Estava certa sobre qual seria o tema da crônica de hoje. Mas uma triste notícia tornou uma mudança de rumo necessária. Assim, de maneira trágica e surpreendente, Brasília perdeu uma de suas mais brilhantes professoras. Não era apenas vocação o que tinha Vânia Leila Nogueira. Era isso e muito mais. Ela começou a ensinar muito antes de ter recebido um diploma que a autorizava a lecionar — o que também fez, incansavelmente, em salas de aula de escolas públicas e em universidades.
Conheci Vânia por meio da também querida e talentosa professora Gina Vieira Ponte, sua prima, que a indicou para uma entrevista de uma série de reportagens que eu escrevia à época sobre a então embrionária Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Até então, eu não sabia o tamanho da grandeza daquela mulher. Percebi a destreza e a capacidade para tratar de um tema que alguns professores ainda desconheciam. Professora do ensino fundamental e também de didática, ela entendia a importância de se ter uma base curricular que igualasse as expectativas e guiasse a aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens de norte a sul do país.
A entrevista havia sido por telefone, e só a vi pessoalmente algum tempo depois, durante o lançamento do livro Mulheres Inspiradoras, fruto do premiado trabalho de Gina com estudantes de Ceilândia. O projeto por sinal virou política pública e levou a transformação a outras centenas de estudantes e professores da rede — e certamente, com o comprometimento do poder público, continuará levando. Ali, pude testemunhar o aconchego provocado pelo sorriso de Vânia Leila e a potência que sua presença impunha. Nos falamos mais algumas vezes, também por telefone, ela sempre generosa, compartilhando contatos úteis para minhas pautas de educação.
Depois disso, Vânia se aposentou, fez um novo curso no Instituto Federal de Brasília, dedicou-se a consultorias e a aulas na graduação. Alguns detalhes de sua carreira e da vida pessoal eu desconhecia até a última sexta-feira. A conexão espiritual e a experiência com Ikebana; o neto e os filhos que deixa; os pais. Aprendi ainda mais com os relatos da professora Gina. A prima Vânia era a mais velha e foi exemplo para as gerações que vieram depois: homens, mulheres, meninos e meninas. Primeira a se formar no ensino superior, a se tornar professora e servidora pública, e a fazer o mestrado. Ela própria uma mulher inspiradora.
A enxurrada de homenagens nas redes sociais é apenas uma pequena demonstração do tanto de amor que Vânia Leila espalhou, em aulas, palestras, palavras, conversas ou entrevistas. Fico com o privilégio de poder ter sido inundada por seu sorriso, mesmo que por alguns instantes apenas, e torço para que eu e tantos mais nos deixemos iluminar pela energia que ela transborda e nos permitamos ser um pouco "Vânia" todos os dias.