Crime

Casos de violência contra a mulher revelam desafios na segurança

Em menos de 24 horas, a capital registrou três casos em que mulheres foram agredidas — física e psicologicamente — por homens, sendo que dois acabaram em morte. Os casos revelam o maior desafio na segurança para 2023, segundo especialistas: a criação de estratégias de prevenção

Ana Maria Pol
postado em 01/01/2023 17:11
 (crédito: Nino Carè/Pixabay)
(crédito: Nino Carè/Pixabay)

A violência contra as mulheres marcou a noite da virada de ano no Distrito Federal. Em menos de 24 horas, a capital registrou três casos em que mulheres foram agredidas — física e psicologicamente — por homens, sendo que dois acabaram em morte. Fernanda Letícia da Silva, 27 anos, foi uma das brasilienses que perdeu a vida na última noite, após ser estrangulada pelo companheiro durante uma festa, na casa dos sogros, em Ceilândia. Uma jovem, de 19 anos, também foi morta após ser assediada em um ônibus, enquanto uma mulher foi feita de refém após discussão entre o namorado e o pai. Os casos revelam o maior desafio na segurança para 2023, segundo especialistas: a criação de estratégias de prevenção.

A advogada e professora do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Carolina Costa, acredita que um dos grandes problemas do governo do DF é que casos de violência contra a mulher costumam ser invisíveis dentro do âmbito de segurança pública. “Quantas vezes os órgãos se preocupam com a violência das ruas? Coisas como roubos, sequestros e isso deixa, em muitos momentos, a importância do que acontece dentro de casa reduzida”, diz.

Por isso, Carolina reitera que o desafio é ampliar a atenção do combate ao feminicídio, “O feminicídio é o estopim de um processo que começa com a violência psicológica, física, e culmina na morte por gênero. É importante termos equipes específicas para identificarem fatores de risco. Já temos estudos para pensarmos em estratégias de prevenção, hoje tivemos três casos, e não podemos ficar pensando nos registros, mas sim na prevenção”, completa.

Segundo Carolina, o caso de Fernanda Letícia da Silva representa bem o processo da violência. Isso porque as investigações apontam que a vítima e o autor, identificado como Maxwel Lucas Rômulo Pereira de Oliveira, 32, viviam um relacionamento marcado por conflitos. Ela já prestou, inclusive, queixa de violência física contra Maxwel em março do ano passado.

De acordo com a delegada Adriana Romana, da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher II (Asa Sul), na época, eles informaram que estavam separados e Fernanda não quis solicitar a medida protetiva de urgência. “Eles tinham um relacionamento conturbado, mas ainda assim ela não quis fazer o pedido”, reitera. A causa da morte ainda não foi confirmada mas, segundo a delegada, há indícios de enforcamento. “Estamos aguardando a confirmação do laudo cadavérico”, diz.

De acordo com Adriana, o crime aconteceu durante a festa da virada do ano, na casa dos pais do autor do crime. “Ele ainda morava com os pais. Já a mulher é de Santo Antônio do Descoberto (GO)”. O horário do crime também não foi confirmado. “Não conseguimos dizer, ainda, quando aconteceu o crime, se foi no dia 31 ou 1 º, mas a ocorrência foi registrada na madrugada deste domingo”, diz. Desde o ocorrido, Maxwell está foragido. Segundo Adriana, ele avisou a família que teria cometido o crime e fugiu do local. “Foram os familiares que denunciaram o crime, a família está bem abalada”, reiterou.

Assédio

Ainda nesta madrugada, uma jovem de 19 anos também morreu, após ser esfaqueada dentro de um ônibus, em Santa Maria. O caso, que é investigado como homicídio, aconteceu dentro do coletivo, que seguia para o Plano Piloto, pela BR-040, próximo ao Residencial Santos Dumont, quando a vítima foi assediada. De acordo com policiais da 20ª Delegacia de Polícia (Gama), responsável pelo caso, o namorado reagiu após um homem “dar em cima” da vítima. Durante a discussão, o assediador tentou esfaquear o namorado, mas acabou acertando a perna da jovem.

A adolescente, que não teve a identidade confirmada pela PCDF, chegou a ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF), e transportada para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), mas não resistiu aos ferimentos e morreu. O suspeito a atingiu na panturrilha e feriu a veia femoral, o que provocou a morte da mulher. Essa veia leva o sangue da perna para o coração e, se cortada, o ferimento pode ser fatal se não for estancado rapidamente.

A reportagem apurou que o ônibus estava cheio de passageiros que voltavam para casa após festas de réveillon, e o crime aconteceu no dia em que a vítima completou 19 anos. O autor foi preso em flagrante e levado para a corporação por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Feita de refém

Em Samambaia, a 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) apura o caso em que uma mulher foi feita de refém após o namorado brigar com o pai neste domingo (1º/1). De acordo com informações preliminares da Polícia Militar do DF (PMDF), o homem soltou bombinhas para fingir que estava com uma arma de fogo de verdade, mas o objeto era, na verdade, uma arma de airsoft. O Correio procurou a PCDF para mais informações do caso, mas até a publicação da reportagem não houve resposta.

 

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