Envelhecer faz parte da vida. Por diversas circunstâncias, como rede familiar frágil ou mesmo dificuldades financeiras, alguns idosos acabam encontrando abrigo em lares, que proporcionam conforto e companhia às pessoas de idade mais avançada. No entanto, para se manter, esse tipo de iniciativa, na maioria dos casos, são necessárias doações. Pensando nisso, um grupo de trilheiros e caminhantes da região de Santa Maria, decidiu unir esporte e solidariedade, e fazer uma trilha para arrecadar recursos para o Lar de idosos Casa de Jacó, por meio do projeto Trilhando Caminhos.
Segundo a organizadora, Gislaine Souza, 46 anos, a ação é realizada há 2 anos, sempre com foco em juntar caridade e caminhadas pela natureza. O grupo tem diversas passagens por regiões como Santa Maria, Sobradinho, Taguatinga e Riacho Fundo 1. "Todos os meses realizamos caminhadas e trilhas na natureza, em lugares pouco conhecidos pelas pessoas de Brasília, aproveitamos para ajudar instituições que precisam", afirmou.
O sucesso do projeto é tanto que, em média, 500 pessoas participam anualmente. Com isso uma grande quantidade de itens é angariada para atender as instituições escolhidas. "Arrecadamos desde alimentos, material de limpeza e higiene pessoal, carnes, entre outros. Em valor, ficamos em cerca de R$ 1 mil a R$ 3 mil, a cada mês ou bimestre, dependendo do desempenho no local", disse.
Histórias de quem já trilhou
Os benefícios do projeto são tantos que não ficam só para quem recebe as doações, mas também para quem participa do projeto. Não é raro encontrar relatos de pessoas que fizeram a trilha e saíram com amizades e boas lembranças que vão muito além do percurso e ficam para a vida toda.
Para participar de algo tão especial, nada como começar em uma data igualmente importante. Esse é o caso da professora aposentada Rita Campos, 58. A moradora do Guará passou a participar no dia 21 de abril do ano passado, justamente no aniversário de Brasília. Na oportunidade, o percurso foi urbano, passando por diversos pontos da cidade. "Caminhamos pela Praça do Cruzeiro, igreja Rainha da Paz, Oratório do Soldado, Praça dos Cristais, Quartel General do Exército e voltamos para o gramado em frente a praça do Cruzeiro, onde fizemos um piquenique e assistimos ao pôr do Sol. Foi lindo."
Desde então, ela não parou mais e a sequência de participações foi marcada por outro evento pra lá de especial. A organizadora do projeto se casou justamente em uma das trilhas, que além de ter como cenário as belezas do Cerrado da capital, uniu muita solidariedade e alegria à festa. "A cerimônia foi muito bonita. Aconteceu no Lago Oeste, depois de uma pequena caminhada. O presente de casamento e pagamento foi a doação de cestas básicas para o Lar de Jacó", recordou.
Ao longo das edições que participou, Campos também levou consigo boas lembranças e amizades com quem tem contato até hoje, e o melhor: tudo com muita solidariedade. "Foram muitos momentos de amizade, apoio, risos verdadeiros, cuidados, diversão e contemplação da natureza. Consciência tranquila de estar ajudando a quem precisa e desfrutando de momentos especiais com pessoas especiais!", lembrou.
Trilha e terapia
Quem também faz questão de participar em todas as edições é o servidor público Michel Duarte, 41. Ele pratica trilha há três anos, mas conheceu o projeto no ano passado. Assim, como aconteceu com Rita, depois da primeira experiência, não parou mais e agora participa sempre que pode. "Comecei a trilhar com uma agência de turismo. Gislaine e Jaelson eram os condutores. Eles me ajudaram a gostar dessa atividade. De lá para cá eu os acompanho quando posso", explicou. Uma prática que tem trazido muitos benefícios. "Uso a atividade para ter equilíbrio mental e físico. A atividade ao ar livre em grupo tem sido como uma terapia para mim."
Embora tenha começado nas trilhas recentemente, o morador de Valparaíso já está nos caminhos da caridade há algum tempo, também responsável por uma iniciativa voltada para esse fim: o projeto "Toda ajuda é importante. Na trilha arrecadamos alimentos, mas ela também motivou outro tipo de doações. Algumas pessoas visitaram o lar de idosos, outras deixaram doações mesmo sem ter ido na trilha. Movimentamos uma rede de ajuda."
Alegria para quem recebe
O lar do idoso Casa de Jacó é beneficiado pelo projeto há dois anos. A coordenadora do local, Edilene Ferreira, afirma que a parceria tem feito a diferença na qualidade do atendimento prestado. "Dependemos totalmente de parceiros para a manutenção e continuidade dos cuidados aos idosos. O recebimento dessa doação tem feito grande diferença para a Instituição", ressaltou.
Hoje, a casa atende 43 idosos, com idade entre 60 e 91 anos. Para manter o cuidado com eles algumas doações são fundamentais e contribuem para dar àqueles que chegaram na terceira idade uma boa qualidade de vida, como alimentos, produtos de limpeza e de higiene pessoal.
Pode parecer pouco, mas para quem recebe, essa pode ser uma grande ajuda. Segundo Ferreira, os idosos não escondem a alegria e a gratidão ao receberem as doações. "As reações (dos idosos lúcidos) são as melhores possíveis. Não tem preço vê-los felizes ao presenciar o recebimento das doações", afirmou emocionada.
Como ajudar?
Segundo Gislaine Souza, organizadora do projeto, a população também pode ajudar, realizando doações diretamente para a entidade, com alimentos e outros itens, ou com dinheiro a ser depositado na conta bancária do lugar. "O aluguel, além de contas de energia e água correspondem a mais de 40% das despesas do lar."
A coordenadora do lar dos idosos também destaca que a divulgação do projeto e da instituição é outro eixo importante com o qual as pessoas podem contribuir. "Há pessoas que não conhecem, ou não sabem que as instituições dependem de colaboradores para conseguir manter esses idosos. Doar nos faz pessoas melhores", concluiu.
*Estagiário sob a supervisão de Suzano Almeida