Economia

Bloco da oportunidade movimenta economia do DF no carnaval

Carnaval não traz somente animação e folia à capital. De acordo com o GDF, mais de 12 mil empregos, diretos e indiretos, são gerados durante a festa. Lojistas e brasilienses comentam sobre geração de renda no período

Arthur de Souza
postado em 03/02/2023 06:00 / atualizado em 03/02/2023 13:02
 (crédito: Nina Quintana)
(crédito: Nina Quintana)

A folia do carnaval no Distrito Federal não acontece apenas nos bailes, blocos e desfiles de escolas de sambas. O feriado também gera emprego e renda para milhares de brasilienses. De acordo com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), existem 34 projetos contemplados pela linha Jeito Carnavalesco, do edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) Brasília Multicultural I de 2022, que possuem estimativa de geração de 2.404 empregos diretos e 10.012 indiretos, durante as atividades carnavalescas da capital do país.

A secretaria destaca que está focada na realização de uma celebração importante para a população e à cultura do DF. "Essas ações, consequentemente, geram emprego, renda e mobilizam uma grande cadeia da economia criativa", aponta a Secec. Um dos que está inserido nesse cenário é o produtor cultural Caio Dutra, 32 anos. Ele tem um projeto chamado Setor Carnavalesco Sul, que teve início em 2018. De acordo com ele, o programa gera emprego de forma direta e indireta. "Fizemos um acordo com as empresas que temos vínculo, para que elas contratem pessoas em situação de rua e, muitas vezes, isso acaba gerando outras oportunidades, não só durante o nosso carnaval", diz.

"Neste ano, especificamente, estamos em uma parceria com a Secretaria de Trabalho, no setor de capacitação social, para as áreas de cenografia, assistente de produção, manutenção e conservação do espaço público e técnico de som. Cerca de 30 pessoas estão participando", revela. "São áreas que a gente precisa, para fazer o evento acontecer. Nos próprios eventos de pré-carnaval, incluímos as pessoas que fazem parte dessa capacitação e a ideia é que, no projeto, elas continuem trabalhando com a gente. A gente estima que, em 2023, as vagas geradas sejam as mesmas de 2020, por volta de 300", comenta.

Para este ano, Caio afirma estar ciente que o projeto precisa dar um "passo para trás". Ele conta que a estrutura vai ser menor do que a de 2020 (última vez que o projeto foi para a rua), pensando na segurança dos foliões. "Acabamos de sair de uma pandemia, as pessoas estão com menos dinheiro e, por isso, devem viajar em uma escala menor", avalia. "Assim, acreditamos que o público aqui no DF pode ser mais volumoso, gerando uma chance maior de ter brigas, conflitos ou outras situações que possam fugir do nosso controle. Então, para tentar diminuir essa possibilidade, a gente optou por fazer uma estrutura menor", detalha, comentando que serão cerca de 40 blocos e que o público esperado é 5 a 10 mil pessoas, por dia de festa.

  • Alcileide afirma que as fantasias de heróis são as mais procuradas Mariana Lins
  • Em uma loja de fantasias da Asa Sul, o movimento costuma crescer 30% no período de folia Mariana Lins
  • Caio Dutra é fundador do Setor Carnavalesco Sul Mariana Lins
  • Marcos dá aulas de percussão para blocos de Carnaval Mariana Lins
  • Marcos Valente fez do seu dom instrumental oportunidade na folia Mariana Lins

Comércio

Ao Correio, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido Freire, aponta que o setor de eventos será um dos que mais terá incremento durante o Carnaval de Brasília. "Em conversas informais com os empresários do ramo, eles dizem estar animados com a data", comenta. "Estamos fazendo uma pesquisa, encomendada para a próxima semana, em que vamos ter os números exatos da expectativa do impacto no comércio do DF como um todo", revela.

A Secretaria de Cultura também ainda não tem uma prévia sobre como o Carnaval deve girar a economia do DF, mas lojistas do DF estão animados para o feriado.

É o caso de Alcileide Lima, 46, gerente de uma loja de fantasias na Asa Sul. Ela conta que, durante o Carnaval, o movimento costuma aumentar cerca de 30%, em comparação com o restante do ano. "Tem muita procura por fantasias, tanto adulta quanto infantil", destaca. "As que mais costumam sair, falando dos adultos, são as de pirata, frevo, princesa, policial e presidiário. Nas infantis, as de super-heróis são as mais visadas pelos clientes".

Para este ano, Alcileide revela que o estabelecimento decidiu mudar a forma de trabalho. "Fazemos o aluguel de fantasias, mas passamos a vender as da linha infantil, justamente por conta da alta procura", comenta. "Buscamos ter as fantasias consideradas atuais. Muita gente tira a inspiração de filmes e séries do momento, então, ficamos atento e deixamos o estoque atualizado com aquelas que estão na moda", avalia. Para não "dar spoiler", a gerente conta que novos modelos estão a caminho. "Estamos aguardando novidades, entre fantasias e acessórios, que devem chegar a partir do dia 10", completa a lojista.

Instrumentalização

Fundador de um projeto que dá aulas instrumentais, Marcos Valente, 34, afirma que a ideia de criação surgiu depois que várias pessoas o procuraram, pedindo para aprender a tocar algum aparato, principalmente os de percussão. "Hoje, ele se transformou em um instituto. As aulas acontecem durante todo o ano, mas a intensidade é maior nos meses que antecedem o carnaval", destaca. "O instituto, na verdade, é a minha fonte de renda principal. Durante esse período, em média, costuma aumentar entre 30% e 50%, dependendo do movimento", aponta.

Marcos Valente comenta que o instituto tem um bloco de carnaval que faz ensaios na Torre de TV. "Eles acontecem às sextas e sábados, a partir de janeiro, devido à agenda de shows e apresentações que fazemos", conta. Segundo o instrutor, essa é outra oportunidade para aumentar a renda. "Outros blocos aproveitam os ensaios e vão até o local para aprimorar suas técnicas e aprender coisas novas. Essas "aulas" costumam ter um investimento por parte desses blocos", complementa.

Empresário de um empreendimento gastronômico, Oswaldo Scatufo, 42, afirma ter boas expectativas para o Carnaval deste ano, em relação ao movimento. “Muitas pessoas vão passar o feriado em Brasília. A cidade está retornando à sua normalidade após a pandemia e temos a esperança de que seja uma boa data para o mercado gastronômico”, torce. Sobre as estratégias, ele comenta que os espaços — existentes na Asa Norte e no Setor de Clubes — vão abrir, excepcionalmente, na segunda-feira de Carnaval, já que não costumam funcionar nesse dia durante o ano. “Além disso, estamos programando atrações musicais no espaço do rooftop, investindo em uma programação animada e pensando naquele público que deseja curtir e se divertir nos dias de Carnaval, sem o grande público dos bloquinhos de rua”, detalha Oswaldo.

Chef e dono de um restaurante na Asa Sul, Dudu Camargo, 51, também está animado para 2023. “O Carnaval é um período de movimentação para o restaurante. No sábado do feriado, faremos a nossa feijoada, que é um prato muito procurado pelos frequentadores”, revela. “Ele vai ganhar novos acompanhamentos, entradas e sobremesas. Além disso, teremos uma programação musical de chorinho e DJ”, completa.

Ao longo dos dias de folia o estabelecimento do chef terá, além do cardápio normal da casa, caldos, sanduíches e espetinhos. “São opções ideais para o folião que vai brincar nos blocos e que deseja complementar a diversão com uma refeição especial”, aponta.

A moradora do Jardins Mangueiral Ialê Garcia, 53, trabalha com a venda de acessórios para foliões que querem ter mais destaque durante a folia. Ela conta que, desde sempre, o Carnaval faz parte da sua vida. “Venho de uma família carioca e lembro que quando tinha 18 anos, trabalhei no barracão da Mangueira. Depois disso, passei a criar as minhas próprias fantasias”, recorda. “Em 2016, frequentando a Praça dos Prazeres e o Balaio Café, passei a colocar meus adereços e acessórios à venda”, afirma.

Segundo Ialê, seu público é bastante variado. “É o espelho da diversidade brasileira. Atendo jovens, crianças, mulheres, público LGBTQIA+, todos que me procuram. Já fiz, inclusive, adereços voltados para o universo afro”, destaca. “Não tenho barreiras, cada fantasia é um desafio e, ao confeccionar, a inspiração é enorme, pois sei que aquela fantasia vai alegrar o cliente durante os dias de folia”, diz. Sobre a expectativa para 2023, ela afirma ser a melhor possível. “Passamos dois anos sem Carnaval, além de termos vivido outros momentos difíceis. Acho que a festa deste ano vai traduzir a vontade das pessoas de estarem juntas novamente”, prevê.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE