A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) identificou mais um suspeito de participar da chacina de uma família que vem chocando o país. Carlomam dos Santos Nogueira, 26 anos, é o quarto suspeito de envolvimento com o desaparecimento de dez pessoas da mesma família e está foragido. A polícia chegou à identidade dele por meio das impressões digitais encontradas no cativeiro onde foram mantidas quatro das pessoas sumidas e também no carro de Gideon Batista, outro suspeito, que está preso. O Correio divulgou, em primeira mão, que Carlomam é integrante da maior facção do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC). A PCDF pede para que, caso alguém tenha informações sobre o paradeiro de Carlomam, denuncie pelo número 197. O sigilo é garantido. Além de localizar a quarta pessoa envolvida, a polícia ainda precisa desvendar outros mistérios até que o caso seja concluído. A investigação é conduzida pela 6ª Delegacia de Polícia, no Paranoá, comandada pelo delegado Ricardo Viana.
Carlomam teria o mesmo envolvimento que Horácio Carlos, 49, e Gideon Batista, 55, no crime. O foragido teria participado do sequestro e assassinato das vítimas. O suspeito foi alvo de uma operação desencadeada em 2018 pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) contra membros da cúpula da facçao atuantes em presídios da capital. À época, os investigadores cumpriram 26 mandados judiciais, sendo 13 de prisão preventiva.
Carlomam é antigo conhecido da polícia e acumula passagens por roubo, porte ilegal de arma de fogo, corrupção de menores e receptação qualificada. Em 2018, enquanto esteve detido no Complexo Penitenciário da Papuda, o criminoso foi alvo da operação Prólogo. Segundo as investigações naquele ano, internos de seis estabelecimentos prisionais do DF estariam atuando de dentro da cadeia para o fortalecimento da cúpula, como o batismo de novos membros e a ligação entre faccionados da capital e do Entorno. Foram apreendidas cartas e cadernetas dentro de celas usadas pelos custodiados para a transmissão de mensagens com conteúdo criminoso para outros criminosos.
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Desaparecidos
Das dez pessoas da mesma família que estavam desaparecidas, foram comprovadas as mortes de cinco: a cabeleireira Elizamar da Silva, 37 anos; os filhos, Gabriel, 7, e os gêmeos Rafael e Rafaela, 6; e o sogro dela, Marcos Antônio Lopes de Oliveira. Elizamar e os três filhos serão enterrados hoje, às 15 horas, no cemitério Redenção, em Planaltina, Goiás. Segundo o irmão da cabeleireira, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) está ajudando com as despesas funerárias. Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre o sepultamento de Marcos. Os corpos de Elizamar e dos filhos foram encontrados carbonizados dentro do carro dela, próximo a Cristalina (GO), em 14 de janeiro. O cadáver de Marcos foi localizado enterrado em uma cova de 50 centímetros de profundidade, dentro de uma residência no Vale do Sol, em 19 de janeiro.
Familiares e amigos definem Elizamar como uma mulher trabalhadora e uma grande mãe. Era dona do salão de beleza Eliza Coiffeur, na 307 Norte. Eliza, como era tratada pelos mais próximos, tinha acabado de iniciar o negócio, com planos de expansão. O marido, Thiago, é descrito como um pai presente e um bom marido. "Nunca vi o Thiago irritado, nem brigando com os filhos dele ou com a Eliza. Estava sempre aqui com as crianças ajudando a mim ou a ela", contou Maria José, amiga de Elizamar e proprietária de um salão de beleza vizinho ao dela. Marcos era funcionário de uma agropecuária, pai de três filhos também envolvidos no caso — Thiago, Gabriela e Ana Beatriz (desaparecida).
Permanecem desaparecidos o marido de Elizamar, Thiago Belchior, 30; a ex-mulher de Marcos, Cláudia Regina, e a filha deles, Ana Beatriz. Fabrício Silva Canhedo confessou que Cláudia e Ana Beatriz também foram mantidas em cárcere no mesmo local junto à Renata Belchior, 52, e Gabriela Belchior, 25, que seguem desaparecidas. Contudo, em depoimento, Horácio Carlos, 49, um dos presos pela polícia, confessou que os dois cadáveres encontrados carbonizados em um carro, em Unaí (MG), no sábado (14/1), são de Renata e Gabriela. Até o fechamento desta edição, a informação não foi confirmada pela polícia.
Saiba Mais
Quebra-cabeça: quem são e o que dizem os suspeitos que estão presos
Na última quinta-feira (19/1), o Núcleo de Audiência de Custódia (NAC) do Tribunal de Justiça do DF (TJDFT) converteu em preventiva as prisões de Fabrício Silva Canhedo, Gideon Batista de Menezes e Horácio Carlos Ferreira Barbosa, acusados de extorsão mediante sequestro, ocultação de cadáveres e associação criminosa.
Gideon Batista de Menezes, 55 anos
Preso desde 17 de janeiro, Gideon tem passagem por crime hediondo. Era amigo da família e prestava serviços para Marcos Antônio. Ao ser detido, apresentava queimaduras nas mãos. Para a polícia, contou que teria se queimado ao tentar atear fogo em cachorros em uma fazenda, mas a versão é considerada mentirosa pelos investigadores.
Horácio Carlos Ferreira Barbosa, 49 anos
Também foi preso em 17 de janeiro. O Correio obteve acesso ao vídeo do interrogatório de Horácio e, em sua versão, o suspeito relata que todo a ação criminosa foi orquestrada por Marcos Antônio (cujo corpo foi encontrado posteriormente) e Thiago Belchior (ainda desaparecido). Pai e filho teriam contratado Horácio e Gideon para executar os assassinatos, mediante o pagamento de R$ 100 mil. "O Thiago definiu que era para executar as crianças. Ele estrangulou o mais velho, eu, um dos gêmeos, e o Gideon, o outro”, disse Horácio em depoimento.
Fabrício Silva Canhedo, 34 anos
Acusado de fazer a vigilância da casa onde Renata Juliene Belchior, 52, e a filha, Gabriela Belchior, 25, foram mantidas em cárcere, Fabrício foi preso em 18 de janeiro. Ao Correio, a defesa de Fabrício afirmou que ele foi preso ao se apresentar na delegacia espontaneamente depois de saber que estava sendo procurado pela polícia. "A defesa técnica contesta a prisão pelo fato do mesmo ter se apresentado espontaneamente, colaborar com as investigações e por negar cometimento de crime contra a vida das vítimas. Declara-se ainda que não teve acesso aos autos se reservando a se manifestar com melhores detalhes na ocasião que o acesso for permitido pela justiça criminal", frisou o advogado Robson Machado.
Relembre o caso
Em 12 de janeiro, Elizamar da Silva, 39, desapareceu com os filhos Gabriel, 7, e os gêmeos Rafael e Rafaela, 6, do Condomínio Residencial Novo Horizonte, no Itapoã.
No dia 13, o carro de Elizamar, um Renault Clio preto, foi encontrado, no Km69 da rodovia GO-436, em Luziânia (GO), carbonizado, com quatro corpos dentro.
Três dias depois, a Polícia Civil de Goiás (PCGO) localizou, em Unaí (MG), um Fiat Siena com dois cadáveres carbonizados. O automóvel pertencia a Marcos Antônio de Oliveira. Em 17 de janeiro, Gideon Batista de Menezes, 55, é preso por suspeita de ter participado no assassinato da família de Elizamar.
No mesmo dia, a polícia capturou Horácio Carlos Ferreira Barbosa, 49, que também estaria envolvido.
Em 18 de janeiro, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) prendeu Fabrício Silva Canhedo, 34, o terceiro suspeito.
No dia seguinte, foi comprovado que o sétimo corpo encontrado era de Marcos Antônio. Com isso, a tese de que Marcos Oliveira e o filho Thiago Belchior tinham encomendado as mortes perdeu força.
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