Um barraco abandonado, entulho e muita sujeira. Foi o que sobrou do prédio que desabou parcialmente e, posteriormente, precisou ser demolido, em Taguatinga Sul. Felizmente, o fato não causou morte ou ferimentos, mas, para Cristiane Nascimento, 43 anos, que morou no edifício por nove anos, o sentimento é de que alguém morreu naquele 6 de janeiro de 2022. "A sensação de perda e impotência é muito grande", lamenta a manicure.
Na época do desabamento, Cristiane se tornou a principal representante do grupo de 23 famílias, que perderam todos os bens materiais no desastre. Ela continua como porta-voz das vítimas atualmente e conta que todos mantêm contato. "Estamos tentando, a cada dia, nos recuperar de tudo o que aconteceu. Tem pessoas que ainda estão passando por grandes dificuldades, porque não é fácil ter que começar do zero, sem apoio nenhum", reclama. "Estamos comprando as coisas aos poucos, pois ninguém tem dinheiro para comprar tudo de uma vez. Parcelei um monte de coisa e estou mais endividada do que nunca", revela a ex-moradora do segundo andar do prédio.
Sobre o simbolismo da data, Cristiane Nascimento afirma que a sensação é de angústia. "Estive no local várias vezes quando estava sendo limpo (após a demolição). Fico muito triste por ter perdido tudo que batalhei para conquistar", desabafa.
Sem estabilidade
Outra antiga moradora do prédio, Adriana Alves, 45, vive atualmente em Valparaíso de Goiás e conta que, passado um ano do desastre, não houve qualquer tipo de assistência por parte do dono do prédio, além da hospedagem paga na semana do desabamento. "Sou de uma das famílias que ainda continuam com o processo contra ele na Justiça. A única coisa que ele fez foi oferecer R$ 5 mil. Quem aceitou, acabou ali", afirma.
Desempregada desde a tragédia, Adriana conta que parte da culpa pela falta de emprego tem a ver com o acontecimento. "Um ano de muito sofrimento, porque ia começar a trabalhar em fevereiro (do ano passado), como professora. Não consegui, pois, desde o dia do desabamento, fiquei totalmente desestabilizada", comenta. "Não consegui repor nada. As coisas que a gente ganhou de doação eram usadas, então, muita coisa não durou, tipo geladeira e máquina de lavar. Tudo que a gente perdeu dentro de um apartamento de três quartos, não é tão simples assim de recuperar, como as pessoas pensam", desabafa.
Outro lado
As moradoras ouvidas pelo Correio reclamam da falta de empatia por parte do dono do prédio, Edilson Albuquerque. Segundo Cristiane Nascimento, ele tratou quem morava no local como pessoas sem valor. "Só tive contato com ele algumas vezes lá no prédio, antes de terminar a limpeza", recorda. "Fica o desgosto pelo pouco caso que o 'seu' Edilson teve com os moradores", ressalta.
A reportagem visitou o local e conversou com Roque Souza, 38, dono de uma mecânica vizinha ao prédio, que também teve a estrutura afetada. Ele relatou que não era proprietário quando tudo aconteceu, mas que comprou o estabelecimento já reformado. "Sei que o dono do prédio aparece às vezes para ver, mas, desde que limpou o terreno, não fez mais nada. O local virou ponto de uso de drogas", denuncia.
O Correio procurou Edilson Albuquerque, dono do prédio, para comentar sobre o assunto. Por meio de sua assessoria, ele informou que cumpriu o acordo feito com 13 famílias que moravam no edifício. "Sobre as que decidiram entrar na Justiça, estamos aguardando posicionamento do juiz para conciliar com os moradores que não acordaram extrajudicialmente", destacou. Em relação ao estado de abandono e utilização do terreno para consumo de drogas, a assessoria de Edilson negou a situação. "Não está abandonado. Está vazio e aguardando resolução e conciliação. Não sabemos ainda sobre o futuro do imóvel."
O que fazer?
A tragédia acende o alerta sobre possíveis riscos que o cidadão do Distrito Federal corre. De acordo com o Ten-Cel Gabriel Motta de Carvalho, Coordenador de Operações da Defesa Civil (DCDF), qualquer trinca ou fissura em uma estrutura de prédio deve ser investigada. "As mais perigosas são as que ocorrem em elementos estruturais como vigas, lajes, pilares e marquises", destaca. "O principal indicativo de risco iminente de colapso estrutural em estruturas de concreto armado são os 'estalos', em que são ejetados partes do revestimento", complementa.
O agente da Defesa Civil comenta que, geralmente, esse tipo de situação ocorre quando as solicitações de carga ultrapassam a resistência da estrutura. "Nessa situação, a edificação deve ser evacuada imediatamente e é necessário ligar, com urgência, para o número 193 (Corpo de Bombeiros) ou 199 (Defesa Civil)".
Fique atento!
Casos como exposição de armadura ou arqueamentos excessivos de vigas e lajes também necessitam investigação com urgência. Por isso, a Defesa Civil tem algumas dicas:
- Em caso de dúvidas ou sensação de insegurança diante de uma edificação, deve-se entrar em contato com o número 199. Um profissional vai informar como proceder;
- É muito importante que todas as edificações passem por manutenções preventivas e corretivas periodicamente, sempre com empresas habilitadas e especializadas, de modo a garantir a segurança estrutural e habitabilidade;
- A Defesa Civil, quando acionada e identificando possível risco, poderá notificar o responsável pela edificação para a correção dos problemas ou até interditar o local e exigir atitudes imediatas de modo a minimizar o risco.
Fonte: Coordenação de Operações da Defesa Civil