No dia em que completaria um mês, bebê morre à espera de cirurgia no DF

Maria Júlia Barbosa Lima morreu com apenas um mês, após ter esperado por 30 dias por uma cirurgia no coração. Secretaria de Saúde descumpriu todas as determinações judiciais para remoção da bebê

Darcianne Diogo

postado em 07/01/2023 21:03 / atualizado em 07/01/2023 21:04

(crédito: Arquivo pessoal)

No dia em que completaria um mês de vida, a pequena Maria Júlia Barbosa Lima morreu à espera de uma cirurgia no coração. Mesmo após a Justiça determinar a transferência imediata da pequena ao Instituto de Cardiologia e Transplantes do DF (ICTDF), o Governo do Distrito Federal não cumpriu com o acordo. Em entrevista ao Correio, a mãe de Maria, Jessica Kerolayne, 26 anos, contou que entrará com um processo judicial.

Maria Júlia nasceu em 7 de dezembro no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Logo nos primeiros dias de nascimento, a mãe notou que a filha respirava com dificuldade e acionou a equipe médica. Os profissionais de saúde constataram o problema e transferiram a bebê para a unidade de terapia intensiva (UTI) do hospital para ficar em observação. “Logo quando ela chegou, os médicos deram medicação, que mantinha o canal aberto. Então, ela estava com suspeita de cardiopatia, mas precisava de um exame para confirmar”, relatou Jéssica.

Como na rede pública o exame levaria dias a ser feito, uma médica de um hospital particular se prontificou e fez o ecocardiograma na bebê. O diagnóstico foi de cardiopatia congênita e seria necessário uma internação imediata. A mãe procurou a Defensoria Pública para oficializar o relatório emitido pela profissional de saúde que exigia que Maria desse entrada na UTI do ICTDF imediatamente. “No dia 20 de dezembro, o GDF enviou ofício falando que minha filha era a primeira da fila e só estava aguardando um leito. Mas nada aconteceu. Os dias foram passando e a Maria foi piorando”, afirmou Jéssica.

Descaso

Em 29 de dezembro, a Justiça intimou a Secretaria de Saúde (SES-DF) a providenciar, no prazo de 24 horas, a transferência de Maria, com internação em leito da UTI com suporte cirúrgico cardíaco no ICTDF.  O pedido, novamente, foi ignorado.

Em uma nova decisão emitida em 5 de janeiro, a 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF determinou ao GDF a internação da bebê em qualquer hospital de atendimento público ou particular, mediante o pagamento de uma multa de R$ 30 mil por dia. “Nesse mesmo dia, o GDF se pronunciou dizendo que a Maria era a prioridade, mas que não havia leito disponível. Segundo eles, em dezembro, a regra havia mudado e que a prioridade era quem havia nascido primeiro, e não mais aqueles com o quadro mais grave. Eles responderam o ofício dizendo que a vaga para a minha filha estaria disponível dia 12”, detalha a mãe.

Mas o tempo não esperou. Antes de morrer, a pequena sofreu uma parada cardíaca e os médicos conseguiram reverter o quadro. No entanto, a pequena não resistiu e faleceu às 4h55 de ontem. “Nenhuma data foi cumprida pela secretaria. Sei que nada a trará de volta, mas vou lutar para que isso sirva de exemplo a outras mães, como alerta e para chamar a atenção do GDF. A secretaria é uma decadência. Os médicos do HRT nos atenderam muito bem, fizeram tudo que estava ao alcance deles, mas minha filha dependia de uma cirurgia. A licença-maternidade dela não foi para ir para casa”, desabafou Jéssica, que seria mãe de primeira viagem.

Maria Júlia foi sepultada ontem no Cemitério de Águas Lindas.

O que diz a Secretaria de Saúde?

Diferente do que foi respondido à Justiça, a SES-DF esclareceu, por meio de nota enviada ao Correio, que a transferência da paciente Maria Júlia, da UTI do HRT para a UTI do ICTDF, estava programada para ocorrer na sexta-feira, às 7h, “seguindo todos os protocolos de segurança que o caso necessitava em razão da sua gravidade”. “No ICTDF, já estava programado o procedimento cirúrgico, de alta complexidade, na tentativa de reverter o quadro clínico da paciente. A paciente veio a óbito na madrugada deste sábado em razão da sensibilidade do seu caso. A Secretaria de Saúde lamenta a morte da Maria Júlia, solidarizando-se com os familiares e amigos”, informou a pasta.

Ainda de acordo com a secretaria, Maria não foi transferida anteriormente em razão do quarto delicado de outros três bebês que estavam na UTI do ICTDF, não podendo esses serem transferidos para outras UTIs pediátricas.

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