Economia

Especialistas alertam que aumento no custo de vida deve impactar brasilienses

Impostos como IPVA e IPTU, contas de água e de luz e juros do cartão de crédito devem impactar finanças dos brasilienses. Famílias carentes são as mais afetadas com a alta dos preços

Mila Ferreira
postado em 06/01/2023 05:58 / atualizado em 06/01/2023 10:43
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)

Está em vigor o novo salário mínimo no valor de R$ 1.320. O montante, apesar de 7,43% maior do que o valor de 2022, ainda não é suficiente para arcar com as despesas básicas das famílias. No Distrito Federal, 82,7% delas estão endividadas, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), o valor ideal do salário mínimo para cobrir as despesas familiares básicas, sem se endividar, seria de R$ 6.575,30. Cesta básica, IPTU, IPVA, gás de cozinha, material escolar, etc, são exemplos de despesas que aumentarão, deixando ainda mais difícil o encaixe dos gastos mensais dentro do orçamento familiar de classe média. Economistas alertam que o uso de cartão de crédito rotativo pode ser uma armadilha.

De acordo com o economista e educador financeiro Francisco Rodrigues, o trabalhador de menor renda compromete cerca de 59,4% do seu orçamento com alimentação, o que acaba corroendo o poder de compra. "Os orçamentos das famílias de menor renda seguem muito apertados. Juros altos e inflação aumentam ainda mais as despesas das famílias", destacou o especialista. "As pessoas estão atrasando contas básicas, como água e luz. O trabalhador acaba sendo obrigado a escolher o que comprar e o que pagar, porque o salário mínimo não tem sido suficiente para dar conta de todas as despesas", observou Francisco.

A população mais carente sente mais os reflexos da carestia. O auxiliar de transporte Erismar dos Santos, 25 anos, tem uma família de cinco pessoas e, juntando a renda de todos, o orçamento total da família no fim do mês é de R$ 2 mil. Segundo ele, que mora na Estrutural, o valor não é suficiente para cobrir todas as despesas. "A gente vai se virando. Mas, ultimamente, não tem dado nem para comprar todos os alimentos essenciais", contou Erismar. Além disso, o auxiliar de transporte está endividado. "Tento fazer horas extras no trabalho para cobrir as despesas e quitar as dívidas. Hoje em dia, uso entre 70% e 80% do meu salário somente para pagar dívidas", afirmou. Erismar acredita que o novo governo vai ajudar a melhorar a vida dele. "Tenho esperanças de que o novo presidente vai olhar para as pessoas mais necessitadas", ressaltou.

De acordo com a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) divulgada em novembro de 2022 pela CNC, 82,7% das famílias do Distrito Federal estão endividadas. "Isso preocupa não só os consumidores, mas também gera dificuldade para as empresas, que não conseguem vender e nem pagar fornecedores, em função da inadimplência. É um ciclo vicioso que precisa melhorar e muito", analisa o economista, professor da Universidade de Brasília (UnB) e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon)  César Bergo. "O mais importante é ter disciplina e paciência na hora de fazer o orçamento", sugere o profissional.

A população deve se preparar ainda para o aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é uma tarifa reajustada anualmente e que interfere nos valores das alíquotas de energia, telefonia, transportes e combustíveis. Mesmo quando algum item não sofre alteração no ICMS, outros produtos acabam sendo afetados. "Planos de saúde estão subindo e também os impostos que geralmente são pagos no início do ano. Só o salário mínimo, de fato, não cobre", observa o economista César Bergo. "O endividamento vai batendo o pico. Isso é preocupante. As famílias estão no limite do endividamento. Não conseguem crédito, pois muitas delas estão com nomes com restrições na praça", acrescentou o especialista.

A moradora da Estrutural Esmeralda Taveira, 61 anos, e o marido, Ivanildo Januário, 64, vivem com o valor de R$ 1.100, referente à aposentadoria da mulher. Mas, para conseguir o benefício, o casal precisou contratar uma advogada e, para pagar os honorários da profissional, é preciso retirar R$ 300 por mês. "O combinado foi que eu passasse dois anos pagando ela", explicou a aposentada. Além do pagamento mensal à profissional e das despesas básicas, dona Esmeralda ainda precisa arcar, ocasionalmente, com o pagamento de alguns remédios que precisa, pois nem sempre ela os encontra nas farmácias de alto custo. "Quando vou ao mercado, nem sempre consigo comprar tudo que preciso. Tem dia que nem consigo comprar comida", disse ela.

Variação

O Dieese realiza uma pesquisa mensal em que levanta o preço de cerca de 12 itens para estimar o valor da cesta básica em algumas capitais. Segundo a última pesquisa, divulgada em dezembro de 2022, o valor da cesta básica em Brasília é de R$ 712,20, tendo apresentado uma variação acumulada para cima de 14,58% no ano.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela regulamentação do setor elétrico no país, definiu que, a partir do último 3 de novembro de 2022, os clientes atendidos pela Neoenergia Brasília teriam novas tarifas de energia elétrica. O impacto médio do reajuste tarifário, que inclui isenções que reduzem a base de cálculo do ICMS, foi de 11%. Esse percentual é a média do reajuste para os clientes residenciais e comerciais.

O Imposto Predial e Território Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) também vão aumentar. A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) aprovou, em dezembro de 2022, um reajuste de 5,97% para ambos os impostos.

O Reajuste Tarifário Anual (RTA) de 2022 dos serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário prestados pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), definida a partir de cálculos realizados pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), é 9,64% para a categoria residencial e de 7,46% para a categoria não residencial. O reajuste anual passou a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2023.

Armadilha

O cartão de crédito rotativo — que consiste no pagamento mínimo da fatura — e o uso do cheque especial são subterfúgios que podem ajudar a curto prazo, mas são verdadeiras armadilhas, segundo especialistas. De acordo com o economista e consultor financeiro Francisco Rodrigues, mais de 84% da população está endividada principalmente por causa do cartão de crédito rotativo.

Houve um aumento de 14,45% na taxa do cartão de crédito rotativo, comparado ao mesmo período de 2021. Com isso, a taxa de juros anual do cartão crédito está em média 377% ao ano. Em alguns bancos, essa taxa custa mais de 685,99% ao ano. O cartão de crédito rotativo é a modalidade de crédito mais cara do mercado. A segunda é o cheque especial, que aumentou 8,16% no último ano, comparado a 2021. Com isso, a taxa de juros anual do cheque especial está em média 147% ao ano. Em alguns bancos essa taxa custa mais de 160% ao ano.

De acordo com Francisco Rodrigues, a partir dos meses de março e abril, estão previstos reajustes nos preços de medicamentos e valores de planos de saúde. "Os planos estão procurando compensar as perdas que tiveram durante a pandemia da covid-19. O ideal é que as pessoas procurem novas alternativas mais vantajosas, antes que os planos de saúde anunciem os aumentos", sugeriu Francisco.

Colaborou Carlos Silva*

Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — variação mensal acumulada em 12 meses

Mês: novembro 2022 / Fonte: IBGE

Vestuário
18,65%

Alimentação e bebidas 11,84%

Saúde e cuidados pessoais

10,49%

Ensino fundamental 8,77%

Creche

8,03%

Ensino médio

8,03%

Livro didático

3,06%

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