Entrevista

"Não descarto todo o Brasil estar buscando o foragido", diz delegado que investiga chacina no DF

Ricardo Viana, delegado da 6ª DP (Paranoá), conversou com o Correio e explicou as linhas de investigações, detalhes dos suspeitos e novas decisões sobre a chacina no DF que chocou o país e engajou polícias de diversos estados na apuração

Amanda Sales
postado em 25/01/2023 06:01 / atualizado em 25/01/2023 18:59
 (crédito: Foto: Marcelo Ferreira)
(crédito: Foto: Marcelo Ferreira)

"Há notícias de que ele [o quarto suspeito foragido] se encontra fora do Distrito Federal", declarou o delegado da 6ª Delegacia de Policia (Paranoá), Ricardo Viana. Em conversa com o Correio para esclarecer como está a apuração da chacina familiar, o responsável pela investigação revelou que as polícias de diversos estados estão mobilizadas para localizar Carlomam dos Santos Nogueira, 26 anos.

O delegado também confirmou que a linha de investigação está totalmente direcionada para a tese de que a família de Elizamar da Silva foi vítima de um esquema de extorsão. "O que está prevalecendo é que reuniram essas pessoas com intuito de retirar dinheiro, até porque foi encontrado senhas, documentos, cartões bancários e talões dessas vitimas", disse. 

Qual a linha de investigação que vocês estão seguindo?

Nós tínhamos duas linhas de investigação. A primeira contava com a autoria das pessoas que estavam desaparecidas, ou seja, Marcos, Thiago, Cláudia e Ana estariam juntos com os autores presos, Horácio Carlos, Gideon Batista e Fabrício Silva, e planejaram isso tudo com o intuito de obter vantagem econômica. A outra tese, que era a inicial, considera que que essas pessoas teriam sido mortas para por extorsão de dinheiro delas e assim foi feito. Uma morte sucessiva dos familiares. Com o corpo do Marcos encontrado e identificado, a tese da coautoria foi se fragilizando e, quando encontramos os corpos na segunda, ela se enfraqueceu bastante. A investigação está se desenhando para confirmar essa nossa linha. Então, o que está prevalecendo é que reuniram essas pessoas com intuito de retirar dinheiro, até porque foi encontrado senhas, documentos, cartões bancários e talões dessas vitimas. 

Essas vítimas fizeram grandes transações bancárias? 

A informação que temos até agora é de que, em dezembro do ano passado, Cláudia teria vendido um lote e recebido R$ 79 mil, em espécie, e outros R$ 130 mil, em transferências bancárias. Durante o depoimento, o Horácio assumiu que a intenção era auferir o dinheiro de Renata, um total de R$ 400 mil referente à suposta venda de uma casa em Santa Maria. E nós chegamos ao indício de que o Horácio tinha cerca de R$ 40 mil na conta e o Gideon, R$ 10 mil em espécie, além de R$ 4 mil depositados na conta da namorada. Por isso, pedimos a quebra de telefônico e bancário das vítimas e dos autores da chacina. Para, de fato, descobrir os valores movimentados pelos criminosos. Então, esse dinheiro deve ter circulado entre eles, mas, no futuro, a gente vai ter uma resposta para isso. Tudo que é relacionado a essas pessoas que foram presas deve ser apurado pela investigação. Nós temos pessoas sendo transportadas, pessoas sendo extorquidas, pessoas morrendo em torno desse núcleo e dessa associação criminosa. 

Quem indicou o local para a polícia e como os corpos foram encontrados? 

Nós já estávamos naquela área, realizando diligências e, após negociações, um dos presos nos indicou o local. Mostramos os benefícios que eles teriam de ajudar a polícia judiciária e também dar um descanso pras famílias das vítimas no sentido de encerrar etapa da investigação com o aparecimento dos corpos. E nos indicaram a casa abandona e a cisterna. A hipótese que prepondera é que eles tenham chegado lá já sem vida. Os corpos não estavam no estado digno de pessoas que foram a óbito. Não foi possível nem identificar há quanto tempo foram deixados lá. Precisamos esperar a perícia. 

Já se sabe quem escreveu o bilhete? 

Esse bilhete vai ter que passar por um exame grafoscópico. A gente sabe que o o cativeiro era frequentado por todos eles — autuados e também pelo procurado — mas, lá dentro, eles tinham uma liderança, e a gente acredita que aquele bilhete tenha sido escrito ou ordenado pelo Gideão e pelo Horácio. O que a gente sabe daquele bilhete é que aquele linguajar chamando as pessoas de 'chefe' era a prática de verbalização do Marcos. Ele usava isso usualmente, inclusive chama os filhos dessa forma. 

As buscas por Carlomam continuam? 

Foi feita a sugestão de recompensa e a diretoria de polícia está avaliando. As policias de Goiás, Minas Gerais e os demais estados estão engajados na apuração, até porque esse caso tomou grandes proporções. Não descarto todo o Brasil estar buscando esse sujeito que ainda está foragido. Há notícias de que ele se encontra fora do Distrito Federal, então estamos realizando buscas.

crime cidades cabelereira
crime cidades cabelereira (foto: valdo Virgo)

 

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