Celebração

Homenagem a Iemanjá: Festa das Águas celebra dia da rainha do mar na Prainha

Na Praça dos Orixás, adeptos dereligiões de matriz africana foram saudar Iemanjá, senhora dos oceanos, e Oxum, mãe das águas doces. Comemoração também buscou valorizar o espaço, às margens do Lago Paranoá

Carlos Silva*
postado em 03/02/2023 06:00
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Pessoas de todo o Distrito Federal e Entorno se reuniram, nesta quinta-feira (2/2), na Praça dos Orixás, às margens do Lago Paranoá, para participar da Festa das Águas — uma reverência a Iemanjá, rainha do mar — celebrada em 2 de fevereiro em várias regiões do país. Também foi homenageada Oxum, cuja comemoração ocorre em 8 de dezembro, considerada pelos adeptos das religiões de matriz afro como a mãe das águas doces.

Muitos foram agradecer e fazer pedidos. A universitária Franceska Mandelli, 24, participou da cerimônia pela primeira vez em Brasília. Vinda da Bahia, ela pratica o Candomblé há um ano e meio. "Fiquei surpresa ao saber do evento. Sempre foi uma dia especial, porque sou filha de Iemanjá no Candomblé. Está sendo muito bonito ver todos na mesma energia para cultuar um orixá que é tão importante, a grande mãe de todos", descreveu.

Juliana Bicudo, 29, é seguidora da Umbanda há nove anos e também esteve pela primeira na comemoração. Para a designer, moradora do Jardim Botânico, a presença massiva do público foi impressionante. "Sempre fui muito conectada com o mar. Ver a roda de cânticos foi especial para mim. Fiquei arrepiada ao ver tantas pessoas devotadas e entregues, juntas em uma só vibração", observou.

O evento foi organizado pelo Instituto Rosa dos Ventos que, além das homenagens e da programação cultural, buscou valorizar o espaço — alvo constante de depredações.

A presidente do instituto, Stéffanie Oliveira, lembrou que as comemorações de religiões de matriz africana são realizados no local há 18 anos, mas houve expansão nos propósitos. "Percebemos que precisávamos ampliar a ocupação da praça com eventos que trouxessem tanto as culturas tradicionais de terreiro quanto as culturas populares e de matriz africana. Por isso, resolvemos trazer a Festa das Águas. Esta praça é símbolo da nossa cultura brasileira e faz todo sentido ocupá-la", disse.

Stéffanie ressaltou a relevância dos cuidados com o local e a atuação do poder público, tanto na manutenção e segurança adequadas, quanto para punir os responsáveis por atos de vandalismo. "Faz muitos anos que a praça está sendo atacada. As estátuas de Oxalá e Ogum foram queimadas. E não temos revitalização. Isso é uma violência ao nosso simbólico e à nossa cultura. Espero que com essa lei (Nº 7226/2023, que cria um programa de enfrentamento ao racismo religioso), consigamos frear esse tipo de ato", avaliou.

  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Na foto Tote Leji. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • Ritual da defumação é realizado para purificar energias Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • Muitos foram ao Lago Paranoá para a homenagem... Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Na foto Francesca Mandelli. Ed Alves/CB/DA.Press
  • ...E presentearam a orixá com rosas, em gratidão Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/02/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Festa das Aguas na Praça do Orixas. Ed Alves/CB/DA.Press
  • Mãe Zélia de Oyá veio de Formosa (GO) pelo sexto ano Ed Alves/CB/DA.Press
  • Toté Lejí de Ogum vai à Praça dos Orixás há 15 anos Ed Alves/CB/DA.Press

Resistência

Algumas figuras influentes da política local e nacional estiveram presentes. Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, destacou a importância de culturas de matriz africana. "Reafirmar a importância destes espaços para o cuidado, a valorização, e a consolidação de projetos políticos e de resistência da população negra no Brasil é fundamental hoje e sempre", afirmou.

O deputado distrital Max Maciel (PSol) também destacou os cuidados com o local. "A importância desse evento na Praça dos Orixás é chamar atenção também para a manutenção desse ponto de memória e do culto de raízes africanas que, muitas vezes, são atacados pela intolerância e não valorizados por alguns segmentos do estado", comentou.

Pais e mães no santo com as vestimentas tradicionais também prestavam homenagens e orientavam o público. Mãe Zélia de Oyá, 78, veio de Formosa (GO) marcar presença pelo sexto ano. Para ela, que está no Candomblé há 51 anos, o evento é especial, mesmo para quem não faz parte de nenhuma religião de matriz africana. "Tudo que vem dos orixás é luz, força, poder, sabedoria e energia positiva. Isso se estende não só para o povo de santo, mas também para aqueles que não são e vieram prestigiar", afirmou.

Mãe Sheyla de Oxum, 40, é frequentadora assídua da praça e participa da festa há seis anos. Para a candomblecista, a cerimônia também é um modo de reforçar laços com a matriz africana de sua cultura. "Não podemos nos desligar de nossa ancestralidade e deixar morrer esse laço tão bonito. Somos afrobrasileiros e não podemos abandonar nossas raízes. Esse dia tão especial nos lembra o quanto fomos e somos importantes para a nossa nação", disse, emocionada.

União

O principal momento do dia foi a entrega dos presentes a Iemanjá. O pai no santo Toté Lejí de Ogum, 53, que acompanhava Zélia, foi um dos responsáveis por levar um dos barcos com as oferendas. Frequentador da Praça dos Orixás há 15 anos, ele avalia que a festividade reforça o vínculo com as entidades e faz com que a fé professada seja mais conhecida. "A emoção é muito grande. Isso é muito importante para o fortalecimento da nossa religião. A grande maioria das pessoas não conhece muito sobre nós e acaba julgando, o que também contribui para que casos de intolerância aconteçam", afirmou o sacerdote, no Candomblé há 35 anos.

Para o babalorixá Felipe Logun, 40, a cerimônia significa união. "A festa também é muito importante para unir o povo de matriz africana para que continuemos com essa luta de igualdade, diversidade e paz", reforçou.


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