O contraste da alegria do carnaval e a violência se repetiu no Distrito Federal. O Bloco dos Raparigueiros registrou episódios lamentáveis de violência. Segundo balanço da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), ao menos 10 pessoas foram atendidas, vítimas de objetos perfurocortantes. Furtos e tentativas de latrocínio também deram a tônica das ocorrências.
Se comparado a 2019, houve queda nas ocorrências. Naquele ano, quando o bloco se encontrou no Eixo Monumental com a Baratona, foram 12 esfaqueados, de acordo com a Polícia Militar. Ainda assim, o medo tomou conta da folia.
A sensação de insegurança vai de encontro ao que foi planejado pelo Governo do Distrito Federal, que montou a Cidade da Polícia, ao lado da Torre de TV, com o intuito de reduzir problemas de segurança durante a folia. Integrados, polícias militar e civil, Corpo de Bombeiros, DF Legal, entre outros, participam do monitoramento das festas, buscando no menor prazo possível dar resposta aos casos de violência.
Com o policiamento no local, foram registradas 75 ocorrências por furtos — a maioria, de celulares —, nove roubos, cinco casos de lesão corporal, duas tentativas de latrocínio e uma de homicídio. Não houve registro de crimes de violência sexual, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
O número de armas apreendidas também foi grande. A Polícia Militar registrou a apreensão de 27 facas e uma arma de fogo, desde o sábado (18/2). Drogas, canivetes, tesouras assustaram pela quantidade.
De acordo com o GDF, as linhas de revistas começaram ainda na Rodoviária do Plano Piloto, de onde chegou a maioria dos foliões. Entretanto, o fato de as pessoas chegarem por todos os lados e o bloco ocorrer em um espaço aberto, dificultou a ação preventiva das forças de segurança.
"O Raparigueiros é um bloco que se notabiliza por esses episódios, inclusive, marcados pelas redes sociais. Tínhamos um grande número de policiais, fizemos várias linhas de revista que apreenderam 27 facas e outros objetos. A polícia coibiu o que poderia ter sido um número ainda maior de ocorrências de violência. É inviável que esse bloco continue da forma que está. Vamos reavaliar se eles permanecem saindo dessa forma ou se vão para um lugar fechado", declara o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar. "Se eles continuarem, precisamos levar o bloco para um local onde tenha apenas uma saída e uma entrada."
O presidente da Bloco dos Raparigueiros Zanata Gregório se isenta da responsabilidade. Segundo ele, a estrutura dada foi para um público de 30 mil pessoas, mas o evento recebeu mais de 100 mil, no domingo.
"Conversamos com todos os órgãos e o Ministério Público. Recebemos FAC (Fundo de Apoio à Cultura) para 30 mil e contratamos toda a estrutura. Não posso proibir o público de participar. O evento começou às 17h. Não teve revista. Uma coisa é na revista pegar as facas, outra coisa é encontrar elas já no meio do público. Ninguém leva o público que nós levamos", afirma Zanata Gregório.
Segundo o presidente, as brigas não deveriam ser motivo para o fim do bloco. Ele propõe novas conversas e a criação de um circuito de bloco com mudança de local. "Estamos sendo penalizados, mas, se não dá para ser assim, vamos precisar rever."
Violência
Desde sábado, início do esquema de segurança do carnaval, a Polícia Militar do Distrito Federal registrou ao menos três esfaqueamentos e uma tentativa de feminicídio.
Ontem, um jovem de 20 anos foi esfaqueado no ombro e na perna. Ele foi encontrado no meio da rua e socorrido com vida pelo Corpo de Bombeiros. Os militares o levaram para ser atendido no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), consciente.
No sábado, Marcos Antônio Ribeiro, 25, foi assassinado no estacionamento do Hospital de Santa Maria. Enquanto esperava uma amiga receber alta médica, o jovem se desentendeu com um rapaz de 17 anos e acabou esfaqueado no peito, nos braços e na barriga. Marcos chegou a ser socorrido. A Policia Militar prendeu dois suspeitos.
No domingo, uma briga terminou com a morte de Marcos Antônio Santos Araújo, de 49 anos, na feira de Santa Maria. Segundo uma testemunha, o mecânico teria chegado com a namorada do suspeito.
Diante dos recentes fatos, o secretário Sandro Avelar pondera que a maior parte do efetivo policial está empenhado na segurança do carnaval, o que não exime a segurança nas regiões administrativas, que, segundo ele, está sendo feita. O chefe da Segurança Pública, por sua vez, lamenta o ocorrido e destaca que o efetivo, desde sua primeira passagem pela pasta, foi reduzido. "A população cresceu muito e esse período sacrifica nossas forças. Quando eu assumi em 2011 tínhamos 15.670 policiais militares, agora, temos pouco mais de 10 mil."
Desconfiança
O Distrito Federal vive dias de suspeição em sua segurança pública. Após ataques terroristas aos prédios dos três poderes, em 8 de janeiro, o governo federal realizou intervenção na segurança pública do DF. O comando das forças policiais passou às mãos de um interventor.
Após o período, Sandro Avelar foi o escolhido para o cargo de secretário de Segurança Pública. Diante de possíveis ameças de federalização e de olhos vivos sobre o Distrito Federal, o chefe do órgão avalia como positiva a atuação. "Teremos mais de 1 milhão de pessoas nas ruas. Estamos demonstrando eficiência. Teremos resultados melhores do que em anos anteriores", garante.