O delegado da Polícia Federal Sandro Avelar retorna ao comando da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF). O nome dele foi confirmado pela governadora em exercício Celina Leão (PP), nesta quarta-feira (25/01), em coletiva de imprensa no Palácio do Buriti.
Inicialmente, Celina mapeou três nomes que poderiam assumir a SSP-DF: Cláudio Bandel Tusco, indicação do Partido dos Trabalhadores (PT); Júlio Danilo, secretário responsável pela posse presidencial de 1° de janeiro de 2023, e Sandro Avelar. O novo secretário do GDF foi lembrado por integrantes do próprio governo, por ele já ter sido secretário na gestão do ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Todos os avaliados são delegados da Polícia Federal. O Correio ouviu de interlocutores do governo local que o perfil traçado pela governadora manteve-se com nomes de dentro da PF, justamente para dar sequência à "fórmula" que estava dando certo.
Apesar de o último desse perfil ter sido Anderson Torres, demitido pelo governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) durante os atos terroristas de 8 de janeiro, a avaliação é de que o ex-ministro de Bolsonaro fez um bom trabalho, segundo esses interlocutores, à frente da pasta na sua primeira passagem, entre 2019 e março de 2021. Assim que Torres saiu da secretaria para assumir a Justiça na época, Júlio Danilo conduziu a pasta de forma correta, atestaram.
Os nomes sugeridos por Celina passaram pelo crivo do novo ministro da Justiça, Flávio Dino. O ex-governador do Maranhão reuniu-se com sua equipe e deu sinal positivo para que a governadora avançasse nas tratativas com um dos três delegados. Conforme adiantou a jornalista Ana Maria Campos, da coluna Eixo Capital, Avelar e a governadora em exercício se reuniram no Palácio do Buriti, na noite da última segunda-feira. O martelo foi batido por Celina anteontem.
Na coletiva, a governadora demonstrou otimismo com a chegada de Avelar, e lembrou que o novo chefe da pasta terá um teste de fogo: a posse dos deputados federais e dos senadores, em 1° de janeiro. "Viemos, em nome do GDF, fazer o anúncio do novo secretário de Segurança Pública. Com certeza, estamos em um momento em que ainda há um alerta por conta da posse da Câmara, Senado e do Supremo. No dia 1º, tenho que ter um secretário que já conheça o esquema de segurança", afirmou Celina.
O interventor, Ricardo Cappelli, destacou durante a coletiva que irá trabalhar em conjunto com Avelar na transição da segurança, inclusive no planejamento para que tudo ocorra tranquilamente em Brasília no próximo dia 1º,quando acontece a reabertura do ano no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Congresso Nacional. "Em função disso, a governadora decidiu antecipar o anúncio do secretário de Segurança do DF, para que possamos iniciar o processo de transição com absoluta harmonia e restabelecer tranquilidade", disse Cappelli.
Sobre o convite, Avelar acredita que aconteceu porque ele tem um perfil técnico. O novo secretário reafirmou o discurso de toda a cúpula do GDF, ao destacar confiança nas forças de segurança do DF. "Recebo esse convite como uma missão. Já estive nesse cargo antes, quero trazer esse espírito de colaboração para ajudar o país a manter a ordem", afirmou Avelar. "Eu acho que fui convidado pelo meu perfil técnico, a minha ideia é chegar e avaliar os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos (...) Confio absolutamente nas forças de segurança do DF. Chego com tranquilidade, sabendo que vou ter tempo de conhecer a equipe que está trabalhando", completou.
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Perfil de diálogo com qualidade
Quando os restos mortais do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Don Phillips chegaram a Brasília, a Polícia Federal recebeu sacos pretos que seriam transportados para a perícia no Instituto de Criminalística. Coube ao então número 2 da PF, Sandro Torres Avelar, providenciar imediatamente caixões e segurar uma das alças ao lado de colegas da PF, para tentar transformar aquele triste momento em algo pelo menos respeitoso, depois do bárbaro crime no Vale do Javari. As imagens repercutiram internacionalmente.
Foi missão do então secretário-executivo da PF o contato com as famílias durante o período em que policiais federais tentavam elucidar o que acontecera a Bruno e Dom. O encargo ficou com Sandro Avelar pelo perfil do diálogo, da habilidade de negociação e sensibilidade para enfrentar crises.
Talvez essa qualidade do diálogo com diferentes setores tenha sido decisiva para que o delegado da Polícia Federal fosse escolhido para assumir a Secretaria de Segurança Pública do DF em momento tão conturbado, quando o antecessor, o também delegado federal Anderson Torres, cumpre prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes e ratificada por outros oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Apenas dois ministros foram contra. "Recebo o convite com muita honra e também como uma missão", disse Sandro Avelar.
Aos 53 anos, Avelar passou por várias funções na carreira. Formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB), ele ingressou na PF em 1999. Na corporação, foi delegado regional de Combate ao Crime Organizado, membro do Comitê Nacional de Refugiados e chefe da Divisão de Estudos Legislação e Pareceres.
Durante três anos, Avelar foi adido da Polícia Federal no Reino Unido, morou de 2018 a 2021 em Londres. Pelo perfil de liderança, elegeu-se duas vezes presidente da Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal (ADPF), entre 2006 e 2010. Assim, tornou-se popular entre os colegas.
Em duas gestões, foi secretário-executivo da PF, o segundo cargo mais importante, nos governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro. E na Secretaria de Segurança do DF foi o mais longevo, considerando-se os governos eleitos democraticamente. Exerceu a função entre 2011 e 2014. Chegou ao cargo quando exercia a função de diretor do Sistema Penitenciário Federal.
O então governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), buscava um policial técnico para a pasta, depois que outro delegado da PF, Daniel Lorenz, deixou a pasta logo no início da gestão do petista. No Ministério da Justiça, então sob o comando do advogado José Eduardo Cardozo, Sandro Avelar foi apontado como uma boa opção.
Sandro Avelar topou e conseguiu promover uma boa integração entre policiais militares e civis. Enfrentou crises pelos problemas de criminalidade, mas saiu-se tão bem que foi incentivado a concorrer a um mandato de deputado federal em 2014 pelo MDB. Projeto que não deu certo e ele prometeu à mulher, Giselle Avelar, nunca mais repetir.
Sandro Avelar chega agora a uma nova gestão na Secretaria de Segurança do DF, a convite da governadora em exercício, Celina Leão (PP), com aval da direção-geral da Polícia Federal, e do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Tem também o apoio de policiais civis e militares do DF.
Mas o novo secretário realmente tem pela frente uma tarefa complexa. Precisa levantar o astral dos policiais militares que tiveram o ex-comandante-geral, coronel Fábio Augusto Vieira, preso, sob suspeita de falhar no policiamento do dia 8 de janeiro.
O primeiro teste será na próxima semana, na posse dos deputados e senadores, no Congresso, e no retorno dos trabalhos dos ministros do STF. "Chego para somar esforços para ajudar o Distrito Federal e ajudar o país nesse momento", disse ontem.
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Memória
Em 8 de janeiro, golpistas bolsonaristas partiram em direção à Praça dos Três Poderes sem nenhum tipo de contenção policial. Por volta das 15h, eles romperam a barreira de proteção das forças de segurança do Distrito Federal e invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF. Em seguida, passaram a depredar diversos objetos e salas dos três prédios.
No Congresso, entraram no Salão Verde da Câmara dos Deputados, área que dá acesso ao plenário da Casa. Os equipamentos de votação no plenário foram vandalizados e também usaram o tapete do Senado de "escorregador". Lá no Palácio, depredaram diversas salas na sede.
Na sede da justiça, quebraram vidros da fachada e chegaram até o plenário da Corte, onde arrancaram cadeiras do chão e o Brasão da República — que era fixado à parede.
Às 17h, o então governador Ibaneis Rocha (MDB) telefona e comunica a demissão do secretário de Segurança Pública, Anderson Torres. O ex-ministro de Bolsonaro não recebeu muito bem a notícia, e desligou o telefonou na cara do chefe do Executivo local. Desde então, nenhum dos dois se falaram mais.
Após os atos, o então comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), coronel Fábio Augusto, determina que as tropas da corporação prendam os golpistas, que retornaram ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU). No entanto, a entrada dos militares é rechaçada pelo comandante do Exército, o general Júlio César de Arruda. No mesmo dia, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decreta intervenção federal na segurança pública do DF. O ministro do STF Alexandre de Moares afastou Ibaneis por 90 dias. No dia seguinte, cerca de 1,5 mil pessoas foram detidas, de acordo com o ministro Flávio Dino, pela PMDF.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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