Se em vez de uma região administrativa, o Lago Sul fosse um município, seria o mais rico do país. A renda por habitante é de R$ 23.241, um montante três vezes maior do que o registrado no município mais rico do Brasil: Nova Lima, em Minas Gerais, onde a renda per capita é de R$ 8.897. Os dados foram divulgados, ontem, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e fazem parte de uma pesquisa denominada Mapa da Riqueza, que uniu a base de dados do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) à da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua). A alta renda concentrada no Lago Sul eleva a média do Distrito Federal, colocando-o em primeiro lugar como unidade mais rica da federação.
A pesquisa aponta ainda que o patrimônio por habitante no Lago Sul é de R$ 1,4 milhão, seguido pelo Jardim Botânico, cujo patrimônio por habitante é de R$ 588 mil. Em terceiro lugar, vem o Lago Norte, com R$ 505 mil por morador. Segundo Marcelo Neri, coordenador da pesquisa da FGV, o estudo permite mapear o fluxo de renda pelo Brasil para que políticas públicas de diminuição da desigualdade sejam aplicadas. "O grande objetivo da pesquisa é disponibilizar essa base de dados e mostrar onde estão os ricos no Brasil. Isso permite melhorar políticas de reforma de imposto de renda e imposto sobre patrimônio", pontua ele.
De acordo com a analista judiciária e moradora do Lago Sul Daniela Belga, 45 anos, a qualidade de vida na região administrativa é tão alta quanto a renda por habitante. "Moro aqui há 27 anos. Cheguei a morar no Sudoeste por um tempo, mas no Lago Sul há mais espaço, mais arborização, mais organização, trânsito melhor, ambiente mais bonito, além do acesso ao lago", comenta Daniela. No entanto, Daniela acredita que, se algumas melhorias forem feitas, a qualidade de vida dos moradores poderia ser ainda melhor. "A acessibilidade ao comércio não é tão boa quanto em outros bairros e há pouquíssimos locais de convivência pública (praças, parquinhos, quadra de esportes)", destacou a analista judiciária.
Saiba Mais
Desde o início da pandemia da covid-19, a corretora de imóveis Bianca Andressa percebeu que muitas famílias que antes residiam em regiões como Sudoeste e Noroeste passaram a migrar para o Lago Sul.
Além disso, a profissional observa um aumento de procura de casas na região por parte de investidores que compram imóveis para alugar. "Muitos clientes investidores procuram casas para comprar no Lago, principalmente os imóveis que são alugados para embaixadas, pois sabem que os contratos são mais duradouros", declara Bianca. A corretora observou ainda um aumento do número de casas no Lago Sul anunciadas na plataforma Air Bnb, onde imóveis podem ser alugados por curtas temporadas, o que mostra uma procura maior por casas no Lago Sul tanto para quem vem visitar a cidade, por um curto período de tempo, como para quem busca um lugar diferente para se hospedar e aproveitar o fim de semana.
O professor e urbanista Frederico Flósculo usa a ecologia urbana para explicar a alta concentração de renda no Lago Sul. A ecologia urbana estuda as relações ecológicas e socioambientais entre os seres vivos e o espaço urbano, além de buscar compreender a inserção dos sistemas naturais nas zonas urbanas e analisar como esses sistemas se comportam. "Essa evidência de alta concentração de renda no Lago Sul mostra que Brasília se comporta de acordo com a antiga e consolidada teoria da ecologia urbana. A teoria diz que a cidade tem territórios diferenciados por grupos de população. Mesmo quando se tem situação de mistura de populações com rendas variadas, esse tipo de ocorrência também é territorialmente, politicamente e historicamente determinados por fatores de evolução da cidade e do país", observa o especialista. "A concentração de renda do bairro o torna muito atrativo para a especulação imobiliária de luxo", acrescenta. "Precisamos compensar a ecologia do desequilíbrio para que os bairros mais pobres tenham equipamentos e compensações", finaliza.
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Renda média da população por região administrativa
Fonte: FGV Social
Lago Sul: R$ 23.141
Lago Norte: R$ 12.582
Jardim Botânico: R$ 12.453
SIA: R$ 12.348
Sudoeste/Octogonal: R$11.355
Brasília: R$ 11.056
Park Way: R$ 11.054
Fercal: R$ 8.429
Águas Claras: R$ 6.164
Sobradinho: R$ 6.077
Guará: R$ 4.706
Cruzeiro: R$ 4.513
Vicente Pires: R$ 3.635
Núcleo Bandeirante: R$ 2.676
Taguatinga: R$ 2.651
Gama: R$ 1.943
Candangolândia: R$ 1.806
Riacho Fundo I: R$ 1.616
Brazlândia: R$ 1.021
Samambaia: R$ 991
Santa Maria: R$ 900
Planaltina: R$ 846
Ceilândia: R$ 809
Recanto das Emas: R$ 556
Riacho Fundo II: R$ 522
Paranoá: R$ 478
São Sebastião: R$ 460
Sobradinho II: R$ 247
SCIA: R$ 193
Varjão: R$ 182
Itapoã: R$ 161