Completa, neste sábado (21/01), nove dias de um dos casos mais bárbaros e macabros do Centro-Oeste. O desaparecimento de 10 pessoas da mesma família gerou comoção e revolta em todo o país. Cinco delas foram brutalmente assassinadas e carbonizadas. As vítimas são a cabeleireira Elizamar da Silva, 37 anos; os filhos, Gabriel, 7, e os gêmeos Rafael e Rafaela, 6; e o sogro dela, Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54. As outras cinco permanecem desaparecidas. A investigação rápida da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que resultou na prisão de três pessoas envolvidas na chacina, traça agora um caminho mais cauteloso, de análise de informações, dados, filtragem, descartes e concretização.
Ao longo desta sexta-feira (20/01), policiais civis e militares do Corpo de Bombeiros estiveram em regiões de mata, em Planaltina e no Paranoá, na busca pelos possíveis corpos de Thiago Belchior, 30; da ex-mulher de Marcos, Cláudia Regina, e da filha deles, Ana Beatriz. A mãe de Thiago, Renata Belchior, 52, e Gabriela Belchior, 25, também estão desaparecidas. Contudo, em depoimento, Horácio Carlos, 49, um dos presos pela polícia, confessou que os dois cadáveres do sexo feminino encontrados carbonizados dentro de um carro, em Unaí (MG), na tarde de sábado, é de Renata e Gabriela. As identidades não foram confirmadas, uma vez que o laudo do IML não ficou pronto.
Pela manhã e tarde, os investigadores retornaram à casa onde Renata e a filha foram mantidas em cárcere privado antes de serem supostamente estranguladas e queimadas. A residência fica no Vale do Sol, em Planaltina, — distante cerca de 29km do Paranoá — e foi alugada por Horácio há cerca de três meses. Alguns moradores e comerciantes ouvidos pela reportagem contaram que sequer sabiam da existência de moradores no imóvel. "Era tudo tranquilo. Para mim, estava abandonada ou colocada para alugar. Eu só me dei conta que teria alguém na casa depois que ouvi a buzina de um carro em frente à casa", contou um homem sob condição de anonimato.
O retorno à casa ocorreu depois que os investigadores notaram uma irregularidade no solo, como se alguém tivesse remexido na terra do quintal. O mesmo indício resultou na localização do cadáver de Marcos, na quarta-feira. Graças ao apoio dos cães farejadores dos bombeiros, o homem foi localizado na cova rasa do quintal, esquartejado e sem cabeça. A identificação do cadáver ocorreu em menos de 12 horas com a análise da impressão digital de uma das mãos encontradas. Ontem, os militares levaram dois labradores treinados para identificar cadáveres, o Delta e o Apolo.
Os bombeiros também usaram enxadas, pás e picaretas para escavar todo o quintal, mas sem sucesso. A PCDF decidiu encerrar as buscas no cativeiro definitivamente e concentrará os esforços em outros pontos. Fontes policiais informaram que, inclusive, as chaves da casa serão devolvidas ao verdadeiro dono.
Cautela
Com cinco pessoas desaparecidas e cinco mortos, a investigação se torna uma das mais complexas. Não há dúvidas da participação de Horácio, Gideon Menezes, 55, e Fabrício Silva, 34. Os três foram presos quatro dias depois do corpo de Elizamar e dos três filhos terem sido localizados na rodovia de Cristalina (GO). As detenções, convertidas em preventivas pela Justiça, foi uma rápida resposta e que ajuda a montar o quebra-cabeça.
No entanto, o depoimento inicial de Horácio indicava que todo o plano de assassinar a família teria partido de Marcos e do filho Thiago. A versão é considerada mentirosa. No interrogatório, o suspeito se contradisse em vários dos questionamentos feitos pelo investigador. Houve divergências em datas, nomes e até na cronologia dos fatos. Após o corpo de Marcos ter sido localizado na casa de Horácio, a hipótese de que os três agiram juntos ganhou força e praticamente descartou o envolvimento de pai e filho.
A motivação da chacina em torno do dinheiro não é descartada pela polícia. Cláudia, que segue desaparecida, guardava na conta R$ 79 mil em espécie. O Correio apurou que a origem do valor era da casa onde ela morava no Itapoã, vendida por R$ 200 mil. Os R$ 121 mil restantes foram pagos por transferência bancária. Além dos R$ 200 mil, um valor de R$ 400 mil estaria na mira dos criminosos. O montante pertence à Renata e também é referente à venda de uma casa, em Santa Maria. Na conta de um dos presos, a polícia encontrou um total de R$ 40 mil, e na casa de um deles, R$ 15 mil em espécie.
Gideon, Horácio e Fabrício teriam se associado para executar os assassinatos e ficar com o dinheiro. Fabrício, por sua vez, contribuiu para fazer a vigilância da casa onde Renata e Gabriela foram mantidas em cárcere. Os três tiveram as prisões convertidas em preventiva em audiência de custódia e foram transferidos ao Centro de Detenção Provisória 2 (CDP 2) do Complexo Penitenciário da Papuda.
O Correio conversou com o advogado de Fabrício, Robson Machado. Por telefone, o defensor esclareceu que analisa requerer à Justiça que o acusado responda o processo em liberdade, uma vez que ele não tem antecedentes criminais, tem residência fixa, ocupação lícita e "contribuindo com o esclarecimento de todo o ocorrido". Na delegacia, o homem confessou o envolvimento no crime. "Esclarecimento sobre os fatos, a defesa se reserva a se manifestar somente após a finalização do relatório policial", declarou o advogado.
Ainda ontem, os carros utilizados pelos suspeitos chegaram ao pátio da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), após passarem por perícia. Um dos veículos é o de Gideon, um Renault Scenic, o mesmo que aparece em câmeras de segurança em um posto de combustível do Paranoá. O registro ocorreu horas antes dos assassinatos de Elizamar e dos filhos. O outro automóvel é um Peugeot, usado por Fabrício para vigiar o cativeiro.
As buscas perduram neste final de semana. Policiais e bombeiros devem vistoriar pontos estratégicos da região em busca de indícios.