Jornal Correio Braziliense

Investigação

De Paris, Neymar depõe à Polícia do DF, mas depoimento segue em sigilo

Astro do futebol mundial foi ouvido, nesta quarta-feira (01/02), como testemunha em caso que envolve uma corrente de diamantes avaliada em R$ 106 mil. Inquérito revela que não é a primeira vez que o jogador adquire uma joia das mãos de um criminoso

O jogador de futebol Neymar Jr, 30 anos, prestou depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na condição de testemunha em uma investigação que apura crimes de extorsão, agiotagem e lavagem de dinheiro. Acompanhado por advogados, o atacante da Seleção Brasileira de Futebol e do Paris Saint-Germain (PSG) foi ouvido, na tarde desta quarta-feira (01/02), por meio de uma videoconferência. O caso é conduzido pela Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) e está em sigilo. Por meio de nota, os investigadores confirmaram que o atleta — que reside na França — prestou depoimento. "Ele [Neymar] contribuiu com as investigações", destaca o texto.

cabeça do esquema seria o empresário Eduardo Rodrigues Silva, 36 anos, que segue detido por tempo indeterminado na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE). O acusado entrou na mira das autoridades após os investigadores constatarem uma forte rede de agiotagem e lavagem de dinheiro. Nas redes sociais, era comum Eduardo aparecer ao lado de grandes estrelas do futebol mundial, como Daniel Alves e o francês Kylian Mbappé. No perfil no Instagram (@eduardojoiass), já desativado, ele acumulava 74,9 mil seguidores e postava fotos exibindo uma vida de luxo, com carros caros e em viagens a lugares paradisíacos internacionais.

Amizade investigada

Eduardo foi um dos convidados em uma das festas de aniversário de Neymar, em Paris. De acordo com a Polícia Civil, a imprensa informou, à época, que as despesas dos convidados brasileiros para participar do evento — no dia 4 de fevereiro de 2019 — foram custeadas por patrocinadores do jogador. Em fotos publicadas em seu Instagram, Eduardo aparece ao lado de Joclécio Amancio dos Santos, conhecido como Jota Amancio, melhor amigo e assessor de Neymar. As mesmas fotos aparecem no perfil de Jota, seguido por 677 mil pessoas.

Redes sociais - Eduardo e Jota, empresário de Neymar, em aniversário do jogador

Ao craque do PSG, Eduardo vendeu uma corrente de ouro cravejada em diamantes, no valor de R$ 106 mil. Segundo as investigações, somente esse negócio, efetuado em março de 2019, representou mais de 81% das operações do esquema. No ano anterior, o empresário postou, nas redes sociais, fotos em que jogava poker com Neymar e em outra festa com o camisa 10 da Seleção Brasileira. Foram divulgadas, também, imagens publicadas em 22 de março de 2018, em que Eduardo entrega "mais uma joia feita com muito carinho para o gênio da bola", conforme escreveu na legenda, referindo-se a um anel de ouro. Ambos se seguiam nas redes sociais: Eduardo estava entre as seletas 1.713 pessoas seguidas pelo craque internacional.

Neymar Jr. foi intimado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para explicar a relação com o empresário, que se entregou na noite da segunda-feira, após passar três dias foragido, e está preso preventivamente. De acordo com o que foi apurado pelo Inquérito Policial, esta não seria a primeira vez que o jogador adquire ou recebe joias de pessoas envolvidas com lavagem de capitais. Investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro mostrou, em maio de 2017, que o craque do PSG adquiriu, em 2015, uma corrente de diamantes de Tiego Raimundo dos Santos Silva, vulgo TH, envolvido com tráfico de drogas e lavagem de capitais. Neymar teria pago R$ 45 mil pela joia, que traz as suas iniciais e a do seu filho, Davi Lucca.

Redes sociais - Joias roubadas eram receptadas e revendidas pelo grupo

Associação criminosa

Na terça-feira (31/01), a pedido da PCDF, a Segunda Vara Criminal de Águas Claras converteu a prisão temporária do empresário em prisão preventiva e foi prorrogada a prisão temporária, por mais cinco dias, de outros dois envolvidos, detidos na sexta-feira — data em que foi deflagrada a operação chamada Huitaca contra o grupo. Um quarto investigado foi solto.

De acordo com a investigação da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri), Eduardo é dono de uma loja de jóias em Taguatinga. No local, os agentes apreenderam joias roubadas que, segundo a polícia, eram receptadas e depois seriam revendidas. A empresa Conceito Comércio de Joias Eireli, de nome fantasia EJ Joias, tem como responsável Vitor Duarte Nunes, outro acusado preso. O inquérito apurou que, após 17 de setembro de 2019, a conta de Eduardo apresentou ausência repentina na movimentação, sem causa aparente. Porém, entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, em uma única conta do banco Itaú de Águas Claras, Vítor movimentou mais de R$ 3 milhões. Correntista desde julho de 2010, o braço-direito de Eduardo informou ser vendedor varejista, com renda mensal de R$ 12 mil.

A diligência também esteve, com mandados de busca, em um cassino de pôquer em Águas Claras e em uma marina da Asa Norte. A Justiça também determinou o bloqueio das contas vinculadas a todos os quatro envolvidos no esquema que, somadas, ultrapassam R$ 15 milhões, entre 2019 e 2021, além do sequestro de uma lancha e de veículos de luxo, como um Porsche e uma Rand Lover. A operação foi batizada com o nome da deusa mitológica da luxúria, Huitaca.

No decorrer das investigações, a polícia descobriu que Eduardo também atuava como agiota e financiador de pessoas que praticam furtos e roubos. Identificou-se, então, uma associação criminosa integrada da qual participavam Vitor, Bruno de Alencar Cabral Carvalho e Cleyton Viana de Souza. A diligência apontou que o empresário e os comparsas faziam transações bancárias entre si, envolvendo grandes somas. Chamou a atenção dos investigadores a transferência de R$ 95.630,00 para Cleyton, vulgo Quequé, que, no mesmo período, transferiu de volta R$ 57.250,00 para Eduardo. No período de 11 de março de 2020 a 10 de setembro de 2020, a conta movimentou a crédito mais de R$ 641 mil e, a débito, R$ 595,5 mil. No período, Bruno recebeu R$ 26, 5 mil dessa conta e R$ 20,3 mil diretamente da conta pessoal de Vitor.

A fraude contava, ainda, com a emissão de notas por uma empresa de fachada. Foi constatado, ainda, o surgimento de vários CNPJs simultâneos de empreendimentos que funcionaram por poucos dias, servindo apenas para dissimulação de valores ilícitos. Segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), as movimentações na conta são incompatíveis com o faturamento declarado e aparentemente sem relação com a atividade da empresa, diante do ramo das contrapartes. Ainda segundo o órgão, há recebimento de depósitos em diversas praças, inclusive de região portuária, bem como transações em espécie, que dificultam a identificação da real origem e destinação dos recursos.

Em 2017, Eduardo foi condenado a 5 anos e 4 meses de reclusão por extorsão e cumpria a pena em regime domiciliar. Já Cleyton aparece em 13 inquéritos policiais por diversos crimes, como associação criminosa, tentativa de homicídio, extorsão, contrabando e receptação.

 

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Roubo de carros

Uma organização criminosa especializada na venda de veículos roubados foi alvo da operação Hermera, desencadeada ontem pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri). Os policiais civis cumpriram 24 mandados de busca e apreensão em cinco estados do país. Estima-se que o grupo tenha lucrado R$ 1 bilhão. Até o fechamento desta edição, os investigadores haviam apreendido mais de R$ 1,7 milhões em posse dos suspeitos. O grupo entrou na mira da polícia há cerca de 10 meses, quando uma vítima comprou um carro produto de roubo em um site de vendas. "Descobrimos que o dinheiro do golpe foi sacado pelos autores apenas duas horas depois do crime. Essa rapidez com que eles reintegravam o dinheiro ilícito na economia formal chamou a nossa atenção", afirmou o delegado André Leite, coordenador da Corpatri. Para sacar os valores, os criminosos utilizavam dezenas de contas bancárias de pessoas físicas e de empresas. Em cinco anos, os estelionatários movimentaram R$ 1 bilhão. A polícia identificou ao menos 11 empresas suspeitas de receberem recursos ilícitos. (DD)