Mais de 100 blocos sairão às ruas do Distrito Federal no primeiro carnaval sem restrições desde a crise da covid-19. Com muitas opções, os brasilienses poderão curtir a folia de momo com festas para todos os gostos. O Correio selecionou alguns blocos e plataformas para os organizadores falarem sobre a expectativa da retomada do carnaval que eles querem proporcionar ao público.
Uma delas é a drag queen Ruth Venceremos, que, desde 2018, vem botando na rua o Bloco das Montadas, protagonizado por artistas drags e delimitado como um território da diversidade de gênero e sexual. Ruth é diretora-geral do bloco, que é promovido pelo Distrito Drag, coletivo que desempenha trabalho de formação e capacitação de pessoas LGBTQIA , além de lançar eventos culturais durante todo o ano.
O Bloco, que sai no domingo de carnaval, às 14h, no Setor Bancário Norte, já foi premiado duas vezes pelo CB. Folia como o melhor de Brasília, em 2019 e 2020. "Acredito que a causa desse reconhecimento é a diversidade não só do público e das atrações, como também das pessoas que trabalham no bloco, que procura contatar pessoas trans para ajudar a folia acontecer", sustenta. "A segurança é outro fator, nunca tivemos nenhum incidente grave nesses anos que saímos".
O carnaval de Brasília também tem blocos que animam o folião há décadas. "É um representante do carnaval da Bahia", descreve Jean Costa, fundador do Bloco dos Raparigueiros, que sai pelas vias da cidade há 31 anos. No som, hits tradicionais do carnaval baiano e novidades da música agitam a multidão, que chegou a quase 300 mil pessoas em uma das edições passadas. "A expectativa de reencontro com o folião é alta, apesar de este ano não termos podido fazer os ensaios, o pré carnaval e a confecção dos abadás, que são tradições do nosso bloco", confessa Jean.
O Bloco dos Raparigueiros tem concentração na Torre de TV, a partir das 17h, também no domingo (19/2). A multidão de apaixonados pelo carnaval fará o trajeto seguindo pelo Eixo Monumental até o Palácio do Buriti, onde fazem o retorno, descendo pela via S1, retornando ao ponto de concentração, onde os trabalhos são encerrados.
Para o produtor do Baratinha - que é um dos maiores blocos infantis da capital - e presidente da Liga dos Blocos Tradicionais, Paulo Henrique, a expectativa neste ano, em que o carnaval volta às ruas do DF, é tremenda. "Depois de dois anos reprimidos por conta da pandemia do coronavírus, as crianças vão receber da Baratinha uma energia de alegria surreal." O bloco Baratinha, que participa do carnaval desde 1990, procurou desde o início atender a comunidade infantil que não tinha condição de pagar os clubes para brincar no carnaval, que desde então ocorreu no Parque Ana Lídia. Este ano, ocorrerá em 19 e 21 de fevereiro, das 13h30 às 20h30.
O bloco do Pacotão estará cheio de críticas àqueles que apoiaram o governo Bolsonaro e também participaram dos atos antidemocráticos em 8 de janeiro, conta Wilson Veleci, um dos organizadores. "A ideia é trazer um carnaval de paz e democracia, com a vitória do presidente Lula e críticas ao que passamos nos últimos quatro anos. É um carnaval de esperança", diz.
O Pacotão está nas ruas desde 1978, com a proposta de trazer manifestações políticas, satirizar a cena nacional com marchinhas, faixas, cartazes e fantasias, sempre em tom de ironia e deboche, ao som de instrumentos característicos das fanfarras. A programação para 2023 é que o bloco fará a concentração na 302 norte, a partir das 10h de 21 de fevereiro.
Plataformas
Fortalecer o carnaval de Brasília enquanto patrimônio imaterial de formação cultural da cidade é o principal objetivo do Setor Carnavalesco. A plataforma vai trazer cerca de 40 atrações para o Setor Comercial Sul (SCS), entre os dias 17 e 21 de fevereiro. "Funcionamos como um espaço que fornece de maneira gratuita toda a estrutura e todos os serviços necessários para fazer uma grande folia, tendo a atração que se preocupar apenas com a parte artística e musical para a diversão do público", explica Rafael Reis, gestor do Setor Carnavalesco Sul.
A expectativa é que 50 mil pessoas passem pelo local nos cinco dias de festa, que terá dois palcos, espaço infantil e espaço de fanfarras. "Toda essa agitação movimenta uma engrenagem com dezenas de empresas prestadoras de serviços que geram centenas de vagas de trabalho. Solicitamos a elas, como contrapartida, que contratem pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social para trabalhar no evento", afirma Reis.
Outra plataforma de carnaval que vem fazendo história em Brasília é a Praça dos Prazeres, que nasceu da convergência de vários movimentos culturais e sociais da capital. O tema deste ano é o "Ministério do Namoro", uma alusão à declaração do então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva, que disse que no seu governo "todo mundo vai namorar".
Localizada na 201 Norte, a Praça foi celeiro de vários blocos e continua sendo terreno fértil para novas ideias para o carnaval, celebrado de diversas formas. Este ano, 36 atrações vão passar pelo espaço, que tem o respeito pela diversidade como uma de suas máximas.
Jul Pagul, coordenadora-geral da Praça dos Prazeres, destaca o apoio que a a plataforma dá a blocos tradicionais como Àsé Dúdú e o Galinho. "Também é nosso objetivo fazer com que os direitos culturais sejam efetivados em Brasília. O carnaval mobiliza milhares de brincantes nas ruas da cidade e temos o dever de manter vivo o nosso maior tesouro criativo e cultural do nosso país, que é o carnaval".
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