Jornal Correio Braziliense

MEIO AMBIENTE

Nível dos reservatórios de água do DF está baixo para fevereiro e preocupa

Socioambientalista alerta para risco de racionamento e afirma que a causa da queda do volume de água nos principais reservatórios é a destruição do bioma no Centro-Oeste

A segunda bacia mais importante do Distrito Federal, de Santa Maria, que atende mais de 511 mil moradores, está com 79,6% do volume de água, o que representa uma baixa de 20,3% quando comparado aos últimos anos. Em 2022 e 2021, o reservatório estava mais cheio e registrava 100%. Na mesma data de 2020, a bacia operava com 96,6% da capacidade.

Apesar da baixa, o nível está acima do valor de referência para o mês de fevereiro, que é de 75%. Para o Descoberto, que está com 97% de volume de água, o nível está mais acima do que a referência, que é a mesma de Santa Maria. Os dados são da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa).

É importante lembrar que mesmo estando dentro da margem, a população precisa ficar atenta a diminuição do volume de água nos principais reservatórios que abastecem o DF, afirma Thiago Ávila, socioambientalista, especialista em água e saneamento. "Quem é do DF lembra bem o que é a escassez de água, principalmente em algumas comunidades periféricas que chegaram a ficar nove dias sem distribuição de água. Embora não pareça, existe um risco real de voltarmos à mesma situação ou pior nos próximos anos", observa o especialista.

Normalmente, as pessoas associam o baixo volume nos reservatórios à pouca chuva na capital, mas as precipitações de fevereiro estão dentro da média esperada, explica Dayse Moraes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Até o dia 16, Brasília acumulou 121mm, enquanto no mesmo período do ano passado foram 192,4mm. A média para o mês é de 179,5mm. Em janeiro deste ano, a capital acumulou 199,4mm, mais do que o registrado em janeiro de 2022, que marcou 138mm.

O socioambientalista ressalta que a causa da queda do volume de água nos principais reservatórios que abastecem o DF é, na verdade, a destruição do bioma no Centro-Oeste. “A destruição promovida pelo agronegócio seca nascentes, promove o acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica no fundo dos rios e diminui a vazão dos mananciais. Um outro motivo é a especulação imobiliária que, com o objetivo de alavancar o mercado, derruba áreas de cerrado nativas e impermeabiliza o solo com cimento, concreto e asfalto", ressalta Thiago. Além disso, as mudanças climáticas globais também fazem com que os níveis dos reservatórios estejam baixos. "A emergência climática altera o ciclo das chuvas", explica.

Para reverter a crise, são necessárias mudanças importantes, destaca Thiago. "Os principais aspectos são a defesa do cerrado, o fortalecimento das políticas públicas de saneamento e água, a educação ambiental, o apoio a políticas de transição, como agroflorestas, e a captação de chuva." Segundo ele, esses pontos são essenciais para que o DF também se torne referência no que se diz respeito à gestão das águas. "O envolvimento da comunidade em formas de gestão popular sobre a política de águas também é fundamental", completa.

Relembre o racionamento de água

Em 16 de janeiro de 2017, começou a restrição no abastecimento em regiões atendidas pelo reservatório do Descoberto, responsável pela distribuição de água de cerca de 60% da população do Distrito Federal. Após 43 dias, as pessoas que tinham casas abastecidas pela barragem de Santa Maria, que contempla cerca de 24% dos moradores da capital, enfrentaram o rodízio.

Mesmo após a medida restritiva, o nível das barragens caiu ao longo do ano. Em novembro, o reservatório do Descoberto chegou a 5,3% da capacidade total, o menor nível da história. O reservatório de Santa Maria chegou em situação crítica com 21,9%, em novembro. No entanto, com o início do quadro chuvoso na capital, o volume voltou a subir.

Para onde vai a água?

No Brasil, 70% da água distribuída vai para o agronegócio, 22% para a indústria e apenas 8% para o consumo urbano, tendo uma grande diferença de disponibilidade entre bairros ricos e áreas pobres, destaca o socioambientalista. "No DF, temos bairros como o Lago Sul, que tem uma média de consumo quatro vezes acima do recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ao mesmo tempo, temos regiões cujo consumo é menos da metade do recomendado pela ONU, como é o caso da Chácara Santa Luzia, localizada na Estrutural", relata Thiago.

Para que a capital não sofra com o desabastecimento, é tarefa de toda a população dar o exemplo através de ações individuais que inspirem outras pessoas, daquelas que aprendemos ainda quando crianças. Economias simples como banho mais rápidos, escovar os dentes com copinho, instalar descargas de duplo acionamento e fazer uso racional de água na hora da limpeza, são exemplos mais imediatos que cumprem o papel para ajudar na economia.

Previsão do tempo

Nesta quarta-feira, o DF deve continuar com o clima abafado e chuvoso, de acordo com o Inmet. Há previsão de pancadas de chuvas acompanhadas por trovoadas e rajadas de vento, principalmente à tarde. A temperatura deve registrar a máxima de 28ºC e a minima de 17ºC. A umidade deve ficar entre 90% e 55%.

Cobertura do Correio Braziliense

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

Notícias no seu celular

O formato de distribuição de notícias do Correio Braziliense pelo celular mudou. A partir de agora, as notícias chegarão diretamente pelo formato Comunidades, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp. Assim, o internauta pode ter, na palma da mão, matérias verificadas e com credibilidade. Para passar a receber as notícias do Correio, clique no link abaixo e entre na comunidade:

 

 

Apenas os administradores do grupo poderão mandar mensagens e saber quem são os integrantes da comunidade. Dessa forma, evitamos qualquer tipo de interação indevida.