Nascido e criado em Taguatinga Norte, filho de mãe solo e dedicado nos estudos, Leonardo Araújo, 32 anos, não acredita em sorte e, sim, em oportunidade. Para tanto, ele buscou se preparar bem para quando a chance surgisse. Ao integrar uma equipe da exposição da nave Wave UFO no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em 2011, o mentor viu uma brecha para mostrar que sabia e podia mais. Ao ganhar espaços e romper fronteiras, conheceu o mundo unindo a tecnologia e a arte, aprendeu diversos idiomas e, atualmente, busca ir além, integrando inteligência artificial, marketing, produção de eventos e igualdade. Leonardo é o criador da startup Photos.live, a primeira formada 100% por uma equipe preta no Brasil.
Morando com a mãe e o avô em uma casa simples na Praça do DI, Leonardo destaca que, graças à matriarca, estudou em colégios particulares. "Minha mãe sempre ia pedir bolsa de estudos para mim", recorda o rapaz. Esforçado, ele entendeu cedo que tinha que ficar entre os melhores estudantes da turma ou então poderia perder a bolsa de estudos. "Por eu ser preto e mais pobre, tinha que me destacar e, se comparado com outras pessoas, eu tinha que ser melhor. Se tivesse alguém com um currículo igual ao meu, poderiam optar pela outra pessoa", avalia. "Vi isso em entrevistas, sempre tive que tentar fazer melhor e isso foi me acompanhando na vida", ressalta.
Durante o ensino médio, Leonardo entrou para a Escola Técnica de Brasília (ETB). Lá, ele começou a participar de projetos de eletrônica e software. Conseguiu destaque, ganhou prêmios e se desenvolveu profissionalmente. Para praticar os conhecimentos e ganhar um trocado, Leonardo começou a pegar computadores velhos para consertar e descobrir como solucionar os problemas. Após concluir o ensino médio, o programador entrou para engenharia de software na Universidade de Brasília (UnB), no campus do Gama. Em 2011, na metade da faculdade, foi chamado para participar da equipe da nave Wave UFO, com um trabalho simples, inicialmente. A exposição da artista japonesa Mariko Mori gerava imagens e cores através das atividades cerebrais dos visitantes que entravam no equipamento. "Fui contratado para ligar e desligar o computador por conta do que tinha aprendido na ETB, mas meu conhecimento era um pouco maior do que eles esperavam. Como eu falei, eu sempre tinha que mostrar mais e fazer melhor para ter uma chance de destacar", destaca.
Sorte e oportunidade
Leonardo conta que ouviu uma vez que a sorte não existe. "Na verdade, a preparação encontra a oportunidade", afirma. Levando essa premissa para a vida, ele se preparou ao máximo para que, quando a chance aparecesse, pudesse demonstrar o quão pronto estava. No projeto da Mariko, em Brasília, o jovem se deparou com um programador importante e observou o trabalho desenvolvido por ele. "Pedi licença e comecei a mexer nos códigos que ele estava tentando fazer para otimizar e deu certo", recorda o rapaz.
Após o feito, o desenvolvedor se perguntou quem era o jovem inteligente e, assim, Leonardo recebeu novas atribuições dentro do projeto e a proposta de acompanhar a equipe de exposição no Rio de Janeiro e em São Paulo. Trancou a faculdade e foi sem medo. "Fui ganhando cada vez mais responsabilidade e acabei virando diretor técnico da instalação", conta, orgulhoso do feito.
Com isso, Leonardo conseguiu unir duas paixões: a tecnologia e a arte. Depois dessa experiência, ele voltou para a universidade com uma cabeça diferente e pôde entrar em novos projetos, sendo um deles em parceria da faculdade com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), reconhecido mundialmente. Buscando sempre mais, o mentor da Photos.live buscou contato com uma empresa de Londres, na Inglaterra, que estava vindo para o Brasil para uma exposição de videogame. Com uma indicação para trabalhar no evento que mostrava a história da evolução dos jogos eletrônicos, a vida de Leonardo deslanchou. "Me deslumbrei e comecei a otimizar a exposição conforme eu via possíveis melhoras. Criei soluções e quando ela saiu daqui para ir para outro país, a equipe da empresa entrou em contato comigo para ir junto", explica.
Mergulhado no ambiente de realidade virtual e ganhando espaço na área, o brasiliense começou a viajar cada vez mais. Leonardo conheceu mais de 30 países, tem passaportes completos e morou em ao menos 15 deles nos últimos dez anos. Passando cerca de quatro meses em cada canto, o rapaz fala fluentemente português, espanhol, inglês e francês, além de mandarim, sueco e japonês. Único brasileiro e preto na equipe, ele deu início a trajetória internacional na carreira. Nessa época, conseguiu melhorar a condição de vida em casa com o bom salário que ganhava. Atualmente, a mãe dele está aposentada com invalidez por problemas de visão. Ela trabalhou como agente de saúde e se desdobrava para sustentar a casa e dar conforto ao filho.
Futuro
Leonardo se dedica atualmente ao aprimoramento da Photos.live, a startup de inteligência artificial formada por pretos. Unindo tecnologia com estratégias de marketing, o produto permite que fotos feitas em eventos sejam encontradas de forma rápida pelo aplicativo trazendo engajamento, além de possibilitar a geração de dados relativos ao público, em tempo real, como se as pessoas estão de óculos ou de máscara, se são idosos ou mais jovens, quais logomarcas estão usando e consumindo.
A ideia surgiu quando Leonardo ainda morava na China. "Lá, observei que as pessoas dentro do evento da exposição em que eu estava trabalhando tiravam fotos com fotógrafos e iam para um aplicativo muito rápido e já editadas com todos tendo acesso. Então, quem estava de fora, já conseguia ver como estava o evento e queria entrar", relembra. "Trabalhei ao redor do mundo todo em exposições e via que as produtoras divulgavam apenas 10% das fotos que eram tiradas", destaca ele, que voltou para o Brasil e se associou com amigos de faculdade para aprimorar o projeto. Segundo o desenvolvedor, existe um racismo no algoritmo que identifica os rostos, por conta dos tons de pele inseridos nessa tecnologia. "Quem constrói a inteligência artificial são cientistas brancos em quase 100% das vezes e eles usam uma base de dados pouco diversa. Por isso que não têm a detecção de pessoas negras e eu decidi tentar solucionar isso", ressalta.
De forma anônima, o programa identifica mais de três mil objetos nas fotos, conseguindo gerar dados relevantes para os produtores. "Se em um evento 40% das pessoas estão de óculos, isso é uma informação interessante para uma ótica patrocinar um evento. Assim como saber o que essas pessoas estão vestindo, bebendo, consumindo", comenta.
Lançada no mercado há poucos meses, após quase dois anos de muito estudo e preparação, o trabalho já ganhou forças ao integrar festivais importantes. O objetivo agora é expandir para outros países e dentro do Brasil, além de aprimorar ainda mais a tecnologia da startup. "Estamos continuamente tentando desenvolver melhorias e criar soluções para diminuir esse viés da identificação da cor na inteligência artificial, porque a população preta é a que mais sofre com as consequências disso. Estamos trabalhando na equidade e na inclusão", conclui Leonardo.
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