Ganância por dinheiro, terras e eliminação de herdeiros motivaram a maior chacina do Distrito Federal, que terminou com o assassinato de 10 pessoas da mesma família. O Correio apurou, com exclusividade, a dinâmica articulada pelos criminosos envolvidos no massacre, que teve como mentor Gideon Batista de Menezes, 55 anos, amigo de mais de 10 anos de Marcos Antônio Lopes, 54, uma das vítimas.
Gideon e Horácio Carlos, 49, — também preso — moravam no mesmo lote em que residiam Marcos, a mulher dele, Renata Belchior, 52, e a filha do casal, Gabriela Belchior, 25. A chácara, localizada em um condomínio do Itapoã, logo seria vendida por Marcos. A negociação do imóvel foi feita sem o conhecimento e aprovação dos dois suspeitos, que posteriormente descobriram o plano e se incomodaram.
Marcos chegou a ser questionado por Gideon sobre o motivo da venda. Para o suposto comprador, o patriarca da família dizia que Horácio e Gideon eram apenas funcionários dele, afirmação esta que resultou em uma discussão entre os três e Gideon resolveu se vingar.
O plano
Incomodado com a negociação da venda da chácara, Gideon começou a arquitetar um plano macabro e se reuniu com Horácio, também morador do lote. Juntos, os dois contrataram Fabrício Silva Canhedo, 34, Carlomam dos Santos, 26, e Carlos Henrique Alves da Silva, 27.
O primeiro passo da ação criminosa era sequestrar todas as 10 pessoas. Além de Marcos, Renata e Gabriela, os alvos eram a cabeleireira Elizamar da Silva, 37, e os filhos, Gabriel, 7, e os gêmeos Rafael e Rafaela, 6; o marido dela, Thiago Belchior, 30; a ex-mulher de Marcos, Cláudia Regina, 55, e a jovem Ana Beatriz, 19. Em depoimento, os acusados disseram que o objetivo era atrair todos os possíveis herdeiros da chácara.
Marcos foi a primeira vítima a ser sequestrada e assassinada. O homem morreu ao levar um tiro na nuca e teve o corpo esquartejado, degolado e enterrado no quintal de uma casa alugada por Horácio, na Vale do Sol, em Planaltina. No mesmo imóvel, estavam Renata, Gabriela, Cláudia e Ana Beatriz, todas mantidas em cárcere. A suspeita é de que, pelo menos, Cláudia e Ana tenham sido levadas ao cativeiro em 4 de janeiro. As mulheres foram amordaçadas, amarradas e vendadas e obrigadas a passar dados bancários, como senha de cartões. Na casa, investigadores da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) encontraram oito cartões de crédito e débito, talão de cheque, documentos pessoais, bem como uma caderneta de anotações com informações financeiras das vítimas.
O Correio apurou, ainda, que, no cativeiro, os criminosos colheram os celulares das vítimas, colocaram fitas pretas nas câmeras e chegaram a embrulhar os aparelhos em papel alumínio, estratégia essa usada para bloquear o sinal.
Na noite de 12 de janeiro, os criminosos atraíram Elizamar e os três filhos até a chácara dos sogros dela. Lá, eles a renderam e decidiram matar a cabeleireira e as crianças. O carro da empresária foi encontrado carbonizado na manhã do dia seguinte, em Cristalina (GO).
Com base no depoimento dos presos, enquanto Elizamar e os filhos estavam sendo mortos, Thiago já era mantido em cárcere no cativeiro. Renata e Gabriela foram as sexta e sétima vítimas, respectivamente. As duas foram asfixiadas até a morte e levadas de carro até uma estrada de Unaí (GO), onde Gideon ateou fogo no veículo.
Por último, os criminosos decidiram assassinar Thiago, Cláudia e Ana. Vendados, amarrados e amordaçados, os três foram levados de carro ao Núcleo Rural Santos Dumont, onde morreram ao serem esfaqueados por Gideon, Horácio e Carlomam. Depois, os corpos foram jogados dentro de uma fossa.
Carlos Alves, o quinto preso detido na madrugada desta quinta (26/1), foi um dos contratados por Gideon para buscar Thiago na chácara e levá-lo ao cativeiro. Ele receberia R$ 2 mil pelo serviço. Todos os cinco acusados vão responder por associação criminosa, extorsão mediante sequestro com resultado morte.
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