A chacina que chocou o Brasil e exterminou dez pessoas da mesma família desafiou as polícias de três estados. As últimas peças, no entanto, estão sendo montadas e o inquérito está próximo do fim. Nesta quarta-feira (25/01), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) identificou o último corpo encontrado: de Ana Beatriz Marques de Oliveira, 19 anos, considerada, até então, desaparecida. Além disso, Carlomam dos Santos Nogueira, 26, o suspeito de participar do crime que estava foragido, se entregou, à tarde, na 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), e foi preso.
Carlomam é um dos quatro envolvidos no sequestro e na execução das dez vítimas. A polícia chegou à identidade do homem depois que impressões digitais dele foram encontradas na casa usada como cativeiro, no Vale do Sol, em Planaltina, e no carro de Gideon Menezes, 55, outro preso suspeito de participar do crime, juntamente com Horácio Barbosa, 49, e Fabrício Canhedo, 34. Gideon teria sido o responsável por arquitetar os sequestros e a onda de assassinatos.
Nas oitivas feitas pelos investigadores da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) com os outros presos, ficou claro que todo o planejamento da chacina partiu de Gideon. Ele era colega de Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54, e morava no mesmo lote da família, em um condomínio do Itapoã. No passado, os dois estiveram presos juntos no Complexo Penitenciário da Papuda e mantiveram a amizade. Ele tinha livre acesso à residência da família e chegou a trabalhar para a vítima em uma agropecuária.
Identificação do último corpo
O cadáver de Ana Beatriz foi confirmado por meio de DNA pelo Instituto de Pesquisa e DNA Forense do Distrito Federal (IPDNA), uma das instituições que têm ajudado no trabalho de identificação dos corpos, todos encontrados em estágio avançado de decomposição. O corpo dela havia sido encontrado em uma fossa na área rural de Planaltina. No local, também foram encontrados os corpos de Thiago Belchior, 30, marido da cabeleireira Elizamar da Silva, 39, e de Cláudia Regina Marques de Oliveira, 55, ex-mulher de Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54.
Em relação a Renata Juliene Belchior, 52, e à filha dela, Gabriela Belchior, 25, uma operação conjunta entre a PCDF e a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) tentará descobrir se Renata Juliene Belchior, 52, e a filha dela, Gabriela Belchior, 25, estavam vivas quando foi ateado fogo no veículo na rodovia de Unaí (MG). De acordo com os legistas do Instituto Médico Legal André Roquette (IML) de Belo Horizonte, não foram identificados fragmentos de bala no corpo das vítimas. A médica-legista Naray Jesimar, diretora da unidade, chegou a declarar que "o caso parece um "enredo de novela, com corpos encontrados a cada dia, com muitas perguntas e poucas respostas".
Um quinto suspeito
Após receber uma denúncia anônima, a PCDF também prendeu, na noite de terça-feira (25/01), um adolescente de 17 anos suspeito de participar da chacina. O jovem foi encaminhado para a Delegacia da Criança e do Adolescente I. Os militares chegaram ao encalço do menor após um denunciante anônimo informar que ele estaria escondido em uma casa, no Itapoã. Segundo o tenente Yuri, da PMDF, o adolescente estava na residência de um amigo. Em depoimento informal aos policiais, o suspeito disse ter recebido R$ 2 mil para participar da chacina, no entanto, negou ter tido envolvimento direto com as mortes.
Porém, o menor foi liberado pela polícia. De acordo com informações da PCDF, o menino foi liberado pois não foi pego em flagrante e não havia mandado de apreensão aberto em seu nome. Até então, havia a suspeita de que ele teria um mandado de busca e apreensão expedido pela Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal (VIJ-DF), por ocorrências anteriores.
Inquérito e ameaças
Nesta quinta-feira (26/01), a PCDF deve concluir a primeira fase do inquérito que investiga a chacina. A informação foi dada pelo advogado que representa a família de Elizamar da Silva, João Darc's. Segundo o criminalista, há elementos suficientes para relatar o inquérito e remeter ao Ministério Público.
João Darc's compareceu, nessa quarta-feira (25/01), à 6ª Delegacia de Polícia, no Paranoá, para formalizar a representação da mãe de Elizamar, Nelita Maria de Jesus. De acordo com o criminalista, a família está sofrendo ameaças via mensagens de WhatsApp e com medo de uma nova chacina acontecer. "Os familiares começaram a receber ameaças por mensagens quatro horas antes do corpo de Thiago ser encontrado. Não vou dizer o teor dessas mensagens para não comprometer as investigações", disse ele, que comparecerá ao batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) para pedir auxílio na garantia da segurança da família. "São pessoas muito simples, elas precisam desse apoio da polícia", declarou.
O advogado também negou que a cabeleireira tenha vendido um imóvel e estaria em posse de uma grande quantidade de dinheiro. "Não existe isso. Segundo informações da família de Elizamar, ela não tinha dinheiro algum", afirmou. Apesar disso, João Darc's reforça que a PCDF pediu medidas cautelares como a quebra de sigilo bancário e telefônico das vítimas. "Com o resultado dessas medidas, ou seja provas, a polícia pode divergir da versão da família", explicou. Ele destacou ainda que a família de Elizamar nega a existência de R$ 100 mil para reformar o salão dela. "Ela pode não ter contado para família sobre esses valores. A resposta vamos ter com a polícia", finalizou.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti
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