Crônica

Crônica da cidade: A maternidade, o vestibular e a Copa do Mundo

"Olhar para o futuro é um exercício de sobrevivência, mas também capaz de causar profunda angústia quando se é mãe"

Olhar para o futuro é um exercício de sobrevivência, mas também capaz de causar profunda angústia quando se é mãe. Temos que rezar e torcer para que aqueles momentos mais difíceis passem sem deixar rastros — da birra que dura cinco intermináveis minutos no meio da rua à doença que castiga em madrugadas mal-dormidas. Ao mesmo tempo, mora no peito a vontade genuína de congelar o tempo nos mais belos afagos e gestos de carinho.

Uma amiga levou o filho, na última semana, até a Universidade de Brasília, para prestar a prova da primeira etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS). O nervosismo reinava na casa nos dias que antecederam ao teste. Tudo ficou planejado para evitar problemas de última hora. O trajeto, percorrido um dia antes, para conhecer o exato local e não se perder às 7h do sábado seguinte.

Quando finalmente o rapaz estava entregue, são e salvo, no local correto e mandou por mensagem o aviso: "Encontrei a minha sala", um misto de alívio e de emoção tomou conta, por ver o menino que poucos anos antes havia carregado nos braços se preparando para uma nova etapa na vida. Derramou-se em lágrimas e entregou-se ao sentimento que toda mãe inevitavelmente encara em algum momento.

Misturando alhos com bugalhos, como se diz por aí, no meio da conversa sobre filhos e maternidade, percebemos o quanto a Copa do Mundo marca essas relações afetivas e temporais. Temos uma geração inteira de brasileiros que nunca viu a Seleção levantar a taça, apesar de carregar no peito, com orgulho, as cinco estrelas dos mundiais conquistados até 2002.

Não são mais crianças ou adolescentes, mas, sim, jovens adultos que a cada quatro anos vivem a angústia — ou desdenham, por que não — de acompanhar vitórias e derrotas de um time que representa um dos símbolos mais fortes da nação inteira.

Não se pode negar que a final deste domingo foi eletrizante, e certamente ambos os times mereceram estar ali. É com esta energia que todos queremos ver o Brasil em campo, flamulando a bandeira e vestindo com a camisa verde-amarela. É esta energia que desejamos que nossos filhos sintam um dia.

E, apesar de termos passado da fase de chorarmos com os resultados dos jogos de futebol, é possível que, nesse dia, mais uma vez o sentimento venha e a vitória seja acompanhada de um rio de lágrimas.

 

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