Boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES-DF) revela um avanço da dengue na capital, no ano passado. Ao todo, foram registrados 69.645 casos da doença em pessoas residentes no DF, o que representa um aumento de 312,4% em comparação a 2021, quando foram registrados 16.888 casos. Os números acendem o alerta entre os infectologistas devido ao comportamento da doença que aumenta a transmissão entre os meses de outubro e maio, por causa do período de chuvas.
O diretor de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde, Jadir Costa Filho, explica que os dados alarmantes podem ser reflexo da pandemia. "Com a pandemia, os agentes estavam impedidos de fazer vistorias nas casas, além disso muita gente pode ter apresentado os sintomas e imaginado ser covid-19 o que dificultou a nossa computação," diz. E continua: "A partir deste ano, os dados tendem a se normalizar por conta da volta das visitações e a vacinação contra covid-19. Esse dado assusta, mas certamente irá estabilizar."
O estudante de química da Universidade de Brasília, Tiago Junot entrou para as estatísticas dos que pegaram a doença em setembro do ano passado. "Começou durante uma partida de futsal, foi um dia muito quente e seco. Eu me senti muito cansado, fadigado mesmo. Comecei a ter uma dor de cabeça fortíssima e dor atrás dos olhos, tanto que eu quase não conseguia ficar com os olhos abertos direito ", diz.
Morador da Granja do Torto, Tiago explica que foi uma surpresa o diagnóstico já que ele esperava que fosse covid-19. "No dia seguinte fui fazer os exames e apesar de não ser a primeira vez que pego, fiquei surpreso. Aí nos próximos dias fiquei de repouso o máximo possível e me hidratava muito".
Regiões de risco
A dengue é uma doença viral transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, um inseto urbano e diurno que se reproduz em depósitos de água parada. Durante o ano passado, a capital Federal registrou 11 mortes pela doença, mesmo número registrado em 2021. De acordo com o boletim divulgado pela SES, 11 Regiões Administrativas estão classificadas como risco de infecção do mosquito. São elas: Lago Norte, Varjão, Sobradinho, Itapoã, Lago Sul, Plano Piloto, Jardim Botânico, Park Way, Planaltina, Gama e Fercal.
A medição do grau de gravidade é dividida em três níveis: satisfatório, alerta e risco. O mapeamento auxilia na elaboração de estratégias para o controle da doença. Jadir destaca que as ações dos agentes contra o mosquito ocorrem durante todo o ano. "Conforme recebemos os dados com as regiões com mais casos, realizamos maiores intervenções. É nas coisas pequenas, pratos com água, bebedouros de cachorro, fontes, aqui no DF esses são grandes focos do mosquito'', diz.
O conhecido fumacê é procedimento da equipe de Vigilância Ambiental em regiões com surtos de dengue. "Quando recebemos os dados e observamos uma alta de diagnósticos, mandamos o fumacê para interromper o ciclo de transmissão do mosquito,'' explica Jadir.
Sintomas e prevenção
"Dor atrás dos olhos, cabeça, corpo e articulações, febre alta e manchas vermelhas pelo corpo são sintomas comuns da doença", explica o infectologista do Hospital das Forças Armadas (HFA), Hemerson Luz. De acordo com o especialista, a doença vira um sinal de alerta com a apresentação de pressão baixa, vômito e dor abdominal. "São sinais de extremo alarde, indica que a doença evolui para uma dengue hemorrágica".
João Vitor Reis contraiu a doença dias antes do Natal. Ele conta que apresentou todos os sintomas, mas não se importou até que no dia seguinte "parecia que tinha sido atropelado". Então, Reis deu entrada no hospital no dia 24 de dezembro e saiu em meio às comemorações da madrugada de Natal. "Meus olhos ardiam, estava com muita febre, muita dor em todo corpo, minha boca com gosto de sangue e perdi cerca de 1,5kg".
Para a prevenção, Hemerson reforça que a dengue é uma doença sazonal que depende do regime de chuvas. "Quanto maior a precipitação, maior a possibilidade de observar o acúmulo de água parada e com isso, a multiplicação do mosquito". Para ele, a melhor forma de prevenir a doença é mantendo os ambientes limpos e eliminando as áreas de possíveis acúmulos de água.
Além disso, ele explica que não surge efeito o uso do mosquiteiro para dormir já que o Aedes aegypti é um animal diurno. Sobre o tratamento, Hemerson diz que não há um remédio exato contra a doença e que é preciso tratar os sintomas separadamente.
Com a colaboração de Rafaela Martins