Mesmo depois de um feriadão intenso e com muita folia, brasilienses saíram de casa para aproveitar o pós-festa. O sentimento que prevaleceu foi saudade. A comemoração de carnaval no Bloco RivoTrio, na quadra 205 Norte, foi regada por sons de trompetes, músicas populares, danças circenses e, ainda, uma banda só de mulheres. Como uma grande procissão, o grupo saiu caminhando por volta das 19h em direção à quadra 207 Norte. A estudante de serviço social Liz Medeiros, 23 anos, fez parte da caminhada como porta-bandeira e comparou o atual momento com o período pandêmico, quando as pessoas não tinham acesso ao contato humano. "É engraçado pensar que, há dois anos, ninguém chegava perto um do outro. Agora, estamos nas ruas, grudados, fazendo arte, na bagaceira, fazendo tudo junto sem saber que horas acaba. É muito gostosa essa liberdade de ser feliz, isso é carnaval", comemorou.
Por ali, o britânico Jack Ball, 29, também estreava na comemoração. Morador da capital desde 2020, o biólogo conta que estava curioso para conhecer o carnaval no quadradinho. "É maravilhoso isso aqui, muito incrível. Na Inglaterra, não temos nada parecido com o carnaval. Estou muito feliz, muito diferente essa alegria coletiva", destacou. Com ele, a namorada brasiliense Leticiaa Legat, 39, lembrou que a folia nunca acaba. "É uma festa muito mágica, fico triste com o fim, mas temos aí o carnaval e vamos continuar."
A moradora da Asa Sul, Clara Villar, 36, contou ao Correio que a volta do carnaval veio como uma ferramenta para lavar a alma. “Esse carnaval veio para acalmar os corações desses anos de pandemia. Rever os amigos, voltar a ensaiar com os blocos é um diferencial. É muito bom realmente ter um encerramento desta festa”, disse. Acompanhada pelo filho, Martín Villar, 2, a doula conta que apresentar a folia para o menino foi uma novidade, porque ele nasceu durante o período de isolamento. "É a primeira vez que ele presencia uma rua cheia, com pessoas fantasiadas, animadas e sem máscara. Estamos de volta com muita liberdade ”, finalizou.
A secretária executiva, Tatiana Nepomuceno, 41, ressaltou que, apesar da falta de tradição, o carnaval da capital não deixa a desejar. "Os bloquinhos merecem cada vez mais ter o espaço e o respeito que merecem. Sempre me divirto e estava com muita saudade da energia de Brasília. Vou curtir esse e todos os outros que vierem aqui, sempre."
Quem também não perde uma celebração de Momo é a psicóloga Adriana Farage, 58. Para ela, a festa representa alegria. “Essa volta foi tudo para mim, senti muita falta dessa bagunça na rua e essa felicidade. A gente pode se soltar e ser livre e é muito bom. Não perco um carnaval, e agora estamos de volta com muita comemoração, música e amigos. Não quero acabe.”
Essa vontade de seguir comemorando, de alguma forma, está atrelada ao hiato de carnaval em razão da pandemia de covid-19. Por isso, muitos curtiram até o último segundo, como foi o caso do baiano Carlos Valdi, que esteve na Brazfolia 2023, em Brazlândia, com a neta Sofia, de 4 anos. "Amo carnaval e sou morador de Brazlândia. Não podia perder o evento. Não consegui curtir o carnaval, mas a ressaca não podia perder", disse.
Uma estrutura de três mil metros quadrados foi montada para receber 10 mil foliões no Brazfolia 2023. Ao todo, sete atrações animaram o evento, incluindo duas bandas de sucesso nacional: Companhia do Pagode e Patrulha do Samba. "Neste ano, a celebração é especial, pois, em junho, também comemoramos os 90 anos de Brazlândia. Além disso, vamos emendar o Brazfolia com a Festa da Goiaba, que será no dia 3 de março", comentou Magson dos Santos, um dos organizadores do evento.
Alguns blocos da capital, no entanto, acabaram não saindo ontem. Segundo relatos de integrantes do Bloco do Gagá, por exemplo, a folia precisou ser cancelada porque a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec) não teria repassado o valor necessário para a realização da festa. A reportagem entrou em contato com a pasta, mas, até a publicação desta reportagem, não houve resposta.
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