O ano-novo chegou! E hoje, os brasilienses e os brasileiros de todos os cantos do país estão na capital para acompanhar a chamada festa da democracia. Com as ameaças, envolvendo vandalismos e atentados terroristas, a segurança foi reforçada e a cidade está lotada desde o meio da semana. E para quem veio especialmente para a grande celebração, que marcará o início do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, todos os caminhos levam à Esplanada dos Ministérios. No local, além da posse, o chamado Festival do Futuro, com atrações artísticas e musicais de todo o país devem lotar o espaço com cerca de 400 mil pessoas.
Apesar do clima de tensão, os que desejam festejar o momento não desanimam. A cientista ambiental Amanda Aragão, 29 anos, pretende levar só o básico: cartão para fazer compras e o celular. "Até pela segurança, tanto por causa de furtos quanto por possíveis atos de violência. Vai que um bolsonarista radical puxa a bolsa e eu me machuco", teme a moradora de Vicente Pires. O conforto também pede a menor quantidade de objetos possível. "Eu pretendo ficar para o show da Pabllo Vittar, que é um dos últimos, já de madrugada, então eu prefiro que os meus objetos fiquem junto ao meu corpo", revela.
Já no look, Amanda pretende não economizar: "Levarei minha bandeira e toalha de Lula, que usarei como capa, vou usar uma maquiagem dourada e vermelha, cor que também estará nas minhas unhas", antecipa. Como não irá levar bolsa, ela pretende se alimentar com as opções da praça de alimentação do evento. Em 1º de janeiro, Amanda pretende chegar à Esplanada dos Ministérios às 13h.
Lua Carolinne, 29, por sua vez, não vai investir muito no look. Um tênis confortável, short, blusa e uma bandeira de Lula serão o suficiente para a auxiliar-administrativo enfrentar a maratona da posse. "Sair de lá com maquiagem borrada? Não mesmo. Vou passar um rímel no máximo", brinca.
"Água e comida eu pretendo comprar lá, mas, talvez, eu leve um cooler com bebidas alcoólicas para o evento", diz. A moradora do Guará não teme tanto pela segurança no evento. A preocupação é maior no caminho de casa para lá. "Eu e minha amigas queremos ir de metrô, mas se tiver alguém causando tumulto na estação ou dentro dos trens, nós pediremos um carro de aplicativo", explica. De objetos pessoais, ela vai levar apenas documentos, dinheiro e cigarros.
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Vindo de longe
Quando o produtor audiovisual Leonardo Câmara, 27, e os amigos viram na televisão a virada de Lula sobre Bolsonaro na contagem dos votos no segundo turno das eleições, em Fortaleza, no Ceará, decidiram comprar as passagens aéreas naquele momento, pois estavam cerca de R$ 2 mil mais baratas do que no início da campanha do petista. Ele vai chegar na madrugada de hoje com a companheira, a irmã e mais três amigos para passar o Réveillon em Pirenópolis, de onde vão voltar de carro a Brasília para se hospedar na casa do tio da esposa.
"De lá, vamos levar capa de chuva, sacolas, mochila, roupa leve e casaco, caso esfrie à noite. A ideia é que a gente possa passar o dia lá, mas tendo momentos de descanso e pausa", comenta. Leonardo afirma que pretende chegar com os amigos por volta das 9h na Praça dos Três Poderes para ver de perto o desfile e a fala de Lula. "Também não temos a pretensão de ir lá para a frente, porque pelo tanto de gente que vai ter, será difícil e perigoso (por conta da grade de bloqueio)", adianta o cearense.
Vinda do Sudeste do país, a líder do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), de São Paulo, desde 2000, Carmen da Silva Ferreira, 62, foi convidada pela equipe do governo Lula para acompanhar a cerimônia de posse no Palácio da Alvorada. Para isso, a educadora promete ir bem vestida, com saia vermelha, blusa bege e um sapato scarpin verde. Ela conta que vai chegar às 10h, e promete estar de máscara de proteção contra a covid-19. "Estou na expectativa de chegar a esse momento, desejo de mais da metade dos brasileiros", comenta a educadora.
Carmen divide um quarto de hotel com outras três amigas, mas depois da posse deve ficar na casa de outros amigos, na Asa Norte. A militante promete curtir o Festival do Futuro, com uma amiga entre as atrações: Margareth Menezes. "É um momento de confraternização, pois tenho artistas amigos", alegra-se. Caso consiga se encontrar com Lula, ela pretende dizer que é um momento que o país precisa passar por uma gestão de estabilidade. "Tenho convicção de que o Brasil vai melhorar a médio e a longo prazo, mas com muita estratégia", conclui.
Expectativas
As duas amigas, Estella Girardin, 60, e Lane Rabelo, 59, vieram juntas de São João Del Rey (MG) para acompanhar o momento histórico na Esplanada dos Ministérios. Dois dias antes, foram passear na região onde vai ocorrer o Festival do Futuro, que também se concentra boa parte dos pontos turísticos da cidade. O Correio as encontrou em frente ao Museu Nacional. "Eu acho que vai ser muita confusão, lotado de gente. Mas a gente tem que estar aqui para comemorar a saída desse abominável presidente da República", diz Estella, ao referir-se ao presidente Jair Bolsonaro. A dentista diz não estar focada nas atrações artísticas do Festival do Futuro: "Eu vim para ver a retomada da democracia, mas o Martinho da Vila vale a pena", repensa a mineira.
"Minha atração favorita é o Lula", brinca Lane. Para ela, a expectativa para a festa é só alegria. Do novo governo, a professora da Universidade Federal de São João Del Rey (UFSJ) espera a melhoria da qualidade de vida. "Eu espero a redução da fome, melhoria de vida para quem precisa e, principalmente, o fim do ódio que tomou conta do país", deseja.
Após oito horas de voos e conexões, a família Paskuotto chegou a Brasília na quinta-feira (29/12), vindos de Porto Alegre (RS). Assim como as mineiras, Melissa Paskuotto, 45, também veio com o objetivo de ver o presidente eleito. "Espero que ele proporcione novos diálogos e novidades na economia e no meio ambiente. Temos potencial para alcançar lugares novos, onde ninguém chegou ainda. O Brasil tem uma gurizada muito inteligente e criativa", anseia a enfermeira. O marido, Vinícius, assina embaixo e quer uma festa de posse sem surpresas desagradáveis. "Uma festa popular, tranquila, sem incidentes, com muita alegria e sem violência", descreve. Os filhos Antônio, 15, e Bibiana, 11, vieram juntos para curtir o momento. A família aproveitou a tarde de sexta-feira (30/12) para dar um passeio pela Esplanada. "Nós cogitamos não ir à posse, mas, chegando aqui, vimos que está tranquilo e decidimos comparecer", revela o pai.
A defensora pública Lídia Helena da Silva, 45, e o engenheiro Willian Zimi Padilha vieram com os pequenos Enzo Luiz, 7, e Vitor Hugo, 6, cada um com um boneco de Lula, vendido pelos ambulantes da região da Catedral. "A gente tá muito feliz por deixar isso registrado na memória dos nossos filhos. Eles viveram a polarização da sociedade que refletiu na escola e a gente acabou trazendo a política para dentro de casa para lidar com essas situações", revela a mãe. Sobre o festival, Willian diz que amou a mistura de gêneros das atrações confirmadas. "É a cara do Brasil". Para a nova fase, o casal deseja que saúde, educação, vacinação e meio ambiente voltem para a pauta do governo.
Quem aproveita a maior circulação de turistas na cidade é o autônomo Paulo Anunciação Alves, 49, que veio de Cuiabá (MT), só para vender camisetas, bandeiras, faixas e boné de Lula. "As vendas estão ótimas e espero que no festival o faturamento seja ainda maior", afirma o cuiabano. Ele também tem seus anseios para o Brasil a partir de 2023: "Espero que o novo governo reduza a pobreza e gere mais empregos".
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