Os empreendedores têm encontrado no Distrito Federal um solo fértil para desenvolver seus negócios. A alta renda da população da capital da República é um dos fatores que ajudam a roda da economia girar com mais vigor. O perfil do consumidor brasiliense, que procura principalmente qualidade nos serviços e produtos ofertados, é também outro ponto que faz da cidade um bom lugar para apostar. Uma avaliação do governo federal posiciona Brasília entre os cinco melhores ambientes de negócios do país. A capital federal alcançou nota superior à média nacional na edição de 2022 do Índice de Concorrência dos Municípios (ICM), elaborado pelo Ministério da Fazenda, e está em quinto lugar entre 119 cidades avaliadas. Diante dos resultados divulgados, o Correio procurou as entidades e empresas do setor produtivo local para trazer um diagnóstico do cenário econômico para investimentos.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido Freire, concorda que Brasília seja uma cidade com forte vocação empresarial. "É uma cidade estável, e isso ajuda na segurança do investimento. Há uma capacidade enorme de crescimento e isso atrai empresas de outros estados e também de fora do país", ele observa. O empresário acredita que estar na zona central do Brasil e ser muito bem organizada são características atrativas de Brasília. "Temos o melhor aeroporto em termos de acessibilidade, voos para quase todas as capitais, de forma indireta, o que é um diferencial para o comércio exterior. A presença das embaixadas também auxilia muito e pode ser melhor explorada pelo setor de turismo, por exemplo", detalha.
José Aparecido reitera que houve uma melhora, mesmo em tempos de pandemia, e isso se explica pelo fato de que a Junta Comercial, que até o fim de 2018 era ligada ao governo federal — a única do Brasil neste modelo —, em 2019 foi trazida para o organograma do GDF. "Ficou mais fácil abrir uma empresa. Antes levava-se de 60 a 90 dias, mas hoje o processo é todo digital e instala-se uma firma em questão de minutos ou de horas", comenta. Aparecido lembra, ainda, que, para encerrar um empreendimento no passado, levava-se meses ou anos; hoje se faz isso em horas também. "É um atrativo saber que o setor produtivo tem parceria com o governo, isso gera segurança jurídica", avalia.
Oportunidades e desafios
Segundo o Ministério da Fazenda, políticas de desburocratização e desoneração tributária foram alguns dos pontos que contribuíram para o avanço da capital federal nas avaliações nacional e regional — no Centro-Oeste, é a campeã, seguida pelas vizinhas Goiânia e Anápolis. Como resultado, foram criadas 20,8 mil empresas no DF em 2022 — 15% a mais do que em 2021, de acordo com o governo local. A cafeteria Acorde 27 foi uma delas. O negócio começou em 2019, em Sobradinho, fundado por Rachel Lamar, 24, e o sócio Marcondes Trindade, 25. Hoje, a loja matriz permanece na região administrativa — em um espaço maior —, mas, em 2022, ano em que os negócios deram um salto, os dois e um terceiro sócio, Wendely Leal, 36, abriram mais duas unidades — uma no Lago Norte e outra na Asa Sul. Ao todo, as três lojas empregam 14 pessoas. "Sentíamos falta de um espaço confortável e agradável que oferecesse cafés especiais na cidade. Sabíamos muito pouco sobre o segmento e fomos aprendendo com o tempo", comenta Rachel. "Mas quando você faz algo bom, as pessoas valorizam", constata.
Rachel celebra os frutos e comenta que, apesar de haver muitas oportunidades, Brasília também impõe desafios para os pequenos negócios, como a dificuldade de locomoção. "Abrir um negócio fora do Plano Piloto também é desafiador, porque são cidades dormitórios. No início, foi preciso desenvolver estratégias para que o público nos conhecesse", ressalta.
A comerciante Beatriz Luca, 26, também festeja o bom momento. Ela trabalha com produtos de sex shop desde 2015, quando chegou de Unaí (MG). Em 2019, abriu a primeira lojinha física, que teve que ser fechada no ano seguinte, por conta da pandemia. A pausa não desanimou a mineira. Com o início da reabertura do comércio, ela aproveitou para levar os seus produtos para feiras e outros eventos de economia criativa. "O público passou a conhecer melhor o nosso trabalho e os clientes começaram a perguntar onde eles poderiam me encontrar para conhecer mais produtos", recorda Beatriz, que toca o negócio com o namorado, o francês Tristan Samuel, 37.
Na Infinu Comunidade Criativa, espaço que reúne lojas de marcas brasilienses e promove eventos culturais, a No Ponto Sexual Care começou com uma caixa colaborativa, iniciativa que reúne produtos de diversos segmentos disponíveis para venda ao público. Com o sucesso, logo surgiu o convite para que o negócio ocupasse uma das lojas do espaço. Beatriz destaca a importância dos eventos de economia criativa de Brasília, que reúne marcas locais e dá a oportunidade para que o público conheça os trabalhos dos pequenos empresários. "Isso facilita muito. Não é preciso muita grana para começar a construir o seu negócio. Basta você encontrar um bom nicho com o qual se identifique", sustenta. Ela explica que, para o segmento em que atua, é fundamental o contato direto com o público, que valoriza, sobretudo, a qualidade e um atendimento mais aproximado. "A alta renda da população ajuda muito também. Aqui, a gente não percebe queda de venda no final do mês. O público de Brasília está disposto a pagar mais caro por um produto melhor. Com o dinheiro rodando mais rápido, é mais fácil investir em qualidade", comemora.
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Industrialização urgente
Brasília foi escolhida por gigantes como o grupo Inframérica, que anunciou R$ 700 milhões na construção de um complexo que inclui um shopping, um centro de entretenimento e um centro de logística ao lado do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek — um projeto robusto que resultará na geração de 3,5 mil empregos diretos e indiretos. Ou também a empresa Biotic S.A., que estima captar R$ 5 bilhões para a implantação do Parque Tecnológico de Brasília, apelidado de Vale do Silício do Distrito Federal. Esses destaques ilustram a capacidade de atração de novos negócios para a capital federal, mas ainda há muito a se fazer para que ela seja consolidada como um ambiente perfeito para grandes negócios. As exportações do DF, por exemplo, ainda giram em torno de US$ 300 milhões por ano. Há algumas semanas, em reunião com um grupo de empresários locais do Lide, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Jorge Viana, anunciou que a autarquia irá impulsionar o potencial de comércio internacional da capital da República.
Para a Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), o cenário positivo que favorece as pequenas empresas ainda não se reflete com o mesmo impacto para as médias e grandes. O presidente da entidade, Jamal Jorge Bittar, diz que as políticas adotadas pelo governo do DF nos últimos anos têm surtido efeito na melhoria do ambiente de negócios local. Por outro lado, o empresário ressalta que, segundo o documento Pauta da Indústria 2023 - 2026 — Proposta de Ação, desenvolvido pela entidade e entregue ao governo do Distrito Federal, faz-se necessário "avançar no processo [de abertura de empresas] voltado ao setor industrial" e "aprimorar os instrumentos da política pública de apoio aos financiamentos, assegurando as provisões necessárias ao desenvolvimento industrial".
"É importante utilizar os dados produzidos para a construção do Índice para que sejam implementadas soluções para tornar o DF um local que gere maior interesse nos investidores", observa Jamal Jorge Bittar. "Falando especificamente sobre o setor industrial, o detalhamento do Índice aponta possibilidades de melhorias que podem ser trabalhadas pelo Executivo e pelo Legislativo, em parceria com a indústria", avalia. O líder industrial aponta, das ações que podem tornar o ambiente de negócios do DF mais favorável ao investimento industrial, a necessidade urgente de adoção de medidas que atraiam efetivamente empresas para o desenvolvimento da indústria do DF, como a criação da Política de Desenvolvimento Produtivo Sustentável do DF, que, segundo ele, "transformaria as ações para o desenvolvimento local em política de Estado, garantindo tratamento de longo prazo ao tema".
Jamal destaca como investimento urgente, especialmente, a criação da Agência de Promoção de Investimentos do Distrito Federal. "Este será um ambiente efetivo para suporte ao investidor, com a função de apresentar nossa cidade como um lugar interessado e disposto a se adequar para receber empresas — como já ocorre em outros estados do Brasil, como em Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco". Para a Fibra, a agência deverá ser o balcão de atendimento das empresas que pretendem se instalar ou investir na expansão dos seus empreendimentos na capital federal. Por meio do órgão a ser criado pelo GDF, informações estratégicas seriam fornecidas para que os investidores encontrem o melhor local para o sucesso dos seus negócios e obtenham o acompanhamento, em todas as etapas, de modo personalizado.
Ao Correio, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda, Thales Mendes, empossado em 1º de janeiro deste ano, falou que este primeiro momento da gestão tem sido de conhecimento da casa, com reunião para entender melhor sobre os programas e projetos em andamento. "Agora já estamos viabilizando e realizando estudos, nos direcionando para um planejamento estratégico, para criar, ampliar e fomentar o desenvolvimento econômico no Distrito Federal, respeitando os processos em andamento", disse. Thales detalha que, em primeiro lugar, o desafio é criar um ambiente que possa ser favorável para desburocratizar os processos, dando mais agilidade nas regulamentações, por exemplo. "Vamos realizar incentivos e investimento em diversas áreas. Qualificar melhor os profissionais que atuam em Brasília, e claro, ampliar a divulgação como um todo, mostrar para o Brasil e ao mundo os ganhos de se investir em nossa capital. O bom empreendedor tem que saber vender o seu produto e nós nos comprometemos a ajudar", finalizou.
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