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Motoristas do DF têm prejuízo com buracos na pista

No período chuvoso, aumentam os incidentes, deixando muitos condutores com problemas em seus veículos. Motoristas reclamam, mas oficinas mecânicas e borracharias lucram com a má condição das vias no DF

A chuva que cai há três meses traz um alívio ao clima seco que castiga o Distrito Federal em grande parte do ano. No entanto, o período é motivo de preocupação para os motoristas, uma vez que a quantidade de buracos nas vias aumenta, levando inúmeros condutores às oficinas, em busca de reparos para seus veículos.

Basta andar pela capital para constatar que não é raro ver verdadeiras crateras em certos trechos. Uma falha, muitas vezes sorrateiramente escondida no asfalto, pode levar a grandes prejuízos. Esse foi o caso de Ritchie Faria, 38 anos, que passou por um desses locais sem manutenção quando voltava para casa. "Em uma das vias do Jardim Botânico tem um buraco enorme. No dia, estava chovendo e a lâmina d'água o cobriu. Entrei com tudo, estourei o pneu e tomei um prejuízo de R$ 350", relembra.

O bancário indigna-se com a situação, principalmente, tendo em vista os altos impostos pagos logo no início de ano e aponta a incompatibilidade entre o investido na qualidade das pistas e o que é arrecadado pelo governo. "Parecem um queijo suíço. Estão todas esburacadas. Deveriam prestar um serviço condizente com o valor que nós pagamos. Esse dinheiro não cai da árvore ou do céu", comenta aborrecido.

Engana-se quem acha que o problema afeta somente os que dirigem. Até os usuários do transporte coletivo do DF é prejudicado. A vendedora Antônia Soares, 33, pega ônibus todos os dias para voltar do trabalho no Sudoeste para casa, em Valparaíso (GO), e já passou por adversidades causadas por essas falhas. "Às vezes, o ônibus entra com tudo em um desses e dá um susto grande. O trajeto fica menos tranquilo, porque o ônibus já chacoalha bastante, com a pista toda furada fica impossível. Fico com medo de quebrar uma hora, e eu ficar no meio do nada", relata.

Ação local

Enquanto a situação não é resolvida pelos órgãos competentes, só resta lidar com ela sozinho. Moisés Costa, 18, trabalha em um lava-jato no Setor de Clubes Esportivos Norte (SCEN) há cerca de um mês. Mesmo com pouco tempo no emprego, ele conta histórias de um velho conhecido da região: uma abertura formada na lateral da via. "Esse buraco está aí há muito tempo. O negócio está aqui há dois anos, e a cratera sempre fez parte da paisagem", conta.

O jovem presenciou grandes problemas causados pela falha, que já danificou veículos que passaram por ela. Sem solução, o jeito foi sinalizar a área por conta própria. "Um monte de carros não vê, por conta da chuva, e entra com tudo. Até colocamos uns pedaços de madeira para alertar o pessoal que passa por aqui. Mesmo assim, tem uns que ainda passam por cima", disse.

Lucro garantido

Apesar da época ser de terror para os condutores, outros aproveitam o bom movimento trazido por esse caos nas vias. O mecânico Sérgio Rodrigues, 50, trabalha com mecânica automotiva há 25 anos e afirma que o serviços realizados por problemas causados por buracos nas pistas tem aumentado bastante. "O movimento cresceu muito, cerca de 70%. Nesse tempo de chuvas, recebemos muitas ordens de serviço por rodas empenadas, suspensões comprometidas, etc", explica.

Ele aponta algo óbvio, mas nem sempre seguido pelos motoristas: que o período exige atenção redobrada de quem dirige. "A chuva aumenta muito o perigo de cair em alguma dessa crateras. Quando temos hábito de passar constantemente em um lugar, ficamos mais descuidados também, aí é onde o motorista se surpreende", alerta. Em caso de incidentes desse tipo, o condutor pode ter que gastar um pouco mais com o veículo. "Conforme a gravidade do impacto na roda, o desempeno fica em torno de R$ 120. Com o balanceamento, que custa R$ 30, e o alinhamento, R$ 50. Assim, dependendo do veículo, pode passar de R$ 220", informou.

Por que isso acontece?

Mas como são geradas essas falhas que causam tanto transtorno? A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) explicou que a idade do asfalto é um dos principais fatores para o surgimento de buracos, isso é intensificado durante o período de chuvas, quando a água se infiltra em rachaduras, causando danos nas camadas da pista e favorecendo o surgimento dos buracos.

O engenheiro civil e professor de Transportes da Universidade de Brasília (UnB) Fábio Zanchetta ressalta que esse processo leva em média entre 3 a 4 anos, mas pode ser acelerado por certas condutas dos motoristas. "A sobrecarga por eixo (carga além dos limites legais) causa deterioração mais acelerada. Veículos que possuem a relação peso da carga/potência do motor inadequada, trafegam em velocidade muito lenta, o que também estimula a deterioração do pavimento."

Embora não seja possível precisar quantas pistas com falhas há no DF, a Novacap informou que são realizados serviços de manutenção constantemente. O especialista, no entanto, vê que essa não é a medida mais eficaz. "O que é mais comum no Brasil, é a adoção de duas medidas: tapa-buracos e recapeamentos. São duas medidas de elevado custo, sendo que o tapa buraco tem baixa durabilidade, principalmente se realizado fora das normas, o que é comum. E, o recapeamento, se mal dimensionado, também terá baixa durabilidade. Falta no Brasil — e, claro, no DF —, a ampliação dos tipos de intervenção, aumentando as opções e aplicando a alternativa mais adequada a cada localidade. Uma excelente mudança seria incluir manutenção preventiva, que tem baixo custo e elevado aumento na durabilidade", avalia.

O especialista também alerta que problemas desse tipo podem gerar acidentes graves e com vítimas, principalmente para motociclistas e ciclistas. Os veículos maiores sofrem com os danos, como quebras de suspensão, quebra/amasso de rodas, ou até mesmo perda de controle durante a situação. O Governo do Distrito Federal disponibiliza um canal para reclamações e pedidos de manutenção nas vias, por meio dos canais digitais oficiais (df.gov.br/fale-com-o-governo) ou pela ouvidoria através do número 162 ou diretamente nas administrações regionais.

*Estagiário sob a supervisão de Euclides Bitelo

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