uma dívida para contratar outro serviço que realizasse o trabalho da empresa anterior. "Dei uma entrada para empresa que deu o golpe que foi muito grande, estou tendo que trabalhar em dois empregos, fazendo um extra e dormindo apenas três horas por dia", destaca David. Ele diz que as novas dívidas estão apertando o orçamento. No entanto, não descarta fazer um empréstimo para quitação das cobranças.
A servidora pública Lívia Veleda de Sousa e Melo, 40, também tinha a vida financeira controlada, mas por causa de um consignado acabou sendo prejudicada. Ela fez a portabilidade de um consignado que tinha num banco para outro, mas se tratava de um golpe. "Foi a primeira vez que acumulei uma dívida desse tamanho, fiz o financiamento do meu apartamento dentro dos meus limites. Agora acumulou tudo e minha vida financeira ficou uma bagunça", lamenta. A moradora da Asa Norte diz que o valor da dívida está sendo descontado direto no contracheque dela e que metade do seu salário está indo embora.
Bola de neve
Economista e professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo explica que o endividamento, geralmente, decorre da falta de educação financeira. "Aquelas pessoas que não têm um conhecimento adequado gastam mais do que elas recebem, virando uma bola de neve. Você vai aumentando seu endividamento até um ponto que não consegue pagar mais", comenta. "Nem todo endividamento é ruim, desde que você faça isso como um investimento. "Às vezes, você compra uma casa financiada por exemplo, você pode estar se endividando, mas se fez as contas, tem uma renda que pode pagar é mais tranquilo", explica.
César Bergo destaca ainda a importância do Estado na conscientização da população com relação à educação financeira. "Enquanto responsável pela educação no país, o Estado deveria incluir nos currículos escolares a obrigatoriedade de noções de educação financeira. Além disso, a responsabilidade deveria ser também de toda sociedade organizada como: associações, entidades, bancos, comércio, indústria, escolas etc", salienta o professor.
De acordo com o economista, é preciso mais consciência dos bancos no momento de propor financiamento e empréstimos para seus clientes evitando piorar ainda mais sua situação. Ele explica que é papel dos bancos orientar a população quanto ao uso consciente de crédito mas que, na prática, isso acontece de uma maneira um pouco diferente. "O banco deve fidelizar o cliente, mas não é o que acontece na maioria das vezes. Pois, os gerentes acabam sendo cumpridores de metas e começam a empurrar crédito no consumidor", salienta.
No DF, de acordo com o Serasa, o maior número de inadimplentes está no segmento financeiro (bancos e cartões de crédito). Segundo César, uma opção é a negociação. "O cliente pode buscar junto ao banco pedindo um bom desconto, com um longo prazo de prestação e uma fatura menor que caiba no bolso dele", conta. Usar os conhecimentos e habilidades para fazer uma renda extra ou vender itens de valor também são citados pelo economista como soluções para a população levantar verba e abater no valor das dívidas.
Para o economista e educador financeiro Francisco Rodrigues, é importante fazer sempre um pente fino financeira na própria conta. "Acompanhar constantemente extratos bancários para saber se está usando limite de cheque especial ou cartão de crédito e gastar sempre dentro da própria receita", orienta. O educador sugere ainda que a população monitore constantemente a situação do próprio CPF para ver se não caiu em golpes financeiros, além de tomar cuidado com a generosidade excessiva. "Segundo o SPC, 15% das pessoas que estão com nome no SPC e Serasa é porque emprestaram o nome para terceiros", revela. Por fim, o profissional orienta as famílias a conversarem entre si sobre finanças e terem consciência coletiva. "É importante evitar desperdícios, consumir conscientemente a água, energia e alimentos", pontua.
Como renegociar
A partir desta terça-feira (28/2), Brasília recebe, pela primeira vez, a edição física do Feirão Serasa Limpa Nome, o maior evento de renegociação de dívidas do país. Até sábado (4/3), moradores do DF e regiões próximas poderão renegociar presencialmente suas dívidas. O feirão acontece no estacionamento superior da Rodoviária do Plano Piloto.
Na ocasião, também será possível renegociar débitos em aberto com a Caixa Econômica Federal, que estará com atendimento presencial em tenda montada na Rodoviária. De acordo com o economista-chefe do Serasa, Luiz Rabi, o principal fator que levou o Serasa a levar o primeiro Feirão presencial do ano foi o grande número de pessoas endividadas no DF.
O Feirão Limpa Nome também está disponível pelos canais digitais da Serasa até 31 de março. Esta edição traz 425 empresas parceiras, de diversos segmentos, como bancos, financeiras, securitizadoras (que compram dívidas), companhias de telefonia, varejistas, universidades e outros, oferecendo opção de pagamento via Pix, a baixa da negativação instantânea e descontos de até 99%. Confira no quadro ao lado o passo a passo para renegociação no app do Serasa.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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