O governo do Distrito Federal pretende inaugurar duas creches em áreas rurais. A informação é da secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, à jornalista Adriana Bernardes, no CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília. Hélvia também mostrou como será o uniforme dos alunos da rede pública de ensino para 2023. Comentou ainda a medida sancionada pela governadora em exercício, Celina Leão (PP), para que frutos nativos do cerrado, como pequi, buriti e mangaba, entre outros, sejam incluídos na alimentação escolar.
"A gente vai primeiro fazer um teste de aceitabilidade para ver se a criança realmente come. Já pensou numa fruta que lembra a pinha, que é a ariticum. Você faz uma mousse, um suco delicioso. Não necessariamente a criança vai comer aquilo in natura, abrindo a fruta e comendo. Ela pode vir de outras formas também, para enriquecer o cardápio. Nós estamos muito otimistas", afirmou.
Qual é o tamanho da rede de ensino no Distrito Federal?
Somando com as creches, nós passamos de 800 escolas. É um universo gigante. As escolas da rede são 680. Os centros Interescolares de línguas (CILs), que têm em todas as regionais de ensino, ministram a língua inglesa no contraturno, além do espanhol, alemão, japonês. Temos também as escolas parque, que prestam também esse serviço no contraturno ofertando algumas atividades para os estudantes. Existe uma grande rede para atender os alunos na integralidade.
No começo de ano, principalmente com esse período chuvoso, volta e meia há problemas com salas de aulas inundadas e outras sem capacidade de comportar a demanda. Como está isso para este ano?
Olha, a gente não para de construir. Nós estamos, atualmente, com 21 obras em construção, porque o Distrito Federal não para de crescer. Até agora, nós temos 470 mil estudantes matriculados para este ano — 10 mil a mais que no ano passado. Então, a gente precisa ter mais salas de aula para atender, tanto o aluno que vem para a rede porque, às vezes, o pai perdeu o emprego e a renda da família caiu, ou mesmo porque acredita que a rede pública de ensino é de qualidade. A prova está aí. O resultado da Universidade de Brasília (UnB). Todas as escolas de ensino médio tiveram aprovação de estudantes para UnB — ou pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) ou pelo vestibular. Sempre tem um crescimento (da rede pública) ano a ano.
Esse acréscimo de 10 mil alunos, além da questão econômica, a senhora atribui a que? Percebe algum outro movimento para esse incremento de público?
A mudança de governo na área federal. Vêm muitas famílias de fora para compor os quadros dos ministérios, além, também, de muitos alunos transferidos. Como eles tomaram posse nos seus cargos agora, houve um acréscimo bem significativo nesse sentido.
O que podemos esperar de obras na área da educação?
A procura maior que nós temos é por creche. Então, nós estamos construindo nove creches neste momento, para entregar ao longo do ano de 2023. Cada creche recebe entre 200 e 220 alunos, porque tem que ser um público reduzido para que haja um atendimento mais adequado, nessa faixa etária de 4 meses a 3 anos de idade, porque, depois, eles são incorporados pela rede pública. Nosso gargalo, no momento, é a creche. A procura é altíssima.
Qual é a demanda reprimida, secretária?
Olha, nós reduzimos até 7 mil (crianças), mas com a pandemia "brotou" muita criança. Eu acho que o pessoal ficou em casa e isso gerou, assim… um aumento bem significativo. Hoje nós temos em torno de 13 mil crianças aguardando na fila, e atendemos aproximadamente 30 mil crianças.
Para zerar essa fila, são necessárias quantas creches?
Teríamos que ter mais de 100 creches para zerar a fila.
Há orçamento para isso?
A dificuldade é a construção, porque ela nem sai na rapidez que nós queríamos. (...) As chuvas intensas este ano deram uma atrasada nas nossas obras. Isso no Distrito Federal como um todo. Mas a gente continua. Têm muitas creches já em processo para licitar. Acredito que até o fim do governo Ibaneis Rocha pelo menos umas 40 creches a gente quer entregar. Mas temos, também, por um outro lado, as instituições parceiras. Nelas, o dono tem, suponhamos, 100 estudantes matriculados pagando, mas tem 100 vagas sobrando. Então, a gente compra essas vagas também, que é o chamado Cartão Creche. Isso nos deu um fôlego de mais de seis vagas atendidas. Tem nos ajudado também.
Sobre creches, a senhora disse que serão entregues duas em áreas de campo. Onde ficam? Já vão funcionar em 2023?
Vão começar a funcionar e já estão prontinhas para a gente inaugurar. Uma creche fica nos Jardins, na região de Sobradinho, que é área rural, e a outra fica em Pipiripau, em Planaltina. Nós vamos avançar. Essa é uma parceria nossa com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) e com a Secretaria de Agricultura. Por quê? Porque já existia essa construção nessa área na Emater, que era um polo de atendimento. Eles cederam o espaço e nós fizemos a adaptação (para uma creche). Agradeço muito a eles sobre essa sensibilidade de contribuir para atender a mãe do campo, porque ela também trabalha. Ela vai para a lavoura colher o tomate, que volta para a rede pública, que a pasta compra pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Então, ela não tem onde deixar a criança. Com esse olhar cuidador, vamos entregar mais duas creches agora e teremos mais duas para serem entregues até o fim do ano.
Sobre alimentação e merenda escolar, há novidades para este ano, com a valorização de alimentos do cerrado. Quais serão os produtos que estarão à disposição no cardápio?
No ano passado, a gente resolveu inovar e fazer um MasterChefe, com o nome Sabor de Escola. Foi um sucesso, porque as merendeiras pegaram tudo que elas utilizam no cardápio e fizeram pratos bem gourmetizados. Agora, vem essa novidade, que é a incorporação de frutos do cerrado ao cardápio, além das plantas alimentares não convencionais e os orgânicos. Há muito tempo existe o desejo da rede que a gente possa substituir as hortaliças por hortaliças orgânicas. A agricultura familiar precisa de um tempo, porque nós vamos comprar aquilo que eles podem fornecer neste momento. Não é que eu vou colocar de repente na merenda escolar tudo orgânico, porque eles nem teriam braço para essa oferta. Mas, à medida que a gente vai aumentando a compra, eles vão aumentando a produção. Além disso, eles também vão nos fornecer os frutos do cerrado. A gente vai primeiro fazer um teste de aceitabilidade para ver se a criança realmente come. Já pensou numa fruta que lembra a pinha, que é a ariticum. Você faz uma mousse, um suco delicioso. Não necessariamente a criança vai comer aquilo in natura, abrindo a fruta e comendo. Ela pode vir de outras formas também, para enriquecer o cardápio. Nós estamos muito otimistas.
A senhora diz que vai ampliar a parceria com a compra dos produtos dos pequenos produtores para atender a demanda da rede. Era de quanto e vai passar para quanto?
Em torno de R$ 27 milhões, e a gente quer chegar a mais de R$ 30 milhões para as cooperativas. Agora, serão incluídos os orgânicos e as frutas do cerrado, que a gente vai passar pelo teste de aceitabilidade, vendo a quantidade que eles têm pra nos ofertar. Tudo isso está sendo estudado entre a Emater, a Secretaria de Agricultura e a Secretaria de Educação.
Uma das novidades para 2023 é o novo uniforme. Pela primeira vez, o GDF vai fornecer uniforme para todos os alunos. Por que essa decisão?
O governador Ibaneis Rocha, em uma conversa que tivemos, disse que queria a rede pública inteira: "então eu não quero saber se é uma criança carente ou não, todos têm que receber". Eu falei: "tá bom!". Tem a bermuda e tem também o chamado enxoval de inverno, que é o casaco com a calça azul. A camiseta tem o nome da escola atrás, porque é questão de segurança para o próprio estudante. Todo esse uniforme foi escolhido pela comissão que teve a participação popular.
A senhora comentou antes de entrarmos no ar que, para esse uniforme sair agora, foi preciso pegar um avião e ir para outro estado agilizar o processo.
Fui conversar com a governadora em exercício Celina Leão e falei: "olha, a gente vai entregar o uniforme a partir de março". Ela me perguntou o porquê e eu disse que era porque o edital tinha esse tempo. Ela me disse para pegar o voo para onde está sendo produzido, lá em Santa Catarina — Blumenau e Maringá. E assim fizemos. Então, nós vamos começar na próxima segunda-feira já entregando o uniforme por regional (de ensino). Dividimos em 14 lotes. Vamos começar na Estrutural, que é ligada ao Guará, e em São Sebastião, até chegar em todas. Em março, a gente já vai ter entregue todo o uniforme de verão e vamos entregar o de inverno até abril.
São quantas peças para cada aluno?
São sete peças para cada aluno. A bermuda, o casaco, a calça, as camisetas de uniforme (duas) e as camisetas de educação física (duas).
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