Um cadáver do sexo masculino encontrado enterrado no quintal da casa onde mãe e filha foram mantidas reféns trouxe um novo rumo às investigações e enfraqueceu a tese de que Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54 anos, e o filho Thiago Belchior, 30, seriam os mandantes dos assassinatos da cabeleireira Elizamar da Silva, 37; dos filhos dela, Gabriel, 7, e o casal de gêmeos Rafael e Rafaela, 6; de Renata Juliene Belchior, 52; e da filha dela, Gabriela Belchior, 25. Agora, a linha de investigação sugere que os três presos, Gideon Menezes, 55, Horácio Carlos, 49, e Fabrício Silva Canhedo, 34, tenham articulado a ação criminosa para subtrair dinheiro da família.
Policiais civis da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) tomaram conhecimento sobre a existência do cadáver no lote por volta das 14h de ontem, após a residência ser novamente periciada. O imóvel, situado no Vale do Sol — entre o Vale do Amanhecer e Arapoanga, em Planaltina —, foi alugado por Horácio há cerca de um mês. O suspeito alegou, em depoimento, que a ideia inicial era transformar o local em uma oficina de carro, mas o espaço se tornou uma espécie de cativeiro. Em um dos quartos da casa, Renata e Gabriela foram mantidas em cárcere por mais de 24 horas. Elas foram amordaçadas, tiveram as mãos amarradas e os olhos vendados.
À polícia, Horácio confirmou ter estrangulado e carbonizado o corpo das duas dentro de um carro, em uma via de Unaí (MG). O veículo, um Siena, estava em nome de Marcos e, dentro dele, foram encontrados dois corpos do sexo feminino. Ainda não é possível dizer que se trata de Renata e Gabriela, uma vez que o resultado do exame de DNA não ficou pronto.
Corpo x investigação
O cadáver encontrado ontem estava enterrado no quintal da mesma casa. A operação de busca contou com a participação de militares do Corpo de Bombeiros e dois cães farejadores da corporação. Ao chegarem ao local, os bombeiros logo constataram que a terra havia sido mexida em uma parte do canto direito do quintal. “Assim que os cães se aproximaram, mudaram o comportamento e percebemos que havia algo de errado”, afirmou o tenente Marcelo de Abreu, do CBMDF.
As equipes cavaram cerca de 30cm de profundidade e encontraram o cadáver. O corpo apresentava marcas de violência, estava decapitado e sem as mãos e os braços. Peritos criminais e papiloscopistas estiveram no local para colher vestígios. Segundo o tenente, a vítima teria sido morta há cerca de quatro a 10 dias. O resultado do IML que identificará o homem deve sair nos próximos dias.
Sob condição de anonimato, uma vizinha relatou ao Correio ter visto movimentos estranhos na casa e escutado batidas de picareta. Um outro comerciante disse à reportagem ter visto, ainda, um homem semelhante a Fabrício Silva, preso por suspeita de envolvimento nos desaparecimentos e contratado para vigiar a residência e as vítimas mantidas em cativeiro. Fabrício foi preso na terça-feira após se apresentar na delegacia. "A defesa técnica contesta a prisão pelo fato do mesmo ter se apresentado espontaneamente, colaborar com as investigações e por negar cometimento de crime contra a vida das vítimas. Declara-se ainda que não teve acesso aos autos se reservando a se manifestar com melhores detalhes na ocasião que o acesso for permitido pela justiça criminal", frisou o advogado Robson Machado, em nota enviada ao Correio.
A versão contada por Horácio sugere que os mandantes da chacina sejam Marcos e Thiago, dados como desaparecidos. A reportagem obteve acesso ao vídeo do interrogatório, em que o suspeito detalha a maneira como supostamente ocorreram as mortes. Inicialmente, Elizamar teria sido atraída pelo marido Thiago para ir à casa dos pais dele, em um condomínio do Paranoá. A mulher saiu do salão onde era proprietária, na 307 Norte, junto aos três filhos, na noite de quinta-feira. Assim que chegou à residência, Horácio assumiu a direção do carro da empresária. “No banco da frente, estava o Thiago. Atrás, estavam a Eliza e os três filhos. Só ela estava com os pés amarrados e vendada. Toda vez que a gente passava por um local suspeito, pedia para ela abaixar a cabeça”, confessou.
Horácio dirigiu o Clio preto até uma rodovia de Cristalina (GO) e contou com o apoio de um segundo veículo, um Scenic, conduzido por Gideon. “O Scenic saiu antes para comprar gasolina e o Gideon foi em um desses postos daqui perto (Paranoá) e comprou o galão”, diz Horácio. A versão coincide com as imagens das câmeras de segurança de um posto de combustível da região captadas pela polícia. Na filmagem, Gildeon chega no mesmo carro e, em menos de 10 minutos, compra o galão e vai embora.
Segundo o criminoso, a ideia era “dar um susto” em Elizamar e nas crianças para fazer com que o crime fosse comparado a um assalto ou sequestro. Ainda de acordo com a versão, no meio do caminho Elizamar teria passado infartado e morrido ainda com o carro em movimento. “O Thiago definiu que era para executar as crianças. Ele (Thiago) estrangulou o filho mais velho, eu, um dos gêmeos, e o Gideon, o outro.” Gildeon teria sido o responsável por atear fogo no veículo com os corpos dentro.
Apesar da versão ser rica em detalhes e parecer contundente, ela é a mais fraca. Caso se confirme que o corpo encontrado enterrado seja de Thiago ou Marcos, a hipótese de que Horácio, Gideon e Fabrício se associaram para cometer todos os assassinatos ganha força porque a coautoria fica prejudicada, uma vez que pai e filho não estavam em conluio com as morte, acredita o delegado-chefe da 6ª DP, Ricardo Viana
"Até agora (a motivação) é patrimonial. Imóveis foram vendidos, dinheiro estava circulando na família, o que culminou com a cobiça, haja em vista que eles dois (Gideon e Horácio) moravam na mesma chácara e sabiam de toda a rotina deles. A investigação não pode aceitar todas versões do acusado. Cabe a nós pegar o que foi dito e tentar comprovar. Estamos vendo que alguma das comprovações que ele colocou não está se concretizando”, disse.
Novas vítimas
O número de pessoas desaparecidas chega a 10. Além de Elizamar, dos três filhos, do marido, dos sogros e da cunhada, Claudia Regina Marques de Oliveira, ex-mulher de Marcos, e a filha deles, Ana Beatriz Marques de Oliveira, estão sumidas desde sexta-feira — mesma data em que foi registrado o desaparecimento da família. Ontem, os familiares fizeram um boletim de ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) para relatar o caso.
O Correio apurou que, além de Renata, Cláudia também estaria em posse de uma alta quantia de dinheiro, no valor de R$ 200 mil referente à venda de uma casa no Paranoá. Renata, por sua vez, teria recebido R$ 400 mil pela venda de um imóvel em Santa Maria.
*Estagiários sob a supervisão de Patrick Selvatti
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