O que a palavra carnaval remete para você? Festa? Alegria? Cores? Música? Ou apenas um feriado para descansar? Entre a muvuca e os trios elétricos muitas histórias acontecem e ficam marcadas na memória. Aqui na capital não é diferente, muitos brasilienses carregam o período carnavalesco como um símbolo essencial de suas trajetórias.
Para a pedagoga Laura da Silva, o carnaval nunca mais foi o mesmo desde 1998. A moça, que na época coordenava excursões de ônibus, saiu de Brasília rumo a Salvador. O que ela não imaginava é que aquela viagem mudaria sua vida para sempre. Entre as diversas paradas que o ônibus fazia no trajeto, uma delas foi na cidade de Santana. Laura aproveitou a parada para esticar as pernas e se deparou com seu primo Maurício que também estava indo para Salvador com o amigo Luiz Cláudio para curtir o carnaval.
Assim que bateram o olho um no outro o clima logo surgiu entre Laura e Luiz. Os dois rapazes não tinham conseguido hospedagem na cidade, todos os hotéis e pousadas estavam lotados por conta da festividade. Diante da situação, a pedagoga resolveu convidá-los para ficarem na casa que ela havia alugado para ela e para os outros passageiros da excursão. Laura na época tinha 21 anos e Luiz 22. Eles se conheceram em uma sexta e já começaram a namorar no domingo. O recém formado casal curtiu o circuito de carnaval de Salvador juntos. Mesmo ambos morando a duas ruas de distância em Ceilândia, só foram se esbarrar no litoral baiano.
Ao retornarem para Brasília não se desgrudaram mais e uma semana depois Laura descobriu que estava grávida. O casal, então, decidiu que iria morar juntos. O primo de Laura, Maurício brincou com a situação e disse que se o bebê fosse menino teria que se chamar Salvador. Porém em Novembro de 1998, nasceu a menina Ketlen, fruto desse amor de carnaval. Vinte e cinco anos depois o casal segue junto e com mais uma filha.
"Nunca imaginei que isso iria acontecer, não queria me envolver com ninguém na época. Mas hoje eu afirmo que amor de carnaval dá certo sim", garante a pedagoga.
Bloquinho particular
Quando se trata do amor, a criatividade não tem limites e todo esforço é válido para fazer a pessoa amada se sentir especial. A prova disso é o advogado Marcello Lavenére que tinha um namoro de longa data com a médica Ana Beatriz Leão, quando decidiu que era a hora de assumir novos compromissos dentro do relacionamento e pedir a moça em casamento. Ambos sempre gostaram de celebrar o carnaval, tanto na capital quanto em meio as frevos de Olinda.
Com a volta do período carnavalesco este ano, Marcello se viu diante da oportunidade perfeita de eternizar a relação. O advogado recrutou os amigos e familiares e decidiu que faria um bloquinho particular para o pedido de noivado. Para que o momento fosse de fato único, o rapaz não mediu esforços e pensou nos mínimos detalhes, com orquestra, marchinha autoral, estandarte e fogos. "Achei que um bloco seria a melhor maneira de simbolizar a nossa história de forma concreta", conta Marcello. Para despistar a amada, ele combinou com ela de ir ao bloquinho de pré carnaval que sairia do bar Primo Pobre, localizado na Asa Norte. Ana Beatriz se fantasiou e achou que seria apenas mais uma folia ao lado do namorado. No meio da festa que já estava acontecendo, de repente surgiu o bloco surpresa para Ana, com um estandarte enorme escrito "Vou te dar o anel nesse carnaval", Marcello pegou um alto falante e cantou a marchinha que ele próprio havia feito para a ocasião:
Bia, Diga Sim Pra Mim
Por Este Nosso Amor Que É Sem Igual
Vou Te Dar O Anel No Carnaval
Te Dou Meu Coração Que É Folião
Você Me Dá Em Troca Sua Mão
Entre Neste Bloco, Pule Este Frevo
Fique Coladinha Em Mim
Para O Nosso Amor Não Ter Mais Fim
Basta Que Me Diga Sim!
Diga Sim Pra Mim
Diga Sim Pra Mim
Para Viver A Nossa Eterna Folia
Bia, Diga Sim Pra Mim
Para Viver A Nossa Eterna Folia
Bia, Diga Sim Pra Mim
Diante da euforia que contagiou todos ali presentes, o rapaz fez um discurso e fez o tão pensado pedido de casamento à Ana Beatriz. A moça conta que não suspeitou de nada. "Muitos momentos especiais da história foram vividos no carnaval. Quando ele me pediu em casamento em forma de bloco foi uma grande emoção. No primeiro momento eu fiquei em choque, sem conseguir compreender tudo aquilo que estava passando, demorou um pouco pra cair a ficha porque eu não suspeitava. Depois disso, foram tantas boas lembranças que passaram na minha cabeça, senti um amor imenso, muita alegria de viver isso, e posso afirmar que foi o sim mais feliz da vida! Não tenho dúvidas de que quero passar o resto da minha vida ao lado de Marcello", relatou a médica.
Agora noivos, os dois pretendem se casar daqui a dois anos tendo a certeza que o casamento será em Olinda. "Em algum momento do fim de semana do casamento, ou da própria festa, irá sair um bloco no meio da cidade para comemorarmos devidamente", pontuou Marcello.
Tradição
Foi no baile de carnaval do Clube do Rocha em 1987, no Setor de Clubes Sul de Brasília que a gestora de RH Chrystiane Travassos, na época com 19 anos, conheceu Elenilson. Ali mesmo, em meio à folia, começaram a namorar. A mãe de Crys assustada com a situação falou para a menina que "namoros de carnaval começavam e terminavam no carnaval" e que o romance dos dois não iria durar mais do que aquela noite. No final do baile, o rapaz foi falar com o pai de Crys e afirmou que a partir daquele momento, ele o iria vê-la com muita frequência.
O namoro de fato ultrapassou aquela festa e, como dois apaixonados por carnaval, eles curtiram o bloco do Pacotão na edição seguinte. Com cerca de um ano e meio juntos, se casaram. O amor rendeu três filhos e uma tradição, ir todos os anos fantasiados juntos ao bloco no pacotão e assim foi nas 31 edições seguintes, sem falhar em nenhuma sequer.
Em 2019, Elenilson precisou ser hospitalizado para tratar de um câncer, mas Crys fez questão de fazer um bloquinho dentro do hospital para que a tradição do casal fosse mantida, mesmo em meio às adversidades. Aquele foi o último carnaval antes da pandemia e também o último que o folião Elenilson celebraria ao lado de sua amada. "Posso afirmar uma coisa, se eu pudesse voltar no tempo eu faria tudo do mesmo jeito, eu fui muito feliz com ele", conta a gestora de RH.