Generosidade, espírito de cooperação, tranquilidade e profissionalismo são apenas alguns dos traços da personalidade do jornalista Jairo Valladares, que morreu nesta segunda-feira (16/1), aos 91 anos, de infarto. Desbravador da cidade, ele também foi um dos pioneiros dos Diários Associados na então nova capital federal, como o primeiro diretor comercial do Correio Braziliense, em 1963, e no comando da TV Brasília.
Escolhido para dirigir a emissora, posto que assumiu em 1964, ele começou a trabalhar no veículo bem antes, como gerente das obras de construção dos prédios que abrigariam a tevê. Em abril de 1962, ele revelou em um texto a rotina entre 1959 e 1960. "Hospedagem, naquela época, só mesmo o Brasília Palace; e, após meia hora de sacolejo do táxi, lá chegávamos inteiramente cobertos do pó vermelho de Brasília, como convinha à época." Em 2019, falou ao Correio que sentia falta daquele período. "Foi uma época muito interessante que vivemos. Éramos jovens, e, depois, outros foram chegando."
Clarissa Valladares, a primogênita das quatro filhas de Jairo, emociona-se ao lembrar do pai. "Era um homem extremamente gentil, inteligente, pioneiro! Gostaria de agradecer por tudo, todo amor e educação que proporcionou para nós, filhas. Somos quatro! Ele sempre fez questão de investir em nossa educação", diz, acrescentando que o pai "era muito culto, falava várias línguas, amava arte e cultura".
Amante da música, Jairo costumava cantar e tocar sua gaita com a esposa, Silvia, que o acompanhava ao piano. Chamado pela família de "camponês", fez a primeira campanha em Brasília para que fossem plantadas árvores frutíferas e flores. A iniciativa prosperou e resultou em uma das marcas registradas da capital da República. Nas horas de lazer, o jornalista também dedicava atenção aos animais. "Amava cachorros, sempre teve muitos, adotava da rua também", revela Clarissa.
Companheirismo
Ao saber da morte do amigo, Renato Riella ficou muito abalado. O consultor de marketing empresarial e político falou sobre os anos em que trabalhou ao lado de Jairo. "Éramos braço direito um do outro nos Diários Associados, na década de 1980 — eu como chefe de redação do Correio Braziliense e Jairo na direção da TV Brasília", relata.
"Jairo tinha um espírito colaborativo, interessado e uma característica rara nas pessoas: não tinha egoísmo, rivalidade. Foi muito bom trabalhar com ele. O melhor jeito de defini-lo era como uma pessoa suave, mas, ao mesmo tempo, penetrante. (...) Nos falávamos diretamente, ele ia todos os dias na redação. Chegava, sentava no meio da redação, tirava o paletó, a gravata e ia cumprimentar toda equipe de mesa em mesa. Na década de 1980, éramos todos uma família em Brasília", completa.
O sentimento de Fernando Kerr, que trabalhou com Jairo na TV Brasília, de 1976 a 1995, é de gratidão pelo apoio e pelos ensinamentos. O diretor e roteirista destaca que Jairo mostrou caminhos para que ele entrasse no universo da comunicação. "Quando eu estudava para ser um tradutor na Universidade de Brasília (UnB), no começo da década de 1980, Jairo Valladares me abriu as portas para um mundo novo para mim até então: a televisão, a produção audiovisual. Costumava dizer que ele era o culpado por esse meu vício", recorda.
Trajetória
Jairo nasceu em 30 de novembro de 1931, em Bom Despacho (MG). Mudou-se para Brasília em 1959. Em fevereiro de 1963, assumiu como o primeiro diretor comercial do Correio Braziliense. De 1964 até o fim dos anos 1990 foi diretor comercial e geral da TV Brasília, onde permaneceu até o final da década de 1990.
Defensor da programação local, foi responsável pelo Jornal Vemag, pelo Brasília Urgente e pelo Telemanhã, entre outros. Atuou como gerente administrativo da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) de 1996 a 1998, e ocupou a cadeira 66 do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHG-DF).
Além da esposa Silvia e da primogênita Clarissa, Jairo Valladares deixa as filhas Adriana, Renata e Rosana e sete netos. O sepultamento ocorreu nesta terça-feira (17/1) no Cemitério Campo da Esperança.
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