Jornal Correio Braziliense

QUALIDADE DE VIDA

Horta no Sudoeste une comunidade em torno da sustentabilidade

Na Horta Comunitária criada no Parque do Bosque, o manejo de ervas medicinais, hortaliças, frutas e flores tornou-se um cuidado coletivo dos moradores do Sudoeste, como a aposentada Ikuyo Nakamura

O que antes era um espaço público que servia de entulho transformou-se em um ambiente saudável, de utilidade pública e de aprendizado coletivo. Na Horta Comunitária do Parque do Bosque no Sudoeste, criada em 2015 por um morador da região, há diversas plantas medicinais, flores, locais para descanso e até coleta de lixo orgânico em resíduos para compostagem. Quem caminha pelo local, percebe o afeto nos enfeites e nas placas de aviso para o cuidado com as plantas.

Desde 2016, a aposentada Ikuyo Nakamura, 79 anos, cuida diariamente da horta e perdeu a conta de quantas espécies existem. É que tornou-se uma cultura entre os moradores ir ao local para deixar mudas. "A pessoa que vem e se interessa, mostro como trabalhamos, e pedimos uma vaquinha para cuidar da horta com os materiais de cultivo. Além de tudo, a pessoa tem que ter carinho com as plantas", afirma a cuidadora. Para embelezar a área, Ikuyo organiza uma expansão da horta de forma ornamental, com tocos de madeira para fazer um caminho das duas portas de acesso do parque até a horta, com 500 mudas em volta para o projeto de paisagismo com cercamento e expansão da área.

Outro cuidado que Ikuyo demonstra, durante as visitas, é para que as pessoas verifiquem quais plantas são medicinais e quais não são. Ela dá o exemplo da lantana, uma planta tóxica, parecida com erva-cidreira, que alguns moradores costumam confundir e pegam para fazer chá. "O importante é a comunidade ter conhecimento do que é uma planta medicinal, porque pode gerar mal-estar", explica.

O local está aberto para visitação comunitária das 6h às 22h — horário de funcionamento do parque. Para combinar a doação de mudas ou sementes, há um grupo de mensagens no celular. Moradora pioneira no cultivo das plantas, a aposentada Leonor Noji, 66, orgulha-se de ajudar na produção da horta. "Estou desde o começo no cultivo das plantas. Então, criei a mania de guardar a semente de tudo o que a gente come", relata. Ao caminhar pela horta, ela lembra com carinho que, no fim do ano passado, trouxe das Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF) uma espécie rara de limão japonês, com oito mudas no espaço. "Comprei porque a fruta nunca tinha aparecido aqui e não se encontra para vender. É um prazer participar da produção dessa horta para preservar o parque e dar uma imagem de reutilização desse espaço, que ainda conta com uma composteira", opina Leonor.

Lixo orgânico

Erineu Meirinho, 70, outro morador que abraçou o projeto, comenta que reúne dez sacos de resíduos depositados na composta, e demora de 45 a 60 dias para o material se transformar em adubo. Em junho de 2022, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) doou uma composteira de metal para guardar o resíduo. "Ao mesmo tempo que armazenamos para adubar a terra, o material gera o biofertilizante, com a grande vantagem de misturar em um litro de água, jogar nos canteiros e ser reutilizável", analisa.

O cuidador é considerado o marceneiro da horta, principalmente por ter sido criado na roça, em Braço do Trombudo, em Santa Catarina, município a mais de 200 quilômetros de Florianópolis. "Fui criado com vaca, porco, galinha, e estou revivendo a minha infância", emociona-se Seu Erineu, como é carinhosamente conhecido. Com o trabalho dele e dos demais colaborares, o espaço mais que dobrou. 

Ao saber da compostagem de lixo orgânico, no meio do ano passado, a servidora pública Vanessa Zanin, 41, passou a ir duas vezes por semana à horta com a filha, Carolina Zanin Sampaio, 5, para deixar casca de frutas e verduras nas bacias de coleta. "Sou preocupada com gestão de resíduos sólidos, e estava pensando em diminuir o lixo, soube da composteira pública e o Seu Irineu me explicou como funciona", relata a moradora, que não se prende ao fato de residir em um apartamento e prioriza ter contato com a natureza, junto com a filha. "Brasília tem essa opção de ter muitas árvores frutíferas. A gente fica olhando as plantinhas e colhe algumas. As crianças de hoje em dia saem do prédio para a escola, para o shopping. Se não tiver distração com a natureza, ficam alienadas. No domingo, compramos um abacate e ela [a filha] falou para a gente plantar a semente", detalha.

Segundo a Administração Regional do Sudoeste e Octogonal, a área da Horta Comunitária do Bosque é autorizada para cultivo. A inclusão da área no Parque Urbano do Bosque do Sudoeste ocorreu em fevereiro deste ano, com projeto autorizado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh). Serão colocados 135 metros lineares de cerca para que a horta fique dentro do parque. Atualmente, ela é acessada pelo lado de fora do local, mas duas portas internas foram instaladas. Dessa forma, a área verde totaliza 900m². A Administração Regional fornece mão de obra para obras, auxilia nas podas e fornece água para o espaço. 

 

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Ed Alves/CB/DA.Press - De forma voluntária, moradores plantam ervas medicinais, hortaliças e flores
Ed Alves/CB/DA.Press - 27/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. De forma voluntária, moradores plantam ervas medicinais, hortaliças e flores, dentro do parque do Sudoese. A horta, que começou pequenininha, ganhou mais espaço. Na foto Ikuyo Nakamura.
Ed Alves/CB/DA.Press - A servidora pública Vanessa Zanin, 41, e a filha Carolina, 5, são frequentadoras assíduas do espaço
Ed Alves/CB/DA.Press - 27/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. De forma voluntária, moradores plantam ervas medicinais, hortaliças e flores, dentro do parque do Sudoese. A horta, que começou pequenininha, ganhou mais espaço. Na foto Vanessa Zanin e sua filha Carolina.
Ed Alves/CB/DA.Press - 27/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. De forma voluntária, moradores plantam ervas medicinais, hortaliças e flores, dentro do parque do Sudoese. A horta, que começou pequenininha, ganhou mais espaço. Na foto Vanessa Zanin e sua filha Carolina.
Ed Alves/CB/DA.Press - A horta, que começou pequenininha, ganhou mais espaço a partir da união coletiva
Ed Alves/CB/DA.Press - O local está aberto para visitação das 6h às 22h e recebe doações de mudas e sementes
Ed Alves/CB/DA.Press - 27/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. De forma voluntária, moradores plantam ervas medicinais, hortaliças e flores, dentro do parque do Sudoese. A horta, que começou pequenininha, ganhou mais espaço. Na foto Ikuyo Nakamura.
Ed Alves/CB/DA.Press - Os vizinhos Ikuyo Nakamura, 79, e Erineu Meirinho, 70, assumiram cuidar da Horta Comunitária
Ed Alves/CB/DA.Press - 27/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. De forma voluntária, moradores plantam ervas medicinais, hortaliças e flores, dentro do parque do Sudoese. A horta, que começou pequenininha, ganhou mais espaço. Na foto Ikuyo Nakamura.
Ed Alves/CB/DA.Press - 27/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. De forma voluntária, moradores plantam ervas medicinais, hortaliças e flores, dentro do parque do Sudoese. A horta, que começou pequenininha, ganhou mais espaço.
Ed Alves/CB/DA.Press - Área de 900m², autorizada para cultivo, foi incluída pelo GDF no Parque do Sudoeste