Nunca antes as questões relacionadas ao meio ambiente estiveram tão em voga quanto agora. Não só a emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa estão no centro dos debates, mas também o descarte adequado do lixo que é produzido por todos o tempo todo. Segundo o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), o Distrito Federal produziu 718.547 toneladas de lixo em 2022, número exorbitante que obriga a sociedade a pensar constantemente o que fazer com todo esse material descartado sem que haja dano ao meio ambiente. Uma das principais soluções para o grave problema é a reciclagem, atividade que depende fundamentalmente do trabalho dos catadores.
Várias cooperativas e empresas fazem o trabalho de coleta e reciclagem de lixo no Distrito Federal. Uma delas é a Eco Ambiental Recicláveis, empresa localizada na avenida principal do Assentamento 26 de Setembro, que recebe em torno de três a cinco toneladas de materiais recicláveis por mês. Chegando lá, ocorre a seleção e, se necessário, o tratamento do objeto para revenda. E tem de tudo: plástico, PVC, eletrônicos, baterias, eletrodomésticos e metais em diversos tipos de objetos. Moradores da região, que está em franca expansão, recorrem ao estabelecimento para adquirir, por exemplo, material de construção mais barato do que é encontrado no mercado tradicional, como portas, pias, chapas de ferro e ferramentas.
O negócio começou há dois anos, após João Batista Marcelino Costa, 53, fazer um curso profissionalizante on-line de reciclagem. Antes disso, ele trabalhava havia um bom tempo na construção civil, mas viu na reciclagem uma oportunidade de ter uma vida mais tranquila e um maior potencial de renda. "Também chamou a minha atenção a importância da nossa atividade para a preservação do meio ambiente. Outro fator são os empregos gerados pela Eco Ambiental. A empresa conta com o trabalho de oito pessoas, contando comigo e meus sócios", declara.
Batista contou à reportagem que, em média, 20 catadores de recicláveis vão ao local todos os dias para vender o que eles conseguiram coletar nas ruas. A empresa, por sua vez, trata ou vende o material para outras pessoas, entidades ou estabelecimentos interessados. A Eco Ambiental também sai a campo em busca de materiais recicláveis descartados pela população. A cada dois dias, uma equipe se desloca até Águas Claras para fazer a coleta nos condomínios da cidade. "São cerca de 200 quilos de lixo todas as vezes que vamos lá", revela o empresário, que planeja fazer um trabalho de conscientização dos moradores desses condomínios sobre o gerenciamento de resíduos sólidos, que é saber separar cada tipo de material e organizá-los antes de ir para o lixo.
Félix Ribeiro Pinto, 46, é outro sócio da Eco Ambiental Recicláveis. Ele trabalhava com João desde os tempos da construção civil e foi convidado por ele para embarcar no novo negócio. Hoje, assim como o parceiro, ele vê a importância do que faz tanto nos empregos que têm gerado quanto na preservação do meio ambiente. "Com o dinheiro que estou ganhando hoje, eu estou conseguindo segurar as pontas", comemora o empresário. Ele relata que a grande maioria dos catadores que busca o local para vender o material é da Cidade Estrutural e do Assentamento 26 de Setembro. No entanto, a empresa atua em todo o DF e Entorno.
Ciclo produtivo
"Eles são agentes ambientais", define Izabel Cristina Zaneti, professora doutora do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB), referindo-se aos catadores. "O que eles coletam vai ser vendido para a indústria e não vai para um lixão ou um aterro sanitário. Todo esse material volta para o ciclo produtivo", explica a professora, destacando os danos ao meio ambiente. "Diferentemente do aterro sanitário, os lixões não são impermeabilizados, o que favorece que o chorume contamine o solo e o lençol freático, além de produzir o gás metano. Os aterros são impermeabilizados com camadas de argila. O problema é que eles deveriam receber apenas rejeitos, materiais que não são orgânicos e nem recicláveis, mas isso nem sempre é o que acontece", lamenta.
Izabel lembra que, em 2010, foi sancionada lei que institui a política nacional de resíduos sólidos. De acordo com a legislação, todos os lixões deveriam ter sido desativados até 2014, o que não ocorreu na realidade. "Cada pessoa, em média, produz 800 gramas de lixo por dia. É um absurdo. Precisamos nos educar para separar os materiais orgânicos dos recicláveis, para ajudar os catadores na hora da triagem de todo esse material", sustenta.
A acadêmica lembra de um dado da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que revela que apenas 3% do lixo seco gerado no Brasil é reaproveitado. "É um descalabro", indigna-se. "Por isso o trabalho dos catadores é muito mais importante do que conseguimos imaginar."
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